A situação de um Brasil imerso na pandemia de Covid-19, em que a maioria da população tenta se equilibrar entre a necessidade de se proteger da doença e a de manter seu sustento, é ainda mais crítica para as populações LGBTI+ que vivem em favelas e periferias desassistidas. Sem acesso a trabalho e expostas a violências no ambiente familiar, essas pessoas lutam diariamente pela sobrevivência, expostas ao risco de contaminação.
Para conversar sobre as especificidades da população LGBTI+ de favela e sua atuação na defesa dos direitos humanos nos territórios de favelas, o Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de Favelas, do Rio de Janeiro, convidou a superintendente do Fundo Brasil, Ana Valéria Araújo.
A live ocorreu na terça-feira, 16 de junho. A partir do trabalho realizado pelo grupo no Complexo da Maré e territórios adjacentes, a mediadora Mariah Rafaela conduziu a conversa entre a diretora executiva do grupo, Gilmara Cunha, e a superintendente do Fundo Brasil, Ana Valéria Araújo.
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O Conexão G executa, atualmente, seu terceiro projeto apoiado pelo Fundo Brasil: ‘Meia infância – combate à exploração do trabalho infantil nas favelas’, aprovado no âmbito do edital Combatendo o Trabalho Infantil na Indústria da Moda. Em editais anteriores, o Fundo Brasil apoiou os projetos ‘Igual a você, eu também exijo meus direitos!’, no edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base, e ‘Jovens LGBT na luta pelo direito de existir’, na linha Juntos/as Contra a Violência que Mata a Juventude Brasileira.
Como muitas organizações da sociedade civil neste momento, o grupo está revendo sua atuação e buscando um papel ativo no enfrentamento à pandemia em seu território.
“Nós temos pensado em estratégias de como levar informação para travestis e transexuais nas favelas, principalmente para quem trabalha em espaços de prostituição e acaba se colocando mais uma vez em risco”, disse Gilmara Cunha. “A população de travestis e transexuais não começou o processo de isolamento agora. Essas pessoas vivem isoladas desde que nasceram, por conta da sua identidade de gênero”, disse a ativista.
Criminalização. Com um ano de vigência da decisão do Supremo Tribunal Federal que criminaliza a LGBTIfobia no Brasil, a live também abordou impactos desse entendimento dentro das favelas.
Para Gilmara Cunha, é uma vitória do movimento LGBTI. Mas ela pontua: “Pensar em favela e pensar em pessoas LGBTI é pensar por meio da opressão, da segurança pública. O Brasil lidera o número de assassinatos de pessoas LGBTIs, mais especificamente a população trans. E é assim porque a certeza da impunidade é muito grande. Então essas leis efetivamente não funcionam. Nós ainda vamos reivindicar a existência, o direito à vida”.
A superintendente do Fundo Brasil lembrou que trabalhos como o do Conexão G são fundamentais porque fazem a defesa da democracia no dia a dia. “O que o Fundo Brasil busca nos projetos é o relato realista do que acontece. A capacidade de leitura da organização sobre o problema que ela pretende resolver. O grupo tem de estar conectado com a sua comunidade, com quem está sofrendo com a violação de direitos”, disse Ana Valéria.
Ela também comentou a atual narrativa, construída pelos ocupantes dos poderes públicos com inclinações extremistas. “Criminalizar a atuação da sociedade civil organizada é criar uma narrativa que transforma ativistas e organizações em vilões. Isso dificulta a força da organização, deslegitima seu trabalho, para que não tenha o apoio da sociedade. Assim desqualificados, é mais fácil de incriminar essas organizações por suas ações, atos, manifestações.”
Debate online. No mês do orgulho LGBTI+, a plataforma Brasil de Direitos, site que reúne informações sobre as diversas temáticas dos direitos humanos produzidas por grupos de base e ativistas apoiados pelo Fundo Brasil, vai debater políticas públicas para efetivar os direitos dessa população.
Nesta terça-feira, dia 23 de junho, ocorrerá o debate online “LGBTIfobia, criminalização e políticas públicas”. As convidadas são Manoela Alves, vice-presidente do Movimento LGBT Leões do Norte, Mariah Rafaela Silva, colaboradora do Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de Favelas, e Rafaelly Wiest, diretora de informação do Grupo Dignidade.
O debate será ao vivo no Facebook da Brasil de Direitos. Clique aqui para saber mais e assistir ao debate.