Em comemoração a primeira década de atividades em prol da justiça social, direitos humanos, cidadania e desenvolvimento comunitário, a Rede de Filantropia para a Justiça Social (RFJS), realizou nos dias 20 e 21 de setembro, o seminário Filantropia, Justiça Social, Sociedade Civil e Democracia, na Unibes Cultural, em São Paulo.
Além de comemorar os 10 anos da RFJS, o encontro também visou fomentar o debate sobre a relevância de doações para a sociedade civil e o papel da filantropia para a justiça social. Dezenas de organizações nacionais e internacionais participaram do evento, que contou também com transmissão on-line.
Ao longo dos dois dias, o Fundo Brasil de Direitos Humanos, que integra a Rede de Filantropia para a Justiça Social desde a sua criação, em 2012, compartilhou, em diferentes debates, a experiência de mais de 15 anos no apoio estratégico a grupos, coletivos e organizações da sociedade civil na luta em defesa e acesso a direitos.
O Fundo Brasil dividiu contribuições em debates como: o papel da Rede no ecossistema filantrópico nacional e internacional; filantropia decolonial – caminhos e desafios no Brasil; Filantropia e agenda de proteção emergencial aos defensores dos direitos humanos e do meio ambiente; e o fortalecimento de territórios a partir de experiências de filantropia colaborativa.
Trajetória de 10 anos da Rede
O painel de abertura do evento, no dia 21, tratou da trajetória e papel da Rede no ecossistema filantrópico nacional e internacional ao longo dos seus 10 anos de atuação.
Ana Valéria Araújo, superintendente do Fundo Brasil participou do bate-papo ao lado de Harley Nascimento, coordenador geral do Fundo Positivo; Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial; e Roberto Vilela, diretor executivo do Tabôa. A mediação ficou por conta de Cristiane Azevedo, do ISPN – Instituto Sociedade População e Natureza.
A superintendente do Fundo Brasil destacou os avanços da Rede em sua missão ao logo da última década. “Nós começamos com oito fundações fazendo parte da Rede. Hoje somos 16. Isso já diz muito sobre o quanto crescemos. O que uniu os grupos da rede foi entender que trabalhar com o grandmaking era fundamental, era confiar nos grupos, tendo a certeza da capacidade deles de fazer a transformação que a gente deseja”, destacou Ana Valéria.
“Hoje a Rede pauta a agenda de filantropia, daquilo que é efetivamente fundamental para esse campo. Por isso nós devemos celebrar. Nós viramos o jogo, fizemos a diferença e estamos aqui prontos para crescer ainda mais”, finalizou a superintendente do Fundo Brasil.
Além das mesas que abordam diretamente os temas centrais do evento, as organizações membro da Rede de Filantropia para Justiça Social preparam alguns debates colaborativos em torno da filantropia em diferentes campos.
Na mesa Filantropia e a agenda de Proteção Emergencial aos Defensores/as de Direitos Humanos e Meio Ambiente, organizado pelo Fundo Casa Socioambiental, o assessor de Projetos do Fundo Brasil, Alexandre Pachêco, ressaltou a importância dos apoios emergenciais para salvar vidas, a partir da experiência da fundação na criação do Fundo Emergencial de Apoio a Defensores e Defensoras e da linha específica voltada a lideranças indígenas.
“O Fundo Brasil enxerga o território a partir do acompanhamento das organizações que apoia. A experiência em apoio a defensores e defensoras acontece desde sua fundação. Mas desde 2019 vimos a necessidade maior, a partir da escuta, de ter Fundos Emergenciais de apoios voltados exclusivamente para essa proteção. Neste trabalho, temos apoiado grupos e lideranças também a desnaturalizarem o risco e as ameaças, além de reconhecerem a necessidade de se proteger diariamente”, disse o assessor durante o bate-papo.
Filantropia Decolonial e colaborativa
A quarta-feira, dia 21/09, começou com o olhar voltado para o repensar das práticas tradicionais e hegemônicas da filantropia.
Allyne Andrade, superintendente adjunta do Fundo Brasil, participou da mesa Filantropia decolonial – caminhos e desafios no Brasil e enfatizou a necessidade de mudar o entendimento das fundações sobre a forma como se doa. Ela ressaltou a necessidade de as fundações estarem mais próximas dos movimentos sociais que apoiam.
“A rede tem sido um campo privilegiado que tem muito mais a ensinar, do que aprender, em especial no campo da diversidade. Mas ainda falta muito para que esse campo da filantropia seja decolonial”, refletiu Allyne.
“A gente se convencionou a falar do que recurso chegando na ponta, na base, como se a partir do momento que a gente estivesse como trabalhador da filantropia de justiça social, a gente deixasse de ser essa base. Quando a gente faz esse discurso, a gente está estabelecendo uma diferença entre esses ativistas de direitos humanos e se colocando em um lugar de observação privilegiada da realidade. Uma parte da decolonização é entender como esses discursos têm produzido sujeitos coloniais, sujeitos desiguais”, ressaltou a superintendente adjunta do Fundo Brasil.
A mesa também contou com a participação de Cassio Aoqui, CEO da ponteAponte, Diane Pereira Sousa, presidente do Instituto Comunitário Baixada Maranhense, e Ese Emerchi, da Global Fund for Community Foundations.
Ainda no segundo dia, na parte da tarde, a mesa Filantropia Colaborativa: desafios e perspectivas no campo da Filantropia pela Justiça Social apresentou a experiência e os resultados da Aliança entre Fundos, iniciativa que reúne Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental. A mesa trouxe, por exemplo, reflexões sobre a razão pela qual os Fundos escolheram essa forma de enfrentamento aos impactos da Covid-19 para fomentar a justiça social.
Juliane Yamakawa, assessora de projetos do Fundo Brasil, destacou os desafios e os aprendizados da iniciativa.
“A experiência dessa filantropia colaborativa, nessa Aliança Entre Fundos, nos mostrou o quanto podemos ser ainda mais potentes e assertivos em conjunto. É um desafio, porque cada fundação tem uma maneira de fazer. Mas captar conjuntamente só faz crescer e potencializar os resultados dos grupos apoiados. Uma das nossas premissas era justamente olhar para onde os recursos não chegavam. A maioria dos grupos apoiados recebeu recursos pela primeira vez. Isso mostra a importância da iniciativa conjunta”, contou.
Também participaram desta mesa Cristina Orpheo, do Fundo Casa Socioambiental, Fernanda Lopes, do Fundo Baobá para Equidade Racial, e Fernanda Meister, do Instituto Meraki. A mediação foi feita por Érika Sanches, do Instituto ACP.
Além de seis mesas centrais de debates, a programação ainda contou com workshops e lançamentos de pesquisas e publicações da área, além da realização de reuniões de alianças e programas internacionais relacionados à filantropia em cooperação Sul-Sul.
Em celebração aos 10 anos, a Rede de Filantropia para Justiça Social apresentou aos participantes sua nova identidade. A partir de agora, a Rede passa a se chamar Rede Comuá.
Sobre a Rede
Criada em 2012, a Rede de Filantropia para a Justiça Social reúne fundos e fundações comunitárias, organizações doadoras (grantmakers) que mobilizam recursos de fontes diversificadas para apoiar grupos, coletivos, movimentos e organizações da sociedade civil que atuam nos campos da justiça social, direitos humanos, cidadania e desenvolvimento comunitário.
A organização tem por propósito promover e diversificar uma cultura filantrópica no Brasil que garanta e amplie os recursos para a justiça social.
Além do Fundo Brasil, integram o quadro de sócios fundadores as seguintes organizações membros: Fundo Baobá, Fundo Elas+, Fundo Casa Socioambiental, ICOM (Instituto Comunitário da Grande Florianópolis), Instituto Baixada, Fundo Positivo, Casa Fluminense, ISPN (Instituto Sociedade População e Natureza), Redes da Maré, iCS (Instituto Clima e Sociedade), FunBEA (Fundo Brasileiro de Educação Ambiental), Tabôa e Instituto Procomum.