Apesar da implementação de mecanismos jurídicos e políticas públicas para a proteção das mulheres, como a Lei Maria da Penha, os índices de violência contra o gênero feminino, como agressões físicas, psicológicas, verbais, patrimonial e sexual continuam crescendo de forma alarmante. Por exemplo, o feminicídio — homicídios de mulheres nas residências — aumentou 10,6% entre 2009 e 2019¹ e 76% das mulheres trabalhadoras relatam já ter sofrido violência e assédio no ambiente de trabalho².
Existem algumas possíveis explicações para esse fenômeno, como casos em que homens acreditam na impunidade da lei ou por total despreocupação com as consequências. Contudo, alguns estudiosos acreditam que a perpetuação da cultura de violência no Brasil e o machismo estrutural possam ser responsáveis pela continuidade dos casos de violência e assassinato de mulheres.
Falas, atitudes, comportamentos, atuação da mídia, momento político e status social fazem parte da construção da cultura de violência. Para ficar melhor exemplificado como isto impacta nossa sociedade, quantas vezes já ouvimos aquele discurso social “em discussão de marido e mulher, ninguém mete a colher” ou que “homem não consegue se controlar”? Na prática, é como se houvesse uma permissão velada para que os homens fossem violentos com as mulheres.
Nesse sentido, um estudo nacional observou uma relação entre a forma de criação dos homens e a proximidade com a violência conjugal: a taxa de homens que assumiram ter batido numa mulher chega a 15% entre os que apanharam com frequência quando crianças3. Esse estudo comprova algo que já é de conhecimento popular: pessoas que foram criadas em ambientes violentos tendem a reproduzir esses comportamentos quando adultos.
Qual é o lugar do homem na luta contra à violência de gênero?
Essa é uma pergunta com algumas respostas, uma delas vai ao encontro com a desestruturação da cultura de violência e do patriarcado em nossa sociedade. As questões de masculinidades, diferente do feminismo, ainda são consideradas tabu na sociedade, mas para que os homens somem na luta contra a violência de gênero precisamos ir além.
Os homens devem reconhecer as atitudes e os comportamentos do sistema patriarcal e machista, marcado pelas subordinação e imposição física como condição de relação. Refletir sobre este sistema e parar de reproduzi-lo no seu dia-a-dia. Esta é uma discussão muito mais profunda, mas não podemos ignorá-la.
Indo além, os homens devem se posicionar quando presenciar casos de agressão física a uma mulher, assédio e outros tipos de violência. É importante que o agressor saiba que sua atitude não é aceitável. Sempre se posicione a favor da vítima. O mesmo serve para piadas machistas em círculo de amigos ou em casos considerados como brincadeiras, principalmente no ambiente de trabalho.
Ao longo de 15 anos de trabalho, o Fundo Brasil já apoiou dezenas de projetos com foco principal na defesa dos Direitos das Mulheres. Foi com o objetivo de enfrentar a violência doméstica e criar estratégias contra a violência de gênero que a Cooperativa Interdisciplinar de Capacitação e Assessoria – Casa Lilás foi contemplada com a linha de apoio do Fundo Brasil.
Apoiar o Fundo Brasil é apoiar as mulheres na sua luta por autonomia e direitos. Faça parte da luta pela garantia da segurança e dos direitos das mulheres!
Referências
- 2021. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Atlas da Violência 2021.
- 2020. Locomotiva e Instituto Patrícia Galvão. Pesquisa Percepções sobre a violência e o assédio contra mulheres no trabalho.
- 2014. Gustavo Venturi. Masculinidades e violências de gênero: Machismo e monogamia em cena. In: Feminismos e masculinidades: novos caminhos para enfrentar a violência contra a mulher. p. 149.