Ativistas de organizações apoiadas pelo Fundo Brasil em parceria com a Fundação Open Society participaram na semana passada, nos Estados Unidos, de um intercâmbio que incluiu a troca de experiências com grupos e militantes de vários países sobre questões relacionadas ao enfrentamento ao racismo, justiça criminal e ao fim da guerra às drogas.
O intercâmbio entre organizações e ativistas é incentivado pelo Fundo Brasil como uma forma de possibilitar a troca de aprendizado e o fortalecimento de estratégias de atuações conjuntas.
As organizações que participaram do intercâmbio foram a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, o Gajop – Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares, o IDEAS – Assessoria Popular e o Inegra – Instituto Negra do Ceará. Também fizeram parte Maíra Junqueira, coordenadora executiva adjunta e coordenadora de relacionamento com a sociedade do Fundo Brasil; Pedro Lagatta, assessor de projetos do Fundo Brasil; Douglas Belchior, consultor do Fundo Brasil; e Raull Santiago, do coletivo Papo Reto – Complexo do Alemão.
Os ativistas estiveram em Nova Iorque e Atlanta. E, como forma de compartilhar a experiência, o grupo preparou um diário sobre as principais atividades realizadas durante a viagem, o que inclui fotos e vídeos.
Acompanhe:
Terça-feira, dia 10 – Nova Iorque
Logo na chegada, Douglas Belchior, consultor do Fundo Brasil, conversou com o grupo sobre o intercâmbio. Veja o vídeo:
Também no primeiro dia, o grupo almoçou com integrantes da Fundação Open Society para conversar sobre evento que seria realizado à noite, o “Policing Black Bodies: Do Black Lives Matter?”, um debate sobre violência policial contra a população negra no Brasil e nos Estados.
Os parceiros do Fundo Brasil apresentaram suas visões sobre o contexto brasileiro em relação à violência policial, violência no sistema de justiça criminal e prisional e a relação com o racismo estrutural.
O debate foi realizado no final da tarde do mesmo dia. Foi realizado pelo Fundo Brasil, Open Society´s Human Rights Initiative e Justice Roundtable e reuniu ativistas negros e negras de Brasil e Estados Unidos para trocar experiências de resistência e falar sobre desafios.
Para ver a íntegra do debate, clique aqui.
Os participantes foram Jasmine Mickens (moderatora), associada de políticas sênior da Fundação Open Society; Wagner Moreira Campos, do IDEAS; Marlon Peterson, fundador e diretor do The Precedential Group, Francisca Sena, do Inegra; e Jennifer Shaw, oficial de programa da Fundação Open Society.
Ainda na terça, o grupo participou da Smart on Crime – The Innovations Conference, realizada no John Jay College.
Quarta-feira, dia 11 – Nova Iorque
Neste dia foi realizada uma sessão estratégica para troca de experiências entre os representantes de projetos apoiados pelo Fundo Brasil, o consultor Douglas Belchior o ativista Raull Santiago e os seguintes convidados: Marlon Peterson, do Precedential Group; Marbre Stahly-Butt, do Law for Black Lives; Mary Miller Flowers, da Fundação Open Society; Soheila Comninos, da Fundação Open Society; Jasmine Mickens, da Fundação Open Society; Nkechi Taifa, da Fundação Open Society; e Jose Woss, do Friends Committee on National Legislation.
Foi uma oportunidade de compartilhar visões sobre a sociedade civil e debater prioridades e atuações em relação ao enfrentamento à discriminação racial e à violência contra a população negra.
Quinta-feira, dia 12 – Atlanta
Uma reunião da delegação latino-americana presente em Atlanta para participar da Reform Conference foi a primeira atividade na cidade. Por volta de 40 pessoas do Brasil, Argentina, Colômbia e Uruguai participaram de uma roda de conversa onde foram divulgadas as prioridades de cada um para a conferência.
Em seguida, o grupo assistiu a abertura da conferência, com apresentação de Michelle Alexander, autora do livro “The New Jim Crow”, considerado um marco para a discussão do racismo e sistema de justiça criminal.
Michelle ressaltou que os países com maior diversidade racial, como os Estados Unidos e o Brasil, são também os mais punitivos em relação às drogas. Isso porque elas servem para segregar os diferentes.
Leia aqui a cobertura do jornal Folha de S.Paulo à conferência.
Ao longo do dia, os ativistas seguiram na conferência e às 18 horas participaram de uma recepção oferecida pela Fundação Open Society. Além do Fundo Brasil e seus apoiados, marcaram presença organizações como a Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas; o Centro e de Lei; o coletivo Movimentos; o IBCCRIM; a Plataforma Brasileira de Política de Drogas; e a socióloga Julita Lemgruber.
Foram discutidas questões como a política de redução de danos; o enfrentamento ao racismo no campo da justiça criminal, da prisão provisória e do encarceramento em massa; e a luta contra a guerra as drogas no Brasil.
Sexta-feira, dia 13 – Atlanta
Em visita ao Racial Justice Action Center, o grupo conheceu a organização que implementa um programa para acolher e facilitar o acesso de pessoas que cometeram determinados delitos ao sistema de saúde e à assistência social.
O objetivo é evitar o encarceramento dessas pessoas, por meio do programa Pre-Arrest Diversion.
O Racial Justice Action Center conta com uma rede de equipamentos nas áreas de saúde e assistência social e parcerias com instituições do sistema de justiça criminal.
Veja aqui o diálogo entre Douglas Belchior e Diogo Cabral, da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, sobre o intercâmbio:
Sábado, dia 14 – Atlanta
Em visita ao Martin Luther King National Historic, o grupo conheceu a casa em que nasceu o líder do movimento em defesa dos direitos civis negros.
No mesmo dia, aconteceu o encerramento da Reform Conference. Wagner Moreira Campos, do IDEAS, foi convidado a falar sobre a centralidade do fim da guerra ás drogas para o combate ao genocídio da população negra no Brasil e no mundo.
O pronunciamento de Wagner pode ser assistido aqui, a partir dos 5min10.
Ele ressaltou o fato de a guerra às drogas alimentar o sistema de justiça criminal e prisional, produzir mortes de negros e negras e ser uma engrenagem do genocídio.
Ainda no sábado, os ativistas apoiados pelo Fundo Brasil conversaram com Deborah Small, ativista negra americana e diretora executiva da Break the Chains, que luta para que comunidades afetadas tornem-se protagonistas do movimento pelo fim de tal guerra.
Durante os dias de conferência, os brasileiros assistiram vários painéis que contaram com a participação de Deborah, com temas como a necessidade de o trabalho das organizações priorizarem as pessoas mais afetadas pela violência; a criminalização em massa da população jovem e negra; a relação entre guerras às drogas e racismo; e os impactos em países como Brasil, Jamaica, França e Reino Unido.
Veja o depoimento dos participantes ao final do intercâmbio: