O Fundo Brasil de Direitos Humanos divulga, nesta sexta-feira (28), a lista de grupos, coletivos e organizações selecionadas para receber apoio no edital Enfrentando o Racismo a partir da Base – 2024.
Inicialmente, o edital foi anunciado para apoiar 25 projetos de defesa dos direitos das pessoas negras. Contudo, em razão da captação de novos recursos, após o lançamento do edital, foi possível ampliar o apoio para indicar outras quatro iniciativas que também serão contempladas.
Ao todo, R$1,5 milhão serão doados para 29 propostas, de 19 Estados brasileiros.
Os recursos são de natureza flexível, ou seja, podem ser destinados ao que a organização considerar como prioridade: atividades de mobilização, condições materiais para a continuidade do trabalho de enfrentamento ao racismo que o grupo já realiza e outras demandas.
O formato foi pensado como uma resposta às necessidades urgentes que muitas organizações vivenciam em meio à crise econômica e social dos últimos anos no país.
O edital foi viabilizado pelo Fundo Brasil com apoios da Fundação Ford e da Warner/Blavatinik Social Justice Fund.
Confira a lista dos apoiados:
Organizações | Estados | Regiões |
Associação das Tradições Culturais e Sociais Afro-Brasileiras e Ameríndias do Estado de Goiás – ATRACAR | GO | Centro-Oeste |
Coletivo Mães pela Paz | GO | Centro-Oeste |
Grupo Mulheres Negras Malungas | GO | Centro-Oeste |
Instituto Baquité Quilombola – IBQ | MT | Centro-Oeste |
Associação Comunitária Quilombola Camucim | RN | Nordeste |
Associação da Cultura Religiosa Afro-Brasileira de Caxias | MA | Nordeste |
Associação Remanescente dos Quilombolas da Comunidade Sustentável de Paramirim das Crioulas | BA | Nordeste |
Associação de Prostitutas do Piauí | PI | Nordeste |
Ayomidê Yalodê Coletivo de Mulheres Negras | BA | Nordeste |
Coletivo Cultural Caiana dos Crioulos | PB | Nordeste |
Coletivo Dan Eji | MA | Nordeste |
Coletivo de Assessorias Cirandas | RN | Nordeste |
Coletivo Grupo África Nordestina | CE | Nordeste |
Ilê Asé Aganju Aséobá | PE | Nordeste |
Instituto Cultural Folclórico Religioso e Beneficente Nossa Senhora da Vitória | MA | Nordeste |
Rádio e TV Quilombo | MA | Nordeste |
Rede de Mulheres Negras de Sergipe | SE | Nordeste |
Yalodês – Rede de Advogadas Negras | BA | Nordeste |
Associação de moradores, agricultores, ribeirinhos e quilombolas da comunidade Igarapé Marupaúba | PA | Norte |
Centro de Direitos Humanos Araguaína | TO | Norte |
Fórum de Juventude Negra do Amazonas – FOJUNE | AM | Norte |
Organização das Mulheres Negras de Thaumaturgo | AC | Norte |
Associação Quilombola Namastê | MG | Sudeste |
Coletiva Raízes do Baobá Negras e Negros Jaú | SP | Sudeste |
Coletiva Resistência Lésbica da Maré | RJ | Sudeste |
Associação Comunitária do Quilombo da Família Flores | RS | Sul |
Defesa Periférica | RS | Sul |
Desterro – Observatório da Violência de Florianópolis | SC | Sul |
Instituto Caminho – Raça e Acesso à Justiça | RS | Sul |
Agenda urgente para combate ao racismo
Durante o período de inscrições, o edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base recebeu 405 propostas. Os conteúdos dos formulários de inscrição, vindos de grupos de base de todo o país, permitiram ao Comitê de Seleção elaborar uma leitura da situação das organizações negras e da própria população negra brasileira.
“Foi muito difícil fazer a seleção, porque vimos muitas causas emergenciais, dentro do enfrentamento ao racismo. Priorizamos grupos, que trazem impactos para seus territórios e impulsionam as populações negras na busca por direitos. Que possamos apoiá-los cada vez mais”, disse Maryellen Crisostomo de Almeida, integrante do Comitê de Seleção do edital.
Os apontamentos dos grupos mostram a necessidade urgente de políticas afirmativas, em diferentes campos (institucional, estrutural, interno, ambiental, religioso, cultural), na busca por igualdade racial no Brasil.
“Para a seleção deste edital, nós colocamos algumas temáticas como prioritárias e isso tem a ver com o nosso trabalho de escuta, feito junto aos grupos, que diariamente buscam soluções para fortalecer a luta antirracista”, disse Mayana Nunes, assessora de projetos do Fundo Brasil.
Defesa dos direitos de mulheres e pessoas LGBTQIA+ negras, casas e terreiros de matriz africana, comunidades e lideranças quilombolas e combate ao genocídio da juventude negra estão entre os temas prioritários para apoio.
“Precisamos fortalecer os terreiros, incentivar as juventudes negras, enfrentar o racismo ambiental e informar mulheres negras, quilombolas e LBTs sobre seus direitos e o combate às desigualdades. Este apoio é muito potente para essas organizações para que esses grupos tenham recursos e sejam fortalecidas para agir de forma estratégica contra o racismo”, reforçou Nina Fola, do Comitê de Seleção.
Maryellen Crisostomo de Almeida é quilombola, do território Baião, no Sudeste do Tocantins, coordenadora executiva da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Estado do Tocantins. Nina Fola é socióloga, mestra e doutoranda em Sociologia pela UFRGS. Além delas, participaram do comitê que analisou os projetos: Stephanie Lima, feminista negra, lésbica e ekedji do Ilê Omiojuarô, integrante da Articulação de Jovens Negras Feministas; e Jorge Serejo, mestre em Direito e Instituições do Sistema de Justiça, professor do departamento de Direito da UFMA.
O processo de seleção
Os editais do Fundo Brasil seguem uma metodologia de seleção que prioriza o olhar de ativistas com atuações relevantes nas diversas pautas dos direitos humanos.
A primeira fase de seleção é uma triagem que verifica a adequação de cada proposta aos focos do edital.
Em seguida, o Fundo Brasil convida um Comitê de Seleção externo e independente. É este comitê que prepara uma lista de projetos recomendados para apoio. A validação final é da Diretoria Executiva do Fundo Brasil.
Nos próximos dias, os grupos selecionados receberão e-mails da equipe do Fundo Brasil, no endereço indicado no formulário de inscrição, com direcionamento para os próximos passos para a formalização do apoio.