Ativista histórico do movimento negro no Brasil, Abdias Nascimento foi o tema de audiência pública realizada nesta segunda-feira (24) na Comissão de Direitos Humanos do Senado. A comissão apresentou e debateu o legado de Abdias, um dos instituidores do Fundo Brasil de Direitos Humanos.
Abdias foi senador e deputado federal pelo Rio de Janeiro, jornalista, poeta e ativista. Fundou, junto com amigos, o jornal “O Quilombo”, publicação que garantia espaço a grupos sociais marginalizados.
Foi também um dos principais idealizadores do Dia da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro. Chegou a ser recomendado pelo governo federal ao Prêmio Nobel da Paz, mas não ficou entre os finalistas.
“A vida do Abdias nos dá a oportunidade de refletir sobre a história do Brasil”, disse Elisa Larkin Nascimento, representante do Ipeafro (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros), viúva de Abdias e autora de um livro sobre a história do ativista. Para ela, a trajetória de Abdias contempla a história da população negra no Brasil.
Na abertura da audiência, ela lembrou, por exemplo, que na época da escravidão havia uma população negra que era protagonista, não vivia na miséria e era proprietária de estabelecimentos comerciais. Devido ao temor da elite branca da época, essa população foi perseguida e destituída de seus bens. Isso aconteceu com um tio de Abdias, dono de padaria e selaria.
Nascido em Franca, no interior de São Paulo, Abdias foi o segundo filho da doceira Josina e do músico e sapateiro Bem-Bem. Estudou contabilidade e mudou para São Paulo ainda na juventude. Em 1930 entrou para a Frente Negra Brasileira e começou a lutar contra a segregação racial em estabelecimentos comerciais.
Abdias foi o fundador do Teatro Experimental do Negro e pioneiro na proposta de inclusão de políticas públicas para a população afro-descendente. Organizou o 1º Congresso do Negro Brasileiro, em 1950 e foi o primeiro deputado federal afro-brasileiro no país. Apresentou projetos de lei definindo o racismo como crime, linha que continuou como senador em 1991 e no período de 1996 a 1999.
Debates e apresentações culturais marcaram os 100 anos de Abdias, em março do ano passado. Ele morreu em março de 2011, aos 97 anos.
Além da homenagem, a audiência pública debateu questões atuais ligadas ao legado de Abdias, como a defesa da igualdade racial, o enfrentamento à intolerância religiosa e ao genocídio da juventude negra.