As cozinhas comunitárias da Associação da Juventude Camponesa Nordestina – Terra Livre, mais conhecida como Associação Mãe Terra na região metropolitana do Recife, se destacam pela integração da comunidade nas ações e na busca por soluções sustentáveis. Elas não apenas fornecem refeições, mas também promovem uma cadeia produtiva que beneficia todas as partes envolvidas, apoiando a agricultura familiar e combatendo a fome nas comunidades periféricas urbanas. “Nós acreditamos na solidariedade, em especial na solidariedade entre a classe trabalhadora. Mais do que doar alimentos ou marmitas, buscamos estabelecer uma unidade campo-cidade que não seja apenas conjuntural”, ressalta Matías, um jovem de 25 anos, nascido no Paraguai e residente no Recife. Com raízes camponesas e uma história de resistência familiar, o jovem se destaca como um articulador político engajado desde a adolescência.
Fundada formalmente em 2008, a Associação Mãe Terra focou inicialmente suas ações no sertão do Pajeú. Porém, com o tempo, a organização cresceu e expandiu suas atividades para abranger territórios urbanos e rurais, transformando-se em uma força multifacetada. “No começo, a associação tinha um foco na execução de projetos de qualificação e formação de agricultores, mas com a expansão da atuação para localidades urbanas, a associação começou a desenvolver ações de combate à fome, educação popular e educação em saúde”, explica.
Em março de 2020, a Terra Livre inaugurou sua primeira cozinha solidária no centro do Recife. O cenário era desolador, com a pandemia de COVID-19 e as políticas de austeridade de um governo de extrema-direita empurrando famílias para a fome e a pobreza. “Essa virada começou no âmbito da campanha Mãos Solidárias em Pernambuco, quando se criou um conjunto de ações solidárias no meio da pandemia, porque se entendeu que se vivia não apenas uma crise sanitária, mas uma crise social, política e econômica que demandaria solidariedade” relembra Matias.
As cozinhas comunitárias da Associação Terra Livre têm uma equipe de mulheres negras, com idades entre 20 e 60 anos, dedicadas à gestão das cozinhas. Muitas delas são chefes de família, estão desempregadas ou são trabalhadoras informais. O objetivo vai além de apoio; todas as pessoas beneficiárias são incentivadas a serem agentes ativos, participando diretamente na formulação e execução das ações.
As cozinhas comunitárias agora florescem em bairros periféricos da Região Metropolitana do Recife. Nesses territórios, a falta de serviços públicos essenciais, infraestrutura precária, violência policial e analfabetismo são desafios cotidianos. “São, por definição, territórios onde as políticas públicas não se fazem presentes. Nesse cenário, as ações promovidas pela Associação Mãe Terra pretendem contribuir para o combate à fome nas comunidades e denunciar a falta de políticas públicas “, explica.
Atualmente, a organização é apoiada pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos no âmbito do edital Mobilização em Defesa dos Espaços Cívicos e da Democracia. Isso tem sido crucial para o projeto que estão realizando, buscando unir o campo e a cidade para enfrentar a fome e fortalecer as lideranças de mulheres negras em áreas periféricas. O Fundo Brasil fornece recursos, estrutura e ajuda a legitimar o trabalho da organização. De acordo com Matías, “contar com o respaldo e divulgação do Fundo Brasil é essencial para uma associação formada por militantes de organizações camponesas estigmatizadas e criminalizadas”.
Em meio a desafios e adversidades, as cozinhas comunitárias da associação Terra Livre escrevem uma história de solidariedade e transformação social. Elas fortalecem a comunidade em torno da solidariedade e ação, além de apoiar a agricultura local, não apenas fornecendo comida, mas também contribuindo para transformar a sociedade e promover os direitos humanos.