Morador de Açailândia, no Maranhão, o fotógrafo Mikaell Carvalho, 28 anos, trabalha na Rede Justiça nos Trilhos/Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale, organização que atua em comunidades impactadas pelo Projeto Carajás. É uma atuação que treinou o olhar dele para o registro das causas sociais. Há três anos ele retrata questões ligadas à defesa dos direitos humanos.
Com esse olhar, Mikaell registrou o ritual “Festa da Menina Moça”, realizado na Terra Indígena Rio Pindaré. A imagem venceu o Prêmio Fotográfico “2018 com todos os direitos”, realizado pelo Fundo Brasil em parceria com a Fundação Tide Setubal.
Na entrevista a seguir, o fotógrafo conta um pouco de sua história:
Em que circunstância foi feita a foto vencedora do concurso fotográfico do Fundo Brasil?
A fotografia foi feita durante o ritual chamado “Festa da Menina Moça”, realizado na aldeia Piçarra Preta, pelos indígenas Guajajara, da Terra Indígena Rio Pindaré, que ocorreu entre os dias 21 e 23 de setembro.
O ritual é feito quando as jovens e os jovens entram na puberdade. A foto retrata uma jovem que estava passando pelo ritual. Foi um momento em que a jovem indígena contemplava as palavras ditas por um dos pajés, foi bem rápido, tive a sorte de estar atento.
Você pode explicar como é esse ritual?
O ritual todo é bem simbólico e cheio de energia. Começou na noite de sexta-feira com um ensaio de cantoria. Os jovens que passam pelo ritual só aparecem no segundo dia, bem cedo. Eles têm os corpos pintados com jenipapo e, no decorrer do dia, os familiares vão acrescentando objetos como colares, saias, lança, entre outros elementos que representam a cultura da aldeia. O ritual dura até domingo, às 9h.
Foi a primeira vez que você assistiu ao ritual?
Sim, foi a primeira vez em uma aldeia e, consequentemente, a primeira vez que vi o ritual. Eu estava encantado com tudo que estava rolando na minha frente. Tinha momentos em que eu entrava em transe com os cantos entoados pelos anciões durante o ritual e até esquecia de fotografar. Foi uma experiência enriquecedora, espiritualmente falando. Agradeço ao Justiça nos Trilhos por dar a possibilidade de trabalhos como esse, que nos mantém próximos às pessoas, suas culturas e nos ajudam a evoluir como ser humano.
O foco do seu trabalho são as imagens de causas sociais?
Eu trabalho na Justiça nos Trilhos, que atua em comunidades em defesa dos direitos de comunidades impactadas pelo grande Projeto Carajás. Então, meus registros são nessa temática social. Já fiz ensaios fotográficos também, mas gosto bem mais dos registros sociais, de mostrar a vida cotidiana e cultural de nosso povo.
Como foi participar do Prêmio Fotográfico “2018 com todos os direitos”?
Estou muito feliz com tudo. O concurso deu visibilidade ao meu trabalho. E o prêmio ajudará muito. Estou feliz em dobro. Eita alegria!
Veja novamente a foto premiada