O Fundo Brasil de Direitos Humanos divulga nesta terça-feira, 23 de julho, o resultado da seleção de projetos do edital Povos Indígenas Lutando por Justiça Climática.
Foram selecionados 25 projetos, que receberão valores de até R$ 50 mil ou R$ 100 mil, a depender do eixo do edital em que se enquadra o trabalho a ser desenvolvido.
Este é o segundo edital do Raízes – Fundo de Justiça Climática para Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, linha do Fundo Brasil dedicada a apoiar a luta desses povos e comunidades por justiça climática, com garantia de direitos territoriais e modos de vida.
Os apoios deste edital serão feitos em três eixos, com um olhar prioritário, mas não exclusivo, para Amazônia e Cerrado. O Eixo 1, que apoiará 10 iniciativas com até R$ 50 mil cada, é voltado a alternativas produtivas e sociobioeconomia, e conta com parceria do Instituto Itausa. No Eixo 2, o enfoque é para monitoramento e gestão territorial, também com 10 propostas de até R$ 50 mil. O Eixo 3 é para articulação e incidência, e vai selecionar 5 propostas de até R$ 100 mil cada. Do total, pelo menos 12 projetos apoiados serão da Amazônia e do Cerrado.
Confira a lista dos selecionados:
Eixo 1:
Organização | Estado | Região |
Manxinerine Ywptowaka | AC | Norte |
Mulheres Artesãs Indígenas do Vale do Javari – MAI | AM | Norte |
Organização dos Kambebas do Alto Solimões- OKAS | AM | Norte |
Instituto de Desenvolvimento GWRÀ KO | TO | Norte |
Associação Indígena Ipioca II | AL | Nordeste |
Ação no Meio Ambiente Revolucionário – AMAR | MT | Centro-Oeste |
Associação Indígena Xakriabá Barra do Sumaré | MG | Sudeste |
Associação Comunitária Indígena Guarani I VY Pora ACIGYP | SP | Sudeste |
Associação das Mulheres Originárias do Apucaraninha – AMOTIA | PR | Sul |
Associação JUG VÁJ BY TÍ JÓ VÃ (sonho de meu pai) | RS | Sul |
Eixo 2:
Organização | Estado | Região |
Associação de Seringueiros, Produtores e Artesãos Kaxinawá de Nova Olinda- ASPAKNO | AC | Norte |
Associação do Povo Indígena Juma – JAWARA PINA | AM | Norte |
Associação das Mulheres Wakoborun | PA | Norte |
Urihi Associação Yanomami | RR | Norte |
Coordenação das Organizações Indígenas do Povo Javaé da Ilha do Bananal – CONJABA | TO | Norte |
Consórcio Agropecuário Indígena Tuxa – Rodelas (CARITU) | BA | Nordeste |
Associação Socioambiental Curica- Rede Curica | PB | Nordeste |
Associação Comunitária do Povo Mendonça Potiguara | RN | Nordeste |
Coordenação e Organização Povo Indígena Apyãwa (COPIAP) | MT | Centro-Oeste |
Aldeia ko’ẽ Ju – Terra indígena Amba Porã | SP | Sudeste |
Eixo 3:
Organização | Estado | Região |
Organização de Lideranças Indígenas do Careiro da Várzea – OLIMCV | AM | Norte |
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira | AM | Norte |
Coletivo Arewá | BA | Nordeste |
Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) | PE | Nordeste |
Articulação Nacional das Mulheres Indígenas, Guerreiras das Ancestralidades – ANMIGA | DF | Centro-Oeste |
O processo de seleção
O edital “Povos Indígenas Lutando Por Justiça Climática” reforça a importância dos conhecimentos tradicionais dessas comunidades na luta contra a crise climática, promovendo soluções conectadas com a natureza para o enfrentamento deste desafio global.
“O modo de vida dos povos indígenas contribui para um meio ambiente equilibrado. Eles são os nossos maiores defensores. E quando os povos indígenas falam de gestão ambiental, também tratam de gestão territorial. Não se separam uma coisa da outra. Porque quando eles tratam das questões de defesa do território, trazem a natureza e sua proteção junto”, enfatizou Paulo Pankararu.
A seleção dos projetos é feita por defensores de direitos humanos com profundo conhecimento do território e da temática. São especialistas externos e independentes. Neste ano, o Comitê de Seleção do Edital contou com quatro integrantes:
Inimá Krenak, cientista social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e gestora de projetos do Fundo Casa Socioambiental; Isabel Taukane, do povo Kurâ-Bakairi, pesquisadora indígena, doutora em Estudos de Cultura Contemporânea pela Universidade Federal de Mato Grosso UFMT; Mariazinha Baré, coordenadora executiva da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amazonas (APIAM) e conselheira do Fundo Podáali – Fundo Indígena da Amazônia Brasileira; Paulo Pankararu, conhecido como primeiro advogado indígena do Brasil, mestre em Direito Socioambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Mais de 85 povos representados
Mais de 231 projetos foram inscritos. “Um grande número de projetos que poderia ser apoiado. Todos com muita qualidade e com temáticas fundamentais. O grande desafio é nomear os prioritários. A gente precisou olhar para o número de territórios para serem cobertos. Selecionamos uma variedade de povos e de regiões”, explicou Isabel Taukane.
Foram selecionadas propostas das cinco regiões brasileiras e de 16 estados. O edital teve a participação de mais de 85 povos representados. Dentre eles: Akroá Gamella; Amanayé; Anacé; Apinajé; Apurinã; Apyãwa; Arapyun; Balatiponé-Umutina; Baniwa; Baré; Borari; Bororo; Cinta Larga; Deni; Geripankó; Guajajara; Guarani Mbya; Guarani Nhandeva; Haliti-Paresí; Hixkaryana; Huni Kuin; Iny; Isú-Kariri; Jaminawa Arara; Jenipapo-Kanindé; Jiahui; Juma; Kaingang; Terena; Xakriabá; Xokleng.
“Eu fiquei surpreso positivamente com todos os projetos. Com os locais que participaram. Isso mostra o cenário do país e o quanto determinados grupos, de certas localidades, precisam de mais apoio. Essa variedade também é uma oportunidade para que os povos indígenas criem diversas estratégias de defesa da vida e do território”, destacou Marcelo Furtado, diretor do Instituto Itausa.
A diversidade regional é um dos critérios e compromisso do Fundo Brasil com apoio em seus editais. Essa variedade representa, para a fundação, oportunidade de leitura, a partir do campo, sobre as estratégias para enfrentamento e garantia dos direitos.
“Esse é um edital que é fundamental para a gente. Não só a troca de tecnologia, mas a troca de conhecimento, sobre como lidar com as diversas situações. Como a gente pode aproveitar para criar oportunidade para que os grupos aprendam uns com os outros e se fortaleçam”, disse Ana Valéria Araújo.
Dentre as principais demandas apontadas pelas organizações apoiadas estão implantação de sistema agroflorestal; atividades de monitoramento territorial; apoio a roçados, plantações, hortas comunitárias; atividades de articulação; artesanato comunitário; apoio a atividades de desenvolvimento de plano de gestão territorial e ambiental.
“A gente teve projetos da bacia do rio, projetos sobre monitoramento territorial, georreferenciamento. Também sobre a construção de alimentação e de manutenção das pessoas, com formações. Os povos indígenas nos mostram o quanto protegem o nosso território, o nosso bioma, produzindo. E, com esse olhar e vivência do território, conseguem dizer pra gente o que é fundamental apoiar no momento”, contou Inimá Krenak.
Todos os projetos selecionados receberão e-mails da equipe do Fundo Brasil nos próximos dias.