A fome avança cada vez mais no Brasil. Levantamento realizado pela Rede Pessan mostra que a insegurança alimentar atingiu cerca de 19 milhões de brasileiros no último ano. Atualmente, no país 55,2% dos domicílios encontram-se nessa situação, seja leve, moderada ou grave.
Os dados alarmantes chamam a atenção não só de quem vê a crise de perto no Brasil, mas quem, em outros países do mundo acompanha os noticiários e notam o quadro se agravando a cada dia, como consequência da Covid-19 e por falta de ações do Estado.
Por isso, brasileiras e brasileiros organizados em luta no exterior, em países como Inglaterra, Holanda, Suíça, Canadá, Estados Unidos e outros, se mobilizam para conseguir recursos e alimentos para quem precisa.
Nove grupos internacionais – US network for Democracy in Brazil; Frente Internacional Brasileira contra o Golpe e pela Democracia (FIBRA – internacional); Frente Preta UK; Brazil Matters; Coletivo Amsterdam pela Democracia no Brasil; Coletivo Taoca; Coletivo Brasil-Quebec; Coletivo Brasil-Montreal; Coletivo por Um Brasil Democrático – unem-se ao Fundo Brasil de Direitos Humanos em apoio à campanha Tem Gente com Fome, Dá De Comer.
A iniciativa da Coalizão Negra por Direitos, em parceria com vários movimentos e organizações da sociedade civil, busca recursos para alimentar mais 222.895 famílias mapeadas pela organização, em todo o país, que vivem em situação de vulnerabilidade econômica e, por isso, também encaram a fome como problema diário.
Mobilização internacional on-line
Como parte de divulgação para o apoio internacional, os coletivos realizaram nesta quarta-feira (12) um encontro on-line, via YouTube, para chamar a atenção de outros brasileiros, além-fronteiras, para o cenário da fome e da miséria que assolam o país.
O bate-papo foi conduzido por Elda Cardoso, ativista e cofundadora da Frente Preta UK, em Londres, Inglaterra e Ana Cernov, do Coletivo por Um Brasil Democrático, de Los Angeles, EUA.
Foram convidadas para essa apresentação a Débora Borges, gerente de Relacionamento com a Sociedade, do Fundo Brasil e a Sheila Carvalho, articuladora da Coalização Negra por Direitos, que abriu sua fala destacando a necessidade de direcionar o trabalho da Coalização Negras por Direitos para atender às necessidades dessas famílias.
“Desde 2014 o Brasil não fazia mais parte do Mapa da Fome, da ONU, mas com a chegada da pandemia, para milhões de pessoas que tinham pouco, a coisa ficou pior. A gente sabia que a população negra seria a mais afetada pelas consequências da Covid-19. E a maior queixa das comunidades que a gente ouvia era a fome. Diante disso e da inércia do governo, a gente lançou a campanha em março de 2020”, disse aos participantes.
A ativista também enfatizou que, diante da atual conjuntura política, essa realidade, infelizmente, ainda está longe de acabar. “A fome já estava aí antes da pandemia, mas com a política de morte que vivemos no Brasil atualmente, a fome continuará sendo uma realidade nas famílias brasileiras. Por isso, a gente precisa continuar com essa ação. Já conseguimos atender 80 mil famílias. Mas muitas ainda precisam de alimentos”.
Débora Borges ressaltou o que este o apoio da sociedade civil a essas iniciativas representa em um momento como este para o país. “Os recursos são importantes para fazer as transformações e atender os problemas de emergência. Mas tem um significado que ultrapassa as questões financeiras, porque essa mobilização de indivíduos faz com que mais pessoas entendam, reconheçam, legitimem e validem os trabalhos das organizações sociais, de contribuir com o trabalho de quem está na linha de frente, de apoiar a democracia e de lutar pelos direitos humanos”.
A representante do Fundo Brasil também explicou como acontece o apoio aos projetos e grupos de base.
“A gente é uma organização, formada por ativistas, que faz esse trabalho de mobilização de recursos para fortalecer esse campo. A gente respeita a autonomia dos grupos por acreditar que a solução está nos territórios, está por quem protagoniza a luta e acompanha de perto. Esta é uma campanha protagonizada pelo movimento negro, que está reivindicando contra a ausência de qualquer política pública, que vê os seus morrendo todos os dias. E, se a luta da Coalização Negra, que está no território é essa, é isso o que o Fundo Brasil vai apoiar”, finalizou.
Ana Cernov, reforçou a fala da Débora e contou sobre os apelos que têm chegado até os coletivos de fora do Brasil para intervirem com alguma ajuda às calamidades da nação.
“A gente não tem nenhuma dúvida, estando fora do Brasil, que as soluções estão em quem está nos territórios enfrentando esses problemas. Por isso, que de fora do país, a gente tem que se mobilizar para reverberar essa causa. Temos recebido de fora do Brasil muitos pedidos de socorro. Então, quem está na linha de frente precisa do nosso apoio. Participar dessa campanha do Coalização Negra por Direito, com o apoio do Fundo Brasil, é uma maneira de chegar a famílias de todas as regiões brasileiras. A gente não poderia ficar de mãos atadas diante da situação do nosso país de origem. Nós temos amigos e família lá”, lembrou.
Elda Cardoso, ativista e cofundadora da Frente Preta UK, destacou o porquê a fome, diante de tantas outras emergências, é a principal.
“Eu sou uma mulher negra e hoje me alimentei, meus filhos se alimentaram. Mas me preocupa muito a situação das minhas irmãs no Brasil. Quando eu falo das minhas irmãs, eu falo das mulheres negras que estão passando por essa situação de não ter um pão para alimentar seus filhos. A fome dói. A fome não pode esperar, você não consegue esperar. É o mais urgente hoje, porque com fome, você não consegue fazer nada”, reforçou Elda.
Fundo Brasil e a campanha Tem Gente Com Fome
O apoio do Fundo Brasil à campanha Tem Gente Com Fome, Dá de Comer, ação da Coalização Negra por Direitos, visa servir como uma ponte entre doadoras e doadores a essa ação humanitária fundamental neste momento de pandemia da Covid-19 no Brasil. A doença tem deixado um rastro de fome, miséria e violações contínuas de direitos humanos às comunidades mais vulnerabilizadas.
Toda a arrecadação é direcionada à campanha, que vai distribuir alimentos e itens de higiene e limpeza, a mais de 222.895 famílias em todas as regiões brasileiras.
Para saber mais, clique aqui e veja a campanha em vídeo.