Na segunda noite do Ciclo de Debates – Direitos Humanos e Desenvolvimento, Cida Bento, Helio Santos e Sueli Carneiro discutiram o tema “Equidade racial”. No auditório da Livraria Cultura Shopping Bourbon, os três abordaram desde fatos estruturantes do racismo no país e o recrudescimento de discursos conservadores até o desafio de combater a discriminação racial.
Diretora executiva do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades, Cida Bento apontou, especialmente, de que forma as iniciativas que promovem a diversidade vêm sendo colocadas em prática. Um dos exemplos citados é a questão da reserva de vagas em universidades. Segundo ela, a luta do movimento negro, nesse caso, acabou por ampliar a questão para outros grupos, fazendo recorte social por exemplo. Ela cita outros avanços, como o ensino da História da África nas escolas e a aquisição de bonecas negras e jogos africanos para a rede pública de educação infantil.
No entanto, pondera que o mercado de trabalho é uma área ainda muito difícil para os negros e negras conquistarem espaço. Em censo realizado junto às instituições bancárias, desde 2007, foi revelado que 47% dos trabalhadores do setor são mulheres, mas apenas 7% dessas são negras. Ela acredita ser possível transformar essa realidade e que, para isso, é essencial envolver negros e negras desde a discussão das políticas de inclusão até sua implementação. Para ela, debates como esse realizado pelo Fundo Brasil, que problematizam essas questões, são muito importantes nesse processo: “A conexão direitos humanos, desenvolvimento e equidade racial é um caminho a ser seguido. O Brasil precisa discutir outra perspectiva de desenvolvimento.”
O diretor presidente do Instituto Brasileiro da Diversidade – IBD, Helio Santos, segue a mesma linha: “O que fica patente é que essa agenda deve ser vista conjuntamente. Desenvolvimento, direitos humanos e empoderamento da sociedade não podem ser tratados isoladamente.”
Ele busca na história os subsídios para apontar como o racismo se desenvolveu no País. Foram 350 anos de escravidão, seguidos de uma política de imigração que privilegiou e impulsionou a vinda de estrangeiros para o Brasil, desconsiderando a população afrodescendente que já morava aqui. Essa imigração se deu especialmente no Sul e no Sudeste, inclusive com apoio material a uma parcela dos que chegavam. Em momento nenhum Helio Santos critica essa iniciativa, mas ele considera que essa promoção da diversidade em terras brasileiras deveria ter contemplado os descendentes de africanos que aqui estavam. Ele destaca que durante décadas as mulheres negras sustentaram suas famílias, trabalhando nas cozinhas das casas de famílias brancas, e, aos homens negros, restava o desemprego. Para romper esse ciclo, Helio Santos aponta ser necessário ao país oferecer oportunidades à sua população negra. Ele exemplifica que o futebol é o único espaço onde as oportunidades são iguais. Independentemente da origem social ou da raça, um jogador pode ter sucesso, pois só lhe cabe ter talento para que seja aproveitado e treinado. Muitos talentos negros foram revelados nesse meio, pois esse é o único espaço que todos os talentos são aproveitados, independente de qualquer fator social ou racial, o que não acontece nas outras diversas áreas.
Sueli Carneiro, diretora do Fundo Brasil, apontou por fim a necessidade dos movimentos sociais retomarem o debate ideológico sobre questões relacionadas aos direitos humanos, como o combate ao sexismo e ao racismo. Ela vê que isso se perdeu nos últimos anos, visto a escolha por outra linha de ação feita pelos movimentos sociais, abrindo espaço para o recrudescimento de discursos conservadores. “As pessoas que aqui estiveram hoje estão interessadas, preocupadas com esse tema e acho que saímos todos reforçados, foram oferecidos conteúdos para ação e reflexão”, finaliza.
Na noite de quinta-feira, o tema será Impactos da Copa e de grandes projetos de Infra-estrutura e, na sexta, Panorama geral dos direitos humanos no Brasil.
A programação completa pode ser conferida aqui.