O número de mortes de pessoas indígenas brasileiras por Covid-19 passou de 500. De acordo com as informações do Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena, que faz a contagem independente dos órgãos oficiais de saúde do país como uma forma de combater a subnotificação, este número foi registrado 16 semanas após o primeiro caso confirmado da doença, uma jovem do povo Kokama do Alto Solimões, no Estado do Amazonas, em 25 de março.
São, no total, 502 mortes entre indígenas, com 14.793 casos confirmados de contaminação pelo novo coronavírus e 130 povos afetados.
As informações, que são divulgadas pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), foram discutidas pela superintendente do Fundo Brasil, Ana Valéria Araújo, e a coordenadora geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Nara Baré, em conversa ao vivo no programa Bom Para Todos de 6 de julho, na TVT. Como parceiro de conteúdo da emissora, o Fundo Brasil pauta temas do campo dos direitos humanos e convida grupos, organizações e coletivos de todo o país para o debate.
O risco que o novo coronavírus representa para a população indígena já vinha sendo apontado pelas lideranças pelo menos desde março. “Nós construímos um plano de ação emergencial do Covid-19 para a Amazônia brasileira, dialogando com as organizações da rede Coiab”, disse Nara Baré.
O plano. Estruturado em três eixos, Emergência Indígena: plano de enfrentamento da covid-19 no Brasil é “uma proposta do movimento indígena e seus parceiros para salvar vidas e evitar o aumento da tragédia da pandemia do Coronavírus entre os povos indígenas”, como define o documento.
Prevê atenção integral à saúde, por meio de implantação de Unidades de Atenção Primária Indígena (UAPIs), com equipamentos e estrutura para o atendimento sem que as pessoas indígenas tenham de sair aldeias para as cidades; ações judiciais e de incidência política, com suspensão de processos de reintegração de posse; e ações de comunicação e informação, com criação de grupos de comunicação, formação de redes que fortalecem as estratégias e ações de monitoramento territorial.
Nara Baré contou que as organizações indígenas se organizaram em uma força-tarefa para divulgar medidas às lideranças. “São mais de 170 línguas faladas na Amazônia e nem todos dominam o português”, disse.
“Nossa primeira campanha foi ‘Ninguém entra, ninguém sai: fica em casa, parente”, disse a coordenadora geral da Coiab. Ela informou ainda que “mais de 90% de todas as lideranças indígenas que tiveram de ser removidas para as capitais, não voltaram com vida, e muitos nem voltaram para os seus territórios”.
“É muito grave você não ter esse momento de despedida, de respeitar o nosso ritual fúnebre. É dolorido demais para todo mundo. A gente não quer mais ver as nossas famílias, nossos parentes, nossas lideranças, nossos mais velhos sendo perdidos por um descaso desse de combate ao coronavírus. Nós não queremos mais sair das nossas terras sem voltar pra casa”, disse ela no programa.
Três meses. Em sua fala, a superintendente do Fundo Brasil, Ana Valéria Araújo, lembrou que Gersem Baniwa, outra liderança indígena na Amazônia e conselheiro do Fundo Brasil, esteve no mesmo programa Bom Para Todos apenas três meses antes, para alertar do risco que o coronavírus representava para as aldeias. “Agora nós estamos diante de um estado de calamidade que foi anunciado pelas organizações indígenas. Lá atrás, elas já tinham um plano, e nada foi feito.”
Segundo Ana Valéria, o Fundo Brasil está desde o início da pandemia buscando formas de apoiar efetivamente as iniciativas das organizações indígenas na Amazônia e fora dela. “O que a gente tem feito é fortalecer as organizações e as comunidades para que elas possam tocar as suas estratégias de minimizar esses impactos”, disse.
Em parceria com a Coiab, o Fundo Brasil lançou a linha de apoio emergencial S.O.S Amazônia, voltado às organizações indígenas da Amazônia brasileira. Também no âmbito do enfrentamento às consequências do novo coronavírus, o Fundo de Apoio Emergencial: Covid-19 atendeu 271 pedidos, dos quais mais de 50 de povos indígenas.
Assista ao programa Bom Para Todos com Nara Baré a Ana Valéria Araújo.