O Fundo Brasil vai doar R$ 490 mil para apoiar iniciativas que enfrentem o racismo a partir de ações diretas junto à realidade vivida pela população negra no Brasil. O edital “Enfrentando o racismo a partir da base: mobilização para defesa de direitos”, realizado em parceria com a Fundação Open Society, foi lançado nesta quarta-feira, dia 13, durante debate ao vivo sobre o tema. O debate foi transmitido pelo Facebook.
Os projetos apoiados receberão até R$ 70 mil cada um e deverão realizar suas atividades em um prazo máximo de 18 meses de duração. As propostas devem ser encaminhadas pela internet e, para concorrer, os grupos e organizações devem encaminhar as inscrições, com todas as informações solicitadas, até as 23h59 do dia 31 de agosto de 2018. O resultado será divulgado no dia 20 de novembro de 2018, Dia Nacional da Consciência Negra.
O edital completo pode ser lido aqui.
O debate ao vivo para o lançamento do edital foi mediado pela jornalista Simone Nascimento, assessora de comunicação do Fundo Brasil, e teve como convidados Douglas Belchior, consultor da fundação nos temas Justiça Criminal, Violência de Estado e Encarceramento; Maria Teresa Ferreira, do Momunes – Movimento de Mulheres Negras de Sorocaba; e Renata Prado, da Frente Nacional de Mulheres no Funk. As duas organizações são apoiadas pelo Fundo Brasil.
Durante o debate, Douglas falou sobre o mapeamento de organizações que enfrentam o racismo que ele conduziu nos últimos meses, a partir de uma iniciativa do Fundo Brasil em parceria com a Fundação Open Society. Ele percorreu oito estados brasileiros e teve contato com 200 coletivos.
“Há uma diversidade, radicalidade e uma quantidade muito significativa de iniciativas de resistência ao racismo”, disse.
São iniciativas que podem ganhar ainda mais força a partir de apoios como o oferecido pelo edital recém-lançado.
Na opinião de Maria Teresa, apoios como o oferecido pelo Fundo Brasil existem para que os grupos, organizações e coletivos possam resistir, persistir e crescer.
“A gente precisa ocupar os espaços. Essa é uma oportunidade para isso”, afirmou.
Renata Prado relatou um pouco de sua experiência para ressaltar a importância de editais como o lançado pelo Fundo Brasil. Ela disse que, quando começou na militância, não conhecia ferramentas de apoio e, por isso, muitas ideias ficaram no caminho.
“Hoje, com a colaboração do Fundo Brasil, o Movimento de Mulheres no Funk consegue ser um projeto bem-sucedido porque existe uma organização que fomenta essas ideias”, contou.
Contexto
Recém-divulgado, o Atlas da Violência 2018 mostra que o Brasil atingiu pela primeira vez em sua história o patamar de 30 homicídios por 100 mil habitantes. A taxa foi registrada em 2016 e corresponde a 62.517 homicídios – 30 vezes mais do que o registrado na Europa.
O estudo, realizado pelo Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, reforça a seletividade no perfil das vítimas de violência. De todas as pessoas assassinadas no Brasil em 2016, 71,5% eram negras.
De 2006 a 2016, o número de negros vítimas de homicídio aumentou 23%, enquanto o de não-negros diminuiu 6,8%.
Também no contexto da violência, os números do feminicídio (assassinato de mulheres por sua condição de gênero) também revelam o racismo no país. Entre 2003 e 2013, o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54% enquanto o índice de feminicídios de brancas caiu 10% no mesmo período de tempo. Os dados são do Mapa da Violência 2015, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais.
Outro dado diz respeito à população prisional. Mais da metade das 622 mil pessoas encarceradas no Brasil são negras, segundo o Infopen – Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias.
Em relação à desigualdade salarial, a Oxfam mostra na pesquisa “A distância que nos une – Um retrato das desigualdades brasileiras” que os brasileiros brancos ganhavam em 2015 o dobro do que os negros.
Fundo Brasil
O Fundo Brasil é uma fundação independente, sem fins lucrativos. É um elo entre doadores e organizações locais. Oferece apoio financeiro e técnico a essas organizações, para viabilizar projetos de defesa e promoção de direitos humanos. São iniciativas que empoderam pessoas e fortalecem a sociedade civil.
A fundação atua para que integrantes de grupos vulneráveis e vítimas de violações possam ser protagonistas de suas próprias causas, ampliando suas vozes para defendê-las.
A fundação tem ainda o objetivo de dar visibilidade ao papel das organizações na defesa dos direitos humanos. É também dessa forma que contribui para transformar realidades de violação e para o fortalecimento da democracia.
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Reveja aqui o debate ao vivo de lançamento do edital