A criatividade no uso da palha de milho tem sido, ao longo da história, o principal meio de sobrevivência para os artesãos da cidade de Salitre, a 27 km de Fortaleza, capital do Ceará.
O artesanato resiste ao tempo, mas a falta de interesse dos mais jovens em manter a tradição preocupava Patrício José de Souza e outros moradores da zona rural de Sítio do Pau Darco, que enxergam nessa arte uma forma de lutar por melhores condições de vida e pelos direitos da população jovem da região – em geral, empobrecida.
“A gente sabe que a vida no sertão não é fácil”, diz Patrício. “Não temos muitas opções de emprego e falta incentivo do Estado. Somos invisíveis aqui. Mas devemos aproveitar os recursos que temos para buscar desenvolvimento e lutar. Não podemos abandonar o que temos. A palha do milho é o nosso bem maior.”
Por isso, na Associação Jovens para o Futuros (AJF), eles criaram um projeto para incentivar o aprendizado das técnicas do artesanato, como forma de renda e de trabalho e para prepará-los para o exercício da cidadania na busca por seus direitos.
Empreendedorismo e cidadania
O projeto intitulado Jovens Artesãos – Exigibilidade de direitos para a população pobre, rural, negra, juvenil e artesã de Salitre, recebe apoio do Fundo Brasil no edital Resistência e tem realizado encontros e capacitações para o fortalecimento da arte feita à mão, mostrando que o artesanato colabora com o desenvolvimento da comunidade e com o resgate de suas tradições.
Essa é uma maneira também de levar aos jovens uma perspectiva de futuro para que permaneçam no campo.
“A gente precisa usar toda a energia e a vontade da nossa mocidade para defender o nosso território. Precisamos usar a inspiração, a criatividade e a história das nossas famílias para buscar o desenvolvimento da nossa área rural. E mostrar para as autoridades o quanto podemos contribuir para a economia, política e o bem viver daqui”, ressalta Jaedson Souza, coordenador da AJF.
O apoio do Fundo Brasil neste edital tem como objetivo promover os direitos das juventudes e sensibilizar a sociedade para apoiar iniciativas capazes de gerar novos caminhos e mudanças significativas para o país.
O projeto dos jovens já realizou oficinas de produção artesanal com palha de milho, como a confecção de bolsas, cestos, chapéus, tapetes; promoveu debates sobre direitos humanos e direitos sociais rurais e se organiza para levantar as principais demandas apontadas pelos jovens sobre as condições de vida em Salitre.
“Nosso objetivo é ouvir os jovens e fazer com que eles se sintam atendidos em suas necessidades. Queremos mostrar para eles quais caminhos podemos seguir juntos para garantir os seus direitos. Depois, vamos elaborar um relatório e levar suas demandas para os órgãos responsáveis”, nos conta o Jaedson.
A Associação Jovens para o Futuro
A Associação Jovens para o Futuro foi fundada em 26 de janeiro de 2014 para representar os interesses coletivos da comunidade em Sítio do Pau Darco. Tem como objetivo garantir a geração de renda familiar e incentivar a permanência dos jovens rurais no campo. Possui atualmente 45 integrantes, sendo que a metade são artesãos.
Com o apoio do Fundo Brasil, a organização também conseguiu estruturar o espaço físico da sede. “A gente precisou de cadeiras, mesas, computador e outros materiais de escritórios. A gente conseguiu comprar esses itens e já estamos nos organizando para receber os participantes. O Fundo Brasil foi muito importante para conseguirmos montar o nosso lugar, porque ainda não tínhamos nada”, enfatiza o coordenador da AJF.
Uma das primeiras conquistas da organização surgiu em setembro de 2015. O grupo conseguiu a implementação de política de acesso à água com a perfuração de três poços d’água na região do Sítio do Pau Darco.
“A gente sofre muito com a seca por aqui e a água é o principal bem para o nosso povo sertanejo. O acesso a ela é uma das principais garantias de saúde, de produção e de sobrevivência comunitários”, diz Jaedson de Souza.
Das 184 cidades do Ceará, Salitre é a que tem o pior índice de desenvolvimento. Segundo dados do IBGE, sua população é de 16.714 e tem como principal atividade econômica a mandiocultura. A agricultura familiar é destaque com o plantio de milho e feijão. Mas, nos últimos anos, essa prática está ameaçada na região com a redução de recursos previstos para políticas de acesso à água, à assistência técnica de extensão rural, à transferência de renda e de combate à pobreza.
“É para fortalecer essas famílias e para lutar pelas políticas de agricultura familiar, que tem desaparecido no governo atual, que nós existimos”, finaliza Patrício de Souza.