O Fundo Brasil divulga nesta terça-feira, 6 de setembro, a lista de organizações selecionadas para receber apoio no edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base 2022.
Os 22 grupos selecionados são de 15 estados brasileiros, e receberão até R$ 50 mil cada. Os recursos são de natureza flexível, o que significa que podem ser usados da forma como o grupo proponente considerar adequado para garantir a sustentabilidade de suas atividades de promoção e defesa de direitos humanos dentro da pauta do enfrentamento ao racismo.
O edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base 2022 foi viabilizado com o apoio da Warner/Blavatnik Social Justice Fund.
Veja a lista dos grupos selecionados:
ORGANIZAÇÃO | ESTADO | REGIÃO |
ATRACAR – Associação das Tradições Culturais e Sociais Afro-brsileiras e Ameríndias do Estado de Goiás | GO | Centro-Oeste |
Coletivo Pretinhas | GO | Centro-Oeste |
Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado | GO | Centro-Oeste |
Instituto Afropoder | DF | Centro-Oeste |
ANFA – Associação Negros Feliciano do Alto | RN | Nordeste |
Associação Remanescente de Quilombo Serra dos Mulatos | CE | Nordeste |
Centro Social e Tenda Umbanda Caboclo Flecheiro | PE | Nordeste |
Coletivo de Assessoria Cirandas | RN | Nordeste |
Coletivo Iya Akobiode | BA | Nordeste |
Frente Estadual pelo Desencarceramento da Bahia | BA | Nordeste |
Frente Sergipana pelo Desencarceramento | SE | Nordeste |
Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu | BA | Nordeste |
Rede de Mulheres Negras do Ceará | CE | Nordeste |
ALAGBARA – Articulação de Mulheres Negras e Quilombolas no Tocantins | TO | Norte |
Desinterna Minas Gerais! | MG | Sudeste |
Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras do Vale do Ribeira SP/PR | SP | Sudeste |
Fórum Estadual de Juventude Negra do ES | ES | Sudeste |
Grupo Conexão G | RJ | Sudeste |
Instituto Casa das Pretas | RJ | Sudeste |
Kilombo Manzo | MG | Sudeste |
Associação Comunitária Quilombola dos Teixeiras | RS | Sul |
Movimento Negro Unificado de Santa Catarina | SC | Sul |
Nos próximos dias, os grupos selecionados receberão e-mails da equipe do Fundo Brasil, no endereço indicado no formulário de inscrição, explicando os próximos passos para a formalização do apoio.
Estratégias de luta
Durante o período de inscrições, o edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base recebeu 280 propostas. Os conteúdos apontados pelas organizações nas descrições dos formulários mostraram a necessidade de um olhar amplo para as diferentes pautas que envolvem o enfrentamento ao racismo.
“Para a seleção deste edital, nós colocamos algumas temáticas como prioritárias e isso tem a ver com o nosso trabalho de escuta feito junto ao campo dos direitos humanos”, disse Allyne Andrade, superintendente adjunta do Fundo Brasil.
Quatro temáticas foram colocadas como prioritárias (mas não exclusivas), no edital: defesa dos direitos das mulheres negras e da população negra LGBTQIA+; enfrentamento da violência contra a população negra e periférica e da seletividade racial do sistema de justiça criminal; defesa dos direitos à terra e território de populações quilombolas; defesa de direitos das religiões de matriz africana e combate à intolerância religiosa.
“O Fundo Brasil tem crescido muito e tem ocupado um papel importantíssimo e estratégico nesse país. Para lutar contra o fundamentalismo que se instaurou, a gente precisa usar diferentes ângulos e esses ângulos escolhidos pelo edital são estratégicos”, afirmou Mônica Oliveira, educadora, comunicadora e militante feminista, que integrou o Comitê de Seleção do edital.
Além da Mônica, o Comitê de Seleção externo foi formado por Andrey Lemos, historiador e mestre em políticas públicas; Fernanda Oliveira, doutora em história e membro da Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros; e Felipe Brito, Baba Egbe do Ile Ode Maroketu Asè Oba, idealizador e diretor da Ocupação Cultural Jeholu e mestre em políticas públicas.
“Eu tenho a defesa das religiões de matriz africana e o racismo religioso como temas fundamentais para mim. Está acontecendo um movimento de expulsão e de não permanência dessas pessoas em seus territórios sagrados. Então é importante que a gente tenha esse olhar, de que as comunidades de matriz africana são locais de promoção de política antirracista. Muito dos nossos movimentos negros se iniciaram dentro dos terreiros. Então nós precisamos de um olhar muito especial para esse processo.”, ressaltou Felipe Brito.
Entenda o processo de seleção
Os editais do Fundo Brasil seguem uma metodologia de seleção que prioriza o olhar de ativistas com atuações relevantes nas diversas pautas dos direitos humanos.
A primeira fase de seleção é uma triagem, que verifica a adequação de cada proposta aos termos do edital.
Em seguida, o Fundo Brasil convida um Comitê de Seleção externo e independente, que prepara uma lista de projetos recomendados para apoio. A lista é apresentada, então, ao Conselho de Administração do Fundo Brasil, que tem a a palavra final.
“A diversidade de temática dentro da pauta de enfrentamento ao racismo é extremamente positiva nesta seleção do Fundo Brasil. Essas indicações feitas pelo comitê reforçam o fato de que a gente precisa ampliar as narrativas. Dentro de um enfrentamento complexo e difícil como é o racismo. Mesmo que o tema central seja racismo, ele tem uma variedade muito grande de especificidades que precisam da nossa atenção”, afirma Janiele Paula, conselheira do Fundo Brasil.
O edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base foi lançado no dia 24 de maio, em um debate presencial na Aparelha Luzia, centro cultural na região central da capital paulista.
Ao lado da equipe do Fundo Brasil, artistas, coletivos parceiros, instituições apoiadoras e pessoas que se destacam na luta antirracista no país debateram sobre as perspectivas e oportunidades atuais para fazer avançar a busca por equidade, em um contexto de ataques que ameaçam a vida da população negra.
Participaram da roda de conversa a jornalista, professora e idealizadora da Escola Online Longa, Rosane Borges; a ativista por moradia, multiartista e escritora Preta Ferreira; a coordenadora da Iniciativa Negra Por uma Nova Política de Drogas, Nathália Oliveira; e o idealizador e diretor da Ocupação Cultural Jeholu, Felipe Brito. Mayana Nunes, assessora de Projetos do Fundo Brasil responsável pelo edital Enfrentando o Racismo, mediou a conversa.