O ano de 2019 tem sido marcado por um aprofundamento dos ataques aos direitos humanos. Diante desse cenário difícil, grupos, organizações e coletivos de defensoras e defensores de direitos reimaginam estratégias, criam formas de se mobilizar e resistir.
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O Prêmio Fotográfico “Combater os Retrocessos”, realizado pelo Fundo Brasil em parceria com a Fundação Tide Setubal, tem o objetivo de destacar a diversidade, a força das lutas e reforçar a importância das imagens como ferramentas para a promoção de direitos.
Inscreveram-se no concurso 26 organizações apoiadas pelo Fundo Brasil. Foram recebidas 101 fotos das cinco regiões do país. As imagens passaram por uma triagem, realizada com a participação da consultora Ana Maria Wilheim, que resultou na seleção de 48 fotografias. Após a seleção interna, as imagens foram analisadas por um comitê de especialistas formado pela fotógrafa Alice Vergueiro, pelo fotógrafo Sérgio Silva e pelo cineasta Marcelo Rodriguez.
O comitê escolheu as dez fotos que serão submetidas a uma votação popular, realizada por meio de um formulário do Google. As três imagens mais votadas serão premiadas com equipamentos fotográficos.
Para participar da votação, clique aqui.
A votação vai até o dia 18 de novembro.
A seguir, conheça as dez fotos finalistas. As fotógrafas, os fotógrafos e as pessoas retratadas gravaram vídeos contando as histórias sobre as imagens:
Levante Popular da Juventude (SP/DF)
Matheus Alves é integrante do Levante Popular da Juventude, projeto apoiado edital Violência contra a juventude, em 2016. A foto é de 2017, e mostra Anna Terra Yawalapiti, liderança indígena do Xingu, pedindo o fim da repressão policial durante manifestação do Acampamento Terra Livre, em Brasília (DF).
Articulação dos Movimentos e Comunidades do Centro Antigo de Salvador (BA)
Na foto, realizada no Ato-Cortejo 2019 da Articulação do Centro Antigo de Salvador, organização apoiada no edital de Jornalismo Investigativo e Direitos Humanos, em 2017. Roseane Souza resgata a figura de Maria Felipa: guerreira negra, marisqueira, símbolo de força e resistência nas guerras de independência da Bahia. Matheus Tanajura, autor da foto, intitulou a imagem de “Com linhas pretas costuro memórias de um passado presente”. “A imagem conta o que a história oficial faz questão de esquecer. Guerreiras do nosso tempo, corpos-resistência que habitam e fazem o Centro Antigo de Salvador. Corpos pretos, sobretudo de mulheres, que, no cotidiano, lutam pela permanência, pelo direito à moradia e pelo direito à cidade”, disse o fotógrafo.
Pastoral Carcerária Nacional (SP)
“O Brasil ocupa, hoje, a posição de terceiro país que mais encarcera no mundo e o faz em condições bastante degradantes. No contexto de unidades superlotadas, com falta de condições mínimas de higiene e saúde, a disciplina obedece a uma lógica militarizada que atenta contra direitos básicos das pessoas presas. É cada vez mais frequente nos presídios, a prática obrigatória do procedimento, no qual as pessoas presas devem se agachar, uma atrás da outra, e se manter de cabeça baixa, em silêncio, sem olhar para os lados, com as mãos sobre a nuca. Apesar de incômoda e humilhante, a posição pode ser mantida por horas”, explica a autora Luisa Cytrynowicz. “A prática obrigatória do Procedimento” retrata a cena de disciplinamento. A Pastoral Carcerária Nacional é apoiada no edital Justiça Criminal (2017/2018).
Rayane de Almeida Penha (AP)
A fotógrafa Rayane Penha é apoiada no edital Jornalismo Investigativo e Direitos Humanos, de 2017. Sua foto “corpo e terra violados” tem a seguinte descrição: Vidas que se desfazem feito terra moída e lavada. Retrato de um garimpeiro, a peça da ponta da grande engrenagem que é a exploração mineral, o contrate de lugares tão ricos e tão cheios de misérias.
A Fronteira (RS)
“Asas”, de Tânia Meinerz, tem a intenção é simbolizar o direito às liberdades básicas do ser humano, ao citar a chance de expressar-se livremente. Como bem lembrado por uma familiar professora, na imagem se vê a vida como um conjunto de esperanças jogadas ao vento. A agência de jornalismo A Fronteira é apoiada no edital Jornalismo Investigativo e Direitos, de 2017.
Najup (MS)
É crescente a onda de criminalização os povos indígenas. Um número significativo de indígenas encarcerados são jogados no sistema penitenciário brasileiro ignorando-se seus direitos e garantias fundamentais, como a presença de intérpretes nos procedimentos legais. A foto mostra uma liderança indígena atrás das grades num contexto urbano usando seu cocar, ficando claro que esta fora de sua aldeia, em uma mobilização ativa pela defesa de seus direitos, sob o jugo do sistêmico processo de criminalização em trâmite no Brasil que afeta majoritariamente defensores de direitos humanos. O Núcleo de defesa e assessoria jurídica popular de Mato Grosso do Sul (Najup-MS) é apoiado do Fundo Brasil no edital Litigância Estratégica, de 2017.
CPDH (PE)
Um projeto de urbanização para a comunidade do Pilar, do Recife, prometeu a continuação da construção de conjuntos habitacionais na cidade. Porém, retirando casas consolidadas, de alvenaria, enquanto de outro lado, moradores ainda vivem em barracos de tábua. Os moradores e moradoras se negaram a deixar suas casas até que a prefeitura, negociando caso a caso conseguiu realizar as remoções. “Fragmentos de vida na comunidade do Pilar”, de Jonathan Lima, faz uma reflexão sob os destroços da comunidade para que eles não sejam em vão, que sejam lembrados. E para continuar pressionando a gestão pública a começar a construção dos habitacionais prometidos. o Centro Popular de Direitos Humanos é apoiado no edital de Megaeventos Esportivos, de 2014.
CAA-NM (MG)
O Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas é apoiado do Fundo Brasil no edital Litigância estratégica, de 2014. “Territorialidade: o olhar ancestral e os passos firmes para o futuro”, de Indi Gouveia. Os passos firmes no chão, capturam o olhar e desperta diferentes interpretações. Uma anciã, caminha pelo sertão norte-mineiro, em um quilombo de Minas Gerais, lugar de resistência e de memória. O campo que em algum momento é palco da juventude, as casinhas simples rodeadas por árvores, o sertão carregado de nuvens, tudo precisa ser reparado. Como diria Guimarães Rosa, “O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. Em tempos de retrocesso, quando o cenário é de esvaziamento no campo e de retirada de direitos dos povos e comunidades tradicionais, seguir no território faz da permanência um ato de reafirmar a história de ontem, do hoje e do amanhã.
Marco Zero Conteúdo (PE)
“Com as próprias mãos”, de Inês Campelo, mostra a cobertura do desastre ecológico registrado no litoral de Pernambuco no mês de outubro de 2019, quando mais de 1,4 mil toneladas de óleo foram retiradas das praias do Estado com o esforço de centenas de voluntários que colocaram a saúde em risco para assumir um papel que deveria ser de responsabilidade do Governo Federal. Os registros foram realizados na praia de Pedra de Xaréu, no município do Cabo de Santo Agostinho, no litoral sul de Pernambuco. A agência Marco Zero Conteúdo é apoiada no edital Jornalismo Investigativo e Direitos Humanos, de 2017.
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo do Vestuário de Sorocaba e Região (SP)
“Conhecimento é poder”, de Vinicius Viana, foi Registrada durante o 41º congresso da União Estadual dos Estudantes, em Araraquara/SP, durante um debate sobre a liberdade de educar e as contradições e dilemas atuais na escola e universidade brasileira. O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo do Vestuário de Sorocaba e Região é apoiado do Fundo Brasil neste ano de 2019, no edital Combatendo o Trabalho Infantil na Indústria da Moda.