Desenvolver estratégias de comunicação e construir novos caminhos para a justiça social. Essa foi a proposta da 3ª Oficina de Redes, que reuniu, entre os dias 2 e 4 de setembro, em São Paulo, lideranças de movimentos sociais de todas as regiões do país. A iniciativa faz parte do projeto “Fortalecendo o protagonismo de redes e articulações na promoção de direitos humanos no Brasil”, realizado pelo Fundo Brasil, com o patrocínio da Petrobras.
O projeto redes é composto por ativistas que atuam em temas como o enfrentamento ao genocídio da juventude negra, à violência contra as mulheres e a população LGBT, a proteção de defensores(as) de direitos humanos ameaçados(as) de morte, a defesa do direito à terra e ao território (comunidades quilombolas e povos indígenas) e promoção do direito à cidade (impacto adversos das realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 no Brasil).
Nessa 3ª edição, o tema foi “Produção de Conteúdos: técnicas e práticas” e aprofundou os conhecimentos nos métodos de elaboração de conteúdos e nas estratégias para difundir as informações de cada rede. Os(as) participantes realizaram diversas atividades e dinâmicas, partilhando suas experiências, discutindo a produção de textos, formas de construir metodologias, mapear público alvo e de adequar meio e mensagem para uma comunicação bem sucedida.
“A metodologia que usamos foi a de trabalhar na prática a escrita e facilitar sua produção por ativistas de movimentos sociais que já atuam nessa área”, conta a educadora Bianca Santana, professora do curso de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, que ministrou dois dias de oficina. “É um público heterogêneo e cada pessoa produz um determinado texto. Com a educação popular – que parte do que as pessoas já fazem e sabem para compartilhar conhecimentos – trabalhamos com teoria e prática, pois quando se fica somente na reflexão não se sai com muitas conclusões concretas e objetivas, ficando difícil projetar algo para o dia a dia dessas redes”.
A oficina também contou com a presença do jornalista Gilberto Nascimento, colunista do jornal Brasil Econômico, que dialogou com os(as) participantes sobre a estrutura de funcionamento da grande mídia e a possibilidade de abertura dos meios de comunicação para pautas sociais. O jornalista defendeu que a grande mídia não vai “sorrir” para as bandeiras da população e dos movimentos, sendo necessário, portanto, “ocupar” esses espaços para divulgar propostas e reivindicações. No entanto, ressaltou a necessidade de construir alternativas à imprensa tradicional. “A grande mídia tem força, mas não é a única voz. As correlações de forças mudam e a maneira de fazer jornalismo também. Temos, cada vez mais, facilidade para criar nossos espaços de comunicação”, disse ele.
Daniela Luciana da Silva, da Associação de Mulheres Brasileiras (AMB), veio de Brasília para participar da oficina. Integrante do coletivo Pretas Candangas, ela acredita que ações como essa são importantes para potencializar interações entre os movimentos sociais. “O trabalho em redes permite que diversas organizações, mesmo com objetivos também diversos, possam interagir, já que estamos em estados diferentes do país (…) Assim, articulamos nossos discursos internos, o que todos(as) podemos dizer juntos(as), criando uma narrativa comum para a sociedade, que também é diversa”.
Adalmir José da Silva, morador da comunidade quilombola Conceição das Criolas, que fica no município de Salgueiro, em Pernambuco, também acredita no poder articulador da comunicação. “Por meio da divulgação de nossas ações, conseguimos estabelecer melhores relações com as outras comunidades quilombolas, estreitamos os laços com os movimentos sociais e fazemos com que a nossa história seja visualizada pelas pessoas”.
A educadora Bianca também avalia essa necessidade de ampliar o alcance das redes. “Um dos principais objetivos ao comunicar é dialogar com uma ampla parcela da sociedade”, analisa Bianca. “Hoje, essa é uma área que melhorou muito dentro dos movimentos. Mas, ainda sim, há um grande desafio: atingir um público maior”.
Conjuntura
A oficina contou também com um debate sobre a conjuntura política e econômica brasileira. “A análise de conjuntura é importante para dialogarmos com as demandas e a atuação das próprias redes por meio de uma visão política em que podemos refletir sobre qual o ambiente em que se darão suas ações de comunicação e sobre quais as perspectivas para o Brasil neste momento”, destacou a coordenadora executiva do Fundo, Ana Valéria Araújo. Participaram desse debate com as redes, a coordenadora da organização Criola, Lúcia Xavier, e o diretor presidente do Fundo Brasil de Direitos Humanos, Sérgio Haddad.