Representando a Rede de Filantropia para a Justiça Social, Ana Valéria Araújo, coordenadora executiva do Fundo Brasil de Direitos Humanos, falou sobre o desafio enfrentado por organizações que defendem direitos para conquistar o apoio da sociedade durante o painel “Como fortalecer a cultura de doação no Brasil”, promovido pelo Movimento por uma Cultura de Doação.
Realizado na sede do Impact Hub, em Pinheiros, o painel foi uma das atividades da Virada Política, encontro anual sediado em São Paulo.
Além dela, o painel contou com as presenças de José Marcelo Zacchi, do GIFE, e de Nina Valentini, do Movimento Arredondar, que atuou como mediadora.
No debate, Ana Valéria abordou as dificuldades encontradas no trabalho de mobilizar a população a favor de direitos e falou também sobre a estratégia de dar visibilidade para as causas com o objetivo de sensibilizar a sociedade brasileira.
“Estou convencida de que a dificuldade das pessoas de apoiarem o tipo de projeto de que a gente está falando não passa necessariamente por não querer, mas por não compreender a importância disso”, afirmou.
A coordenadora do Fundo Brasil reforçou que mobilizar não é apenas buscar recursos financeiros para a sustentabilidade das organizações e sim também conquistar pessoas para que elas se engajem nas lutas.
A Lei Maria da Penha, que criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher e é considerada um avanço na legislação brasileira, é um exemplo da importância da mobilização social.
“Ao perguntar para a maioria das pessoas de onde veio essa lei, todo mundo acha que veio de um governo progressista, de um presidente que assinou um decreto. Desconhecem 20 anos de luta de organizações feministas”, citou Ana Valéria.
De acordo com a análise dela, a defesa de direitos não progride sem a existência de uma grande mobilização, sem a atuação de organizações da sociedade civil.
Pesquisa
Durante o debate, os participantes falaram sobre a pesquisa “Country Giving Report 2017 – Brasil”, realizada junto a um universo de mais de 1.300 brasileiros, moradores de cidades e com acesso à internet. O estudo mostrou que 68% dos brasileiros doaram nos últimos meses, seja para igrejas ou organizações religiosas (55%), organizações sociais (53%) ou patrocinando alguém (32%).
A pesquisa foi realizada pela Charities Aid Foundation, representada no Brasil pelo IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social.
Na avaliação do GIFE, conhecer o perfil, o comportamento e as principais motivações dos doadores é o ponto-chave para ampliar a cultura de doação.
Comunicação
Também no painel, as estratégias de comunicação foram citadas como fundamentais para mostrar à população a importância da sociedade civil organizada e porque é preciso apoiar esse trabalho.
Dentro disso, um dos esforços é o de traduzir a linguagem utilizada pelas organizações, grupos e coletivos. Isso é feito por meio de novas narrativas, relatos de histórias e divulgação de informações sobre a atuação de atores sociais.
Desde o ano passado, por exemplo, o Fundo Brasil realiza uma campanha com o mote #NãoTáTranquiloNãoTáFavorável, com a divulgação de diversas peças de comunicação que chamam a atenção para o cenário de retrocessos sociais no país usando uma linguagem popular, mas sem deixar de ressaltar a realidade de violações.
Trechos do debate realizado durante a Virada Política foram divulgados no Instagram Stories do Fundo Brasil, uma forma de interação rápida com os usuários da rede social e uma demonstração prática da comunicação como elemento central na defesa de direitos para todas e todos.
Rede de Filantropia
A Rede de Filantropia para a Justiça Social é uma organização informal que reúne nove fundos. Os membros da Rede, individual e coletivamente, representam e introduzem no Brasil uma nova filantropia: a filantropia de justiça social e comunitária.
A Rede de Fundos foi criada em 2012 a partir da união de um grupo de organizações similares em valores e na forma de atuação e marca um novo momento no setor cidadão do Brasil. São organizações doadoras de recursos (grantmakers) e que direcionam suas ações para organizações que trabalham com direitos humanos, igualdade e justiça social.
A Rede busca também contribuir para uma mais favorável infraestrutura para o setor cidadão, aumentando recursos locais para organizações de direitos humanos, igualdade de raça, gênero e meio ambiente.