Aos 45 anos, a educadora social Patrícia Cordeiro às vezes faz um balanço de sua trajetória até o momento e chega à conclusão de que rejuvenesce diariamente. Coordenadora do Programa Juventude, Participação e Autonomia da Unipop – Universidade Popular, em Belém (PA), ela trabalha com jovens que chegam cheios de novidades, questionamentos e muita disposição para enfrentar as inúmeras barreiras que encontram.
“Sou profundamente feliz com o que faço”, diz Patrícia.
A Unipop é parceira do Fundo Brasil por meio do projeto Agência de notícias “Jovens Comunicadores da Amazônia”, apoiado por meio do edital Juntos/as contra a violência que mata a juventude brasileira.
A educadora lida com garotas e garotos que vivem uma realidade difícil: o medo de serem vítimas do extermínio da juventude negra nas periferias brasileiras; as cobranças das famílias para que tenham uma profissão e garantam o sustento e a pressão que fazem a si mesmos para conquistar um lugar no mundo. Ao mesmo tempo, são jovens que acreditam nos próprios potenciais, assumem suas identidades, dialogam e lutam.
“É um crescimento coletivo, com respeito às formas e aos tempos individuais”, descreve Patrícia. “Minha relação com eles é horizontal, sem punhos de aço”.
A história da educadora começou quando ela mesma acabara de sair da adolescência. Aos 19 anos, foi voluntária do Movimento República de Emaús, uma associação sem fins lucrativos que atua em defesa da garantia dos direitos de crianças e adolescentes em Belém.
Após alguns anos, Patrícia começou a se reconhecer como educadora. Atuou em projetos relacionados ao trabalho infantil e, mais tarde, participou de um programa destinado a meninas e meninos que viviam nas ruas da cidade.
Foi uma fase de muitos desafios. Nas ruas, ela e outras educadoras ficavam visíveis para todo mundo e precisavam lidar com aliciadores, traficantes e com a polícia, que não gostava do trabalho realizado junto às crianças e adolescentes.
“Adquiri fobias”, lembra. O problema respiratório que já possuía, por exemplo, ficou mais grave. Patrícia foi para a terapia quando percebeu que adoecia e até hoje carrega muitas das “cargas” acumuladas no período.
Mais tarde, ao coordenar um programa de reinserção de ex-presidiários ao mercado de trabalho, viu um triste ciclo se fechar: encontrou alguns ex-participantes de projetos que desenvolvera junto a adolescentes. Os meninos do passado agora tentavam retomar a vida após passar pelo sistema penal.
“É um ciclo de pobreza. E hoje é um clico que muitas vezes nem se completa, por causa dos assassinatos”, afirma.
O ativismo de mulheres como Patrícia é fundamental para o enfrentamento dessa realidade. O projeto apoiado pelo Fundo Brasil, por exemplo, possibilita a criação de uma agência de notícias voltada ao tema do extermínio de jovens, principalmente pobres e negros. A agência tem o objetivo de ser um espaço de incidência política e ressonância de manifestações como caminhadas, atos públicos, atividades culturais e audiências públicas organizadas pelos próprios jovens e adolescentes.
O trabalho e a militância andam juntos na vida da educadora. Ao mesmo tempo em que sempre esteve aberta para o diálogo com os jovens, compreendeu a si mesma nessa jornada. Daí vem a sensação de realização e de vigor.
“Sofremos juntos, brigamos juntos”, diz.
Saiba mais sobre a Unipop
Com 29 anos de existência, a Unipop é uma entidade de formação para a cidadania ativa, ecumênica, de educação popular, cujo princípio metodológico básico está no pluralismo político, de gênero, cultural e religioso. Desde 1998 desenvolve ações com o segmento juvenil em bairros periféricos da região metropolitana de Belém e Ilha de Cotijuba, envolvendo jovens ribeirinhos. Desde 2009 atua também nas regiões de Marabá e Santarém, contribuindo para a formação dos jovens e para a construção e fortalecimento de redes de juventudes.
Fundo Brasil
O Fundo Brasil é uma fundação independente, sem fins lucrativos, que tem a proposta inovadora de construir mecanismos sustentáveis para destinar recursos a defensores e defensoras de direitos humanos em todas as regiões do pais.
A fundação atua como uma ponte entre organizações locais e potenciais doadores de recursos.
Em dez anos de atuação, a fundação já destinou R$ 12 milhões a cerca de 300 projetos em todas as regiões do país. Além da doação de recursos, os projetos selecionados são apoiados por meio de atividades de formação e visitas de monitoramento que fortalecem as organizações de direitos humanos.
Saiba mais
Acompanhe nossas redes sociais: Facebook e Twitter.
Para doar, clique aqui.