O artista Victor di Marco muitas vezes ouviu de sua mãe que nasceu “morto” e não chorou. “Um corpo que não chorou e não se movia. É muito louco que hoje o meu corpo faz em excesso o que ele não fez ao nascer”, reflete o cineasta, ator e escritor de 24 anos.
Do desejo de se tornar protagonista de sua própria história nasceu “O que pode um corpo” (2020), premiado como melhor curta na Mostra Provocações, durante o 9º Curta Brasília – Festival Internacional de Curta-Metragem. A Mostra Provocações é apoiada pelo Fundo Brasil, dentro da missão da fundação de sensibilizar a sociedade brasileira para a necessidade de promover e garantir direitos fundamentais de todas e todos.
Esta foi a quarta edição da parceria entre o Fundo Brasil e o Curta Brasília, e a primeira inteiramente online.
“Por sua própria natureza, o Festival Curta Brasília atrai um público interessado em dialogar e transformar a sociedade em que vivemos. São pessoas que reconhecem em si mesmas, assim como na arte, esse potencial de transformação”, disse Débora Borges, gerente de Relacionamento com a Sociedade do Fundo Brasil.
Antes de cada um dos quatro filmes concorrentes na Mostra Provocações foi exibido um curto vídeo que apresenta o Fundo Brasil para os espectadores do festival. “Esse vídeo foi pensado para oferecer uma possibilidade concreta para essa conexão ocorrer, porque sabemos que esse público está aflito com a situação do país e quer ser parte da solução dos problemas”, completou Débora Borges.
Na votação, a equipe do Fundo Brasil considerou os critérios: abordagem pertinente à defesa e/ou promoção dos direitos humanos; criatividade e originalidade; e qualidade técnica e de roteiro e fotografia. Os outros curtas que concorreram na Mostra Provocações foram: Cinema contemporâneo (Felipe André Silva, 2019); Eu vejo névoas coloridas (Pedro Jorge, 2020); e Terceiro dia (Jéssica Queiroz, 2020).
O que pode um corpo?
Baseado em Porto Alegre, o cineasta Victor di Marco é uma voz relevante nas redes sociais com vídeos e postagens sobre capacitismo (discriminação contra pessoas com deficiência) e também sobre arte. Alguns de seus vídeos ultrapassam os 250 mil acessos.
O filme O que pode um corpo?, lançado neste 2020, finalizado durante a pandemia e dirigido por ele e pelo também cineasta Márcio Picoli, aborda a experiência de ser um artista e uma pessoa com deficiência, a trajetória de enfrentamento ao preconceito e a busca pela auto-aceitação.
Assista ao trailer de O que pode um corpo?
O corpo de Victor é transformado em tela, e a luz, em pinturas, nesta narrativa que começa relatando o nascimento do artista, se passa toda entre closes de seus braços, mãos, tronco, ombros e rosto, e aborda as camadas de discriminação que pesam sobre a pessoa com deficiência que é também, no caso dele, um homem gay. Uma performance de tocante expressividade e beleza, e com alto poder de sensibilização.