“A sociedade tem de conviver com suas diferenças. Se a prostituição existe, está aí, é milenar, é porque tem espaço. Precisamos conhecer melhor essa realidade.” Com essa frase, a diretora-presidente da ONG Davida – Prostituição, Direitos Civis, Saúde, Gabriela Leite, justifica a necessidade de financiamento para projetos que promovam a cidadania das prostitutas.
Esta mulher, que decidiu ser prostituta na década de 1970, falou sobre a dificuldade de trabalhar na defesa e promoção dos direitos das profissionais do sexo, em entrevista ao Fundo Brasil, na noite de lançamento da coleção Verão 2010 da grife Daspu, enquanto autografava seu livro “Filha mãe avó e puta” (Editora Objetiva, 2009).
A ONG Davida iniciou as atividades no Rio de Janeiro em 1992. Nesses anos, buscou criar oportunidades para assegurar o protagonismo e a visibilidade social das prostitutas, por meio da organização da categoria, da defesa e promoção de direitos, da mobilização e do controle social. “O mais difícil é as pessoas entenderem nossa linha de trabalho. Se fosse para tirar as mulheres dessa ‘horrível’ vida da prostituição, teríamos dinheiro a rodo, mas como é pela cidadania, é muito difícil”, expõe Gabriela.
Segundo ela, mesmo com toda a visibilidade alcançada pela ONG, os empresários ainda temem vincular suas marcas às prostitutas. “Esquecem até mesmo que as putas também são consumidoras. Que o dinheiro das boates também vai para as lojas e supermercados.”
O concorridíssimo desfile é prova disso. Apesar dos principais veículos de imprensa estarem presentes, poucas empresas se mobilizaram para patrocinar o evento.
Fundo Brasil
A ativista aponta a sensibilidade do Fundo Brasil de Direitos Humanos em ter percebido a relevância da atuação da ONG nesse trabalho de cidadania das mulheres profissionais do sexo. O projeto proposto pela Davida, “Saindo do Escuro: Desvendando violações de direitos humanos na prostituição feminina”, foi um dos 26 aprovados no edital 2009 do Fundo.
Serão repassados cerca de R$ 25 mil à ONG para o desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa que vai mapear casos de violação de direitos das prostitutas nas cidades de Salvador, Corumbá, Manaus e Porto Alegre. “Fico muito feliz de ter passado no edital. A realização da pesquisa é um sonho que tenho há anos. Vamos desvendar um monte de coisas e poder combater as violações”, diz Gabriela.
O valor a ser repassado faz parte dos R$ 636 mil que serão distribuídos neste ano. Os recursos foram doados ao Fundo por fundações, empresas e pessoas comprometidas com a construção de uma sociedade mais justa por meio da promoção dos direitos humanos.
Lançamento Daspu
O evento de lançamento da coleção Verão 2010 Daspu – Da Farofa ao Caviar encheu a quadra da escola de samba paulistana Vai Vai, na noite do dia 27 de junho, em São Paulo. Elaborados em parceria com profissionais de moda do Rôdo Coletivo, de Belo Horizonte, os 30 figurinos foram inspirados nos botequins e nos salões de festa, mostrando o ecletismo das prostitutas. A rede paulistana Kaiz Brasil comprou toda a coleção para revenda.
Além da anfitriã Vai Vai foram parceiros do evento: Instituto da Beleza e da Cidadania, Flores do Asfalto (sapatos da designer Paola Escobar), Du Coeur Ligne (acessórios e bijoux), Porttale Cosméticos Terapêuticos (limpeza de pele e nas massagens relaxantes), Oficina de Idéias (produtora), H Space (Havaianas), Gel Semina Lubrificantes, Alameda Center, Compania de Dança Patrícia Cruz e cervejas Itaipava e Crystal.
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