A socióloga Margarida Genevois, uma das instituidoras do Fundo Brasil de Direitos Humanos, completa nesta sexta-feira, 10 de março de 2023, 100 anos de vida.
Presidente de honra da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – a Comissão Arns, de cujas reuniões participa ativamente, segundo matéria do jornalista Camilo Vannucchi (disponível aqui para assinantes) -, Margarida foi criada na classe média alta, mas cedo despertou para a gravidade das violações de direitos que a desigualdade brasileira impõe às pessoas mais vulneráveis. Ainda na faixa dos 20 anos, casada com um engenheiro francês diretor de uma multinacional, começou a militar por educação e saúde para os filhos de trabalhadores da fazenda onde foi morar, em Campinas.
“Uma coisa puxa a outra e quando a gente vê está mergulhada até o pescoço”, disse Margarida em entrevista à equipe do Fundo Brasil, disponível para leitura aqui.
Em 1973, passou a integrar a Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, então recém-criada por dom Paulo Evaristo Arns, de quem Margarida foi amiga e companheira de luta a partir dali durante toda a vida de ambos. Presidiu a comissão por três mandatos.
“Fui a primeira mulher e durante muito tempo era a única. Os advogados contavam sobre as pessoas que tinham procurado por eles para contar sobre as torturas, os desaparecimentos. Levei um susto, não tinha ideia daquilo. Ninguém sabia. Eu contava e até meu marido, amigos, ninguém acreditava”, disse ela à equipe do Fundo Brasil, em 2016.
Além dos brasileiros perseguidos pelo regime militar, Margarida apoiou também perseguidos políticos da Argentina e do Chile.
“Os apelos eram muitos. Meu serviço era ouvir, fazer um resumo, depois encaminhar para os advogados da comissão e outros que tinham afinidade e aceitavam defender os perseguidos políticos”, contou.
Margarida Genevois atuava em múltiplas frentes. Ia à Europa captar recursos para a comissão. Com uma carta de apresentação assinada por dom Paulo Evaristo Arns, obteve recursos de países como França, Alemanha e Holanda. Foram quatro décadas de atuação conjunta com o cardeal.
Em sua trajetória, Margarida integrou o Conselho Deliberativo da Conectas Direitos Humanos, organização à qual continua associada. Participou de movimentos de mulheres, foi ligada à Secretaria Municipal de Direitos Humanos da cidade de São Paulo, criou a Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos para defender a formação como a melhor alternativa para construir um mundo melhor. Integrou a Comissão Justiça e Paz Nacional e o Conselho Nacional dos Direitos Humanos.
Em 2006, uniu-se a Abdias do Nascimento, dom Pedro Casaldáliga e Rose Marie Muraro para instituir o Fundo Brasil de Direitos Humanos, com a missão de apoiar a sociedade civil organizada na luta por direitos fundamentais.
É uma honra e uma inspiração para o Fundo Brasil ter o nome e o legado de Margarida Genevois em nossa origem e como inspiração. Celebramos a vida de Margarida Genevois!