Diante de uma calamidade ou sofrimento involuntário, a solidariedade brasileira se apresenta com força. No entanto, ações que exigem algum planejamento, como doações para organizações ou trabalho voluntário, ainda não parecem fazer parte da nossa cultura, apesar da percepção geral de sermos um povo solidário.
A conclusão é de algumas análises sobre a cultura de doação no Brasil e o perfil de doadores, realizadas por instituições como Ipea (Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada) e da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, como publicado em outubro de 2024 pela Folha de S. Paulo.
Hoje, o Brasil ocupa a 86ª posição no World Giving Index 2024, um ranking que mede a generosidade entre 140 países. O levantamento é da Charities Aid Foundation (CAF), representada no Brasil pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis).
O índice mostra que temos a tendência de ajudar mais pessoas estranhas quando abordados de forma eventual do que nos engajarmos em causas sociais, que afetam diretamente toda a sociedade: 65% das pessoas ouvidas na pesquisa dão esmola, mas só 28% apoiam ONGs e 17% são voluntários em alguma atividade beneficente.
A posição mediana do Brasil também não é histórica. O país já esteve entre os 20 primeiros que mais doavam. Trata-se de um doador instintivo, que se move mais pelo que “os olhos veem e o coração sente” do que pelo estímulo racional de realizar uma transformação da realidade
A queda anual no número de doações dificulta e reduz as atividades das Organizações não governamentais (ONGs). Em matéria veiculada pelo telejornal de São Paulo, da TV Globo (SPTV – 1ª edição), em três anos, mais de 3 mil instituições de apoio encerraram seus trabalhos apenas no Estado de São Paulo.
Visto como um país hospitaleiro e acolhedor, porque não temos a cultura de doar?
A resposta é que precisamos desenvolver a consciência clara de solidariedade com o próximo. E entender que a cultura de doação permanente tem papel fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e consciente. Ela está relacionada a um conjunto de valores e atitudes que promovem a generosidade e a responsabilidade social, encorajando as pessoas a apoiarem causas que beneficiem os outros e o ambiente ao seu redor.
Porém para que isso aconteça é necessário entender que somos influenciados por questões políticas, econômicas e sociais. E então, romper com o ciclo vicioso da cultura de doação por impulso, compreender nosso papel como cidadãos e como podemos desempenhar a cidadania entre as pessoas tornando em doadores recorrentes, ou seja, pessoas que periodicamente reservam uma parte de seu dinheiro ou tempo para colaborar com as OSCs (organizações da sociedade civil).
Doar em momentos emergenciais é muito importante, mas conforme mencionado por Fernando Nogueira, diretor executivo da ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos), em entrevista à Folha de S.Paulo, em setembro deste ano, esse cenário prejudica o potencial de impacto das organizações. Segundo levantamento realizado pelo Monitor de Doações, da ABCR e em parceria com o GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas), em 2023 as doações para organizações sociais sofreram queda de quase 70%.
Há muitas formas de doar e impactar positivamente a vida de pessoas que estão em situação de vulnerabilidade e como é importante desenvolver a prática da filantropia para que seja possível criar uma sociedade mais justa e como esse ato genuíno pode transformar significamente a vida de muitas pessoas. Recentemente, o jornal O Estado de São Paulo, publicou em sua coluna de cultura uma nota sobre o lançamento da série “Meu, Seu, Nosso”, dirigida por Marcos Prado. O projeto apresenta uma jornada sobre a cultura da doação no Brasil, seus atores, práticas, efeitos e consequências.
Por exemplo, a tragédia que ocorreu no Rio Grande do Sul, no final de abril deste ano, é um caso que confirma o quanto o ato de doar para uma causa acontece somente em situações emergenciais ou quando ocorrem campanhas e mobilizações pontuais. Segundo o Estado do Rio Grande do Sul, as doações em dinheiro durante e após as enchentes ultrapassaram os 100 milhões de reais. E por meio deste tipo de apoio regular às vítimas continuam recebendo o devido auxílio para voltarem a ter uma vida organizada e adequada.
Nós do Fundo Brasil, estamos fazendo a nossa parte para fomentar a cultura de doação no Brasil. E contamos com o seu apoio para fortalecer projetos que atuam em prol dos direitos humanos. Contribua você também, acesse o nosso site e saiba quais são as causas que precisam de sua ajuda.