O primeiro dia do Ciclo de Debates – Direitos Humanos e Desenvolvimento reuniu Claudio Picazio, Eleonora Menicucci, Laerte e Leonardo Sakamoto no auditório da Livraria Cultura Shopping Bourbon. Os quatro debateram “Combate à homofobia”, tema proposto pelo Fundo Brasil para abrir a sequência de discussões (Veja aqui a programação completa).
O diretor presidente do Fundo Brasil, Sergio Haddad, abriu a noite apresentando o Fundo Brasil aos convidados e apontando a importância do debate sobre Direitos Humanos e Desenvolvimento, no atual contexto que vivemos. Ele defende que “um país desenvolvido deveria ser livre de preconceitos, e sem considerar apenas índices de crescimento econômico”.
O jornalista e doutor em Ciências Políticas, Leonardo Sakamoto, foi mediador da noite. Entre suas ponderações ele destacou que a sobreposição dos argumentos negativos contra homossexuais torna os atos violentos banais e que se admira da sociedade ainda estar discutindo se devemos universalizar os direitos humanos. Ele aponta o preconceito dentro da realidade em que atua. “Nós mesmos, jornalistas, reproduzimos o modelo de preconceito. Precisamos nos policiar diariamente, pois somos educados numa sociedade machista. Discutir a questão da homofobia é sempre um aprendizado. Todo homem é um inimigo tanto das mulheres, quanto de gays lésbicas transexuais, até ser devidamente educado para o contrário. Precisamos descer do pedestal hétero e conhecer um pouco aquele que a gente considera diferente.”
Especialista em Sexualidade Humana e autor dos livros “Diferentes desejos: adolescentes homo, bi e heterossexuais” , “Sexo secreto – Temas polêmicos da sexualidade” e “Uma outra verdade, para pais entenderem a homossexualidade de seus filhos”, todos da coleção Edições GLS, da Editora Summus, Claudio Picazio desmitificou a relação entre sexualidade e homossexualidade. Ele quebra clichês como, por exemplo, que as violências homofóbicas seriam praticadas por homossexuais “enrustidos” ou que todo homossexual é sensível e delicado. Ele defende uma “revolução masculina” que garanta a todos o “direito ao afeto”. “A homofobia barra qualquer desenvolvimento. Quando você breca o direito de alguém manifestar os seus afetos, você está barrando o desenvolvimento não só dos gays, mas o desenvolvimento humano. Cada um deve para olhar si, para seus desejos, para suas questões. Veja quem você deseja eroticamente e se tranquilize com isso, sem se preocupar com formas tidas como femininas ou masculinas de ser. A gente é humano, então vamos ficar um pouco mais humanos.” Para ele, os conflitos só serão superados quando a sociedade fizer do sexo algo menos importante do que é hoje e, especialmente, quando conseguirmos de fato separar as religiões do Estado laico.
Eleonora Menicucci, doutora em Ciência Política, com pós doutorado em Saúde e Trabalho das Mulheres, aponta o desafio de vencer os preconceitos. Segundo ela, “tolerar” é pouco, é preciso garantir e respeitar as diferenças. O projeto político social macro vai depende do micro. “É preciso resignificar direitos humanos, não há que ‘fatiar’ os direitos. O mundo não é feito só de homens brancos e heterossexuais. A heterossexualidade tem de sair imediatamente da zona de conforto onde foi colocada. É fundamental que a sociedade exija a criminalização da homofobia.”
O cartunista Laerte apontou uma curiosidade: ao se travestir, não chegou a sofrer ataques homofóbicos. Ele atribui isso ao fato de ser uma pessoa publicamente conhecida. O artista aponta também outras questões sobre as quais vêm refletindo. Segundo ele, a internet se tornou espaço para reunir e ao mesmo tempo “camuflar” as pessoas. “Grupos virtuais de cross-dresser (homens que se vestem de mulher) permitem que essas pessoas se reúnam, mas mantenham o anonimato. As pessoas vivem a perversão sem precisar se mostrar, pois no fundo são homofóbicas. Mas a sociedade vem enfrentando e tentando organizar uma nova situação, construir um novo pacto, uma nova consciência sobre a homofobia, a transfobia, a etnofobia, etc.”
Na segunda noite, Cida Bento, Helio Santos, Leci Brandão, Rosane Borges e Sueli Carneiro vão debater “Equidade Racial”.