A força para lutar pelos direitos e pela vida de mulheres negras está nas ações e na essência do nome da Bamidelê. A organização não governamental foi fundada em 2001, a partir do encontro de diferentes mulheres negras com atuações em diversos campos da sociedade, desde grupos comunitários à universidade, com inserção em diferentes movimentos sociais. E, por isso, precisava de denominação capaz de descrever os anseios que elas carregavam.
O nome Bamidelê (bah/mih/deh/leh) tem ancestralidade africana e significa Esperança, aproximando-se do significado de Esperançar. “Isso para essas mulheres tem um significado ainda maior. Quer dizer levantar-se, ir atrás, construir e não desistir. O nome foi escolhido por transmitir o espírito dessas mulheres ativistas que estão sempre em movimento, buscando novas conquistas”, explica Terlúcia Silva, coordenadora de projetos da Bamidelê – Organização de Mulheres Negras na Paraíba.
Em 20 anos de existência, a organização atua em diferentes campos para combater o preconceito racial e de gênero. Desde sua fundação, conta com o apoio do Fundo Brasil para suas ações de garantia dos direitos das mulheres negras, à exemplo do apoio no edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base: Fortalecimento Institucional e Mobilização Para Defesa de Direitos, que foi feito para fortalecer movimentos que atuem pela equidade e justiça racial.
O trabalho formativo e educativo, realizado pela organização, focado na questão da afirmação da identidade negra se caracteriza como um dos campos de destaque de seu trabalho, como cursos, palestras, campanhas, oficinas, feiras de saúde, capacitações, rodas de diálogos, seminários e produção de material didático com foco nas temáticas de saúde (sexual, reprodutiva e da população negra), educação, direitos sexuais, direitos humanos e ações afirmativas por todo o território do estado da Paraíba.
“Não abrimos mão desse enfoque, porque acreditamos que uma pessoa é capaz de ir longe quando entende quem ela é. A partir das descobertas é possível dar passos significativos”, explica a coordenadora.
Suas ações têm como público participante mulheres negras, jovens e adolescentes de comunidades, movimentos e escolas das zonas urbana e rural da Paraíba, com destaque para a comunidade remanescente do Quilombo Caiana dos Crioulos, em Alagoa Grande/PB.
Nas Comunidades Quilombolas
A Organização de Mulheres Negras de Caiana (OMNC) está localizada na comunidade quilombola de Alagoa Grande, na Paraíba. O trabalho realizado pelo grupo é voltado para o empoderamento das mulheres negras, desconstrução do racismo e o cuidado com a saúde desta população. Para conseguir colocar em prática essas diferentes ações, elas receberam cursos e formações da Bamidelê. Segundo Luciene Tavares, membro da OMNC, essa representatividade vinda de João Pessoa ajudou as mulheres quilombolas a se enxergarem com mais valor.
“Eu vi mulheres, algumas até de idade, falarem que perderam o medo de se posicionar, de dizerem o que sentem, independente do lugar em que estejam. Elas estão com a autoestima renovada e com uma força para realizar muito mais por elas e por suas filhas, as mulheres de sua comunidade”, nos conta Terlúcia.
Luciene também acredita que a Bamidelê “ajuda as mulheres a criarem mecanismo de apoio entre nós mesmos. Estamos mais unidos em comunidade, pensando em problemas que nos atingem e como podemos resolvê-los juntos. Mas sempre acreditando que podemos mais”.
Bamidelê no combate à violência contra mulher
Já na comunidade de Marcos Moura, na cidade de Santa Rita, o apoio da Bamidelê ao Grupo de Mulheres Negras Marcos Moura veio para levar informação após os altos índices de violência contra a mulher na região.
“A gente formou grupo informal com 40 mulheres para oferecer apoio psicológico, de advogados (em alguns casos), assistência social e de acompanhamento nas audiências do Fórum para que não se sintam desamparadas e possam recomeçar suas vidas. A gente mostrou a elas onde buscar o seu direito, como lutar por eles e como se libertar da violência” explica Verônica Lopes, integrante do grupo de mulheres, que também precisou de apoio para superar as violências enfrentadas em um relacionamento passado.
“Eu fui uma das mulheres que precisou de amparo e não sabia por onde começar e a quem recorrer. Eu sofria violências e ameaças do meu ex-marido. Mas consegui superar essa situação e reconstruir minha vida e é isso o que queremos para as outras mulheres”, desabafa Verônica.
Bamidelê no enfrentamento à pandemia
Considerando que a situação das mulheres negras e quilombolas sempre foram precárias, a pandemia evidencia a ausência dos poderes públicos junto a essas comunidades e populações.
De acordo com relatos de Terlúcia, na Paraíba, as mulheres negras têm sido bastante impactadas. Muitas mulheres já enfrentavam, no campo do trabalho, a informalidade e muitas delas perderam trabalho nesse período. “As dificuldades impostas pela pandemia vão desde a falta dos instrumentos básicos de proteção ao coronavírus, chegando à falta de alimentação. Há muita fome nas comunidades. Falta de trabalho e acesso a serviços de saúde”, descreve a ativista.
Parte do apoio disponibilizado pelo Fundo Brasil para Bamidelê – Organização de Mulheres Negras na Paraíba foi para atender a emergência dessas mulheres e suas famílias. Elas compraram itens como alimentos para compor a cesta básica, álcool em gel e produtos de higiene pessoal.
“O apoio do Fundo Brasil tem sido essencial para a manutenção da nossa organização. Já tivemos alguns projetos apoiados pelo Fundo, mas para além dos projetos, nós temos em vocês um apoiador histórico da nossa atuação política. Em muitos momentos desses 20 anos de experiência pudemos contar com vocês. Toda a luta empreendida, todas as conquistas dessa trajetória, a Bamidelê deve também a essa parceria com o Fundo Brasil, que sempre confiou no potencial de nossa organização”, finaliza Terlúcia Silva.