Aos seis anos, a pequena Olívia já tem no “currículo” a participação em várias reuniões, manifestações e atos públicos. Filha da feminista Viviane Menezes Hermida, a criança costuma acompanhar a mãe nas ações de militância.
Viviane, que é conselheira do Fundo Brasil e assessora de projetos e formação na Cese – Coordenadoria Ecumênica de Serviço, em Salvador (BA), teve a filha como companhia, por exemplo, na manifestação de 8 de março, Dia Internacional da Mulher, e temeu pelo cansaço da pequena na maratona que encarariam na data em que mulheres do mundo inteiro foram para as ruas defender os seus direitos.
Olívia, no entanto, teve mais fôlego que a mãe e, no final da caminhada, pediu para ficar mais e assistir as apresentações culturais que aconteceriam. Também pintou o rosto com motivos tribais e batucou com as participantes da Marcha Mundial das Mulheres.
“Quando ela vê mulheres discursando, costuma dizer: essa é guerreira”, conta a conselheira.
Viviane já era ativista antes da filha nascer e, ao tornar-se mãe, passou a encarar os desafios impostos por uma sociedade ainda machista, como a falta de estrutura dos serviços públicos, a ausência de apoio da sociedade em geral para as mães e até mesmo a falta de espaço e de acolhida para a maternidade nos movimentos sociais.
Encontra a solidariedade de outras mulheres, mas, mesmo assim, precisa lidar com dificuldades estruturais e também com as cobranças para que tenha o mesmo desempenho como militante do que na época em que não tinha a filha.
Muitas vezes precisa levar a criança para acompanhá-la em reuniões cansativas. Só assim consegue participar. Não à toa, a menina sabe muito bem como acontecem esses encontros e desde os três anos brinca em casa de fazer reuniões, reproduzindo os rituais típicos dos eventos de ativistas.
Viviane questiona o mito da supermulher que consegue desempenhar todas as atividades com excelência. Sincera, afirma que em certos momentos é preciso escolher o que priorizar. E lidar com a culpa por estar ausente em um outro lugar.
Quando está longe da filha, a feminista lembra para si mesma que “lutar é cuidar” e que, ao militar, ajuda a construir um mundo melhor para Olívia. Mas não escapa de imaginar que a criança gostaria de ter a mãe ao lado em todas as festinhas, compromissos escolares, etc.
“Além de dar nó em pingo d´água, ainda somos taxadas quando faltamos em alguma festinha…”, diz, em seu tom “a vida como ela é”.
Viviane afirma, convicta, que as soluções precisam ser coletivas e é por isso que ela briga diariamente.
Para Olívia, explica contextos políticos e a necessidade de lutar. Acredita que a filha já notou a sua satisfação com a militância. Viviane sente-se digna. A filha gosta.
A criança sabe de cor as palavras de ordem dos movimentos sociais e às vezes, de forma divertida, confunde uma frase ou outra.
“Pisa ligeiro”, por exemplo, virou “pisa no gelo”.
Quem não pode com a formiga, não assanha o formigueiro.
#MãesDeLuta