Ao imaginar o seu futuro, Maria Laura dos Reis, 35 anos, sonha em ter estabilidade financeira, uma casa e uma vida conjugal feliz. Isso para a vida pessoal. Os desejos da ativista em relação à causa que ela defende vão muito além.
“Almejo muitas coisas. Uma delas é um mundo sem preconceito, sem discriminação, em que as pessoas respeitem as outras”, diz.
Ela é secretária-geral do GPTrans (Grupo Piauiense de Transexuais e Travestis) e, diariamente, luta por um país em que existam legislações específicas para a população LGBT e que, como determina a Constituição, todas e todos sejam iguais.
“Isso ainda é um desafio. Espero que um dia alcancemos esse objetivo”, afirma
A travesti é a quarta retratada na série #ElasTransformam, produzida pelo Fundo Brasil para mostrar a força de ativistas que ajudam a construir um país melhor. O grupo em que ela atua já foi apoiado pela fundação em duas ocasiões: por meio do projeto “A gente transforma”, em 2012; e por meio do projeto “Trans Forma Ação”, em 2014.
Desde a infância, no bairro Mafrense, em Teresina (PI), Maria Laura não se identifica com o comportamento masculino. Quando era criança, não gostava das brincadeiras em geral associada aos meninos. Na adolescência, percebeu a sua identidade e também notou que para muitas famílias era uma vergonha ter travestis em casa.
Mas teve sorte e não sofreu discriminação entre os seus familiares. Não foi reprimida e sim encarada com naturalidade. O medo de que sofresse violência e preconceito, no entanto, existia. A família queria proteger Maria Laura das situações de violência que podem fazer parte da vida de uma travesti.
Ela cresceu inconformada com a segregação da população LGBT. Chega a sentir repugnância diante de uma situação discriminatória. Fica indignada ao ver pessoas expulsas de determinados espaços por manifestarem afeto umas com as outras. Não tolera que travestis e transexuais sejam violentadas e não tenham acesso à educação escolar e ao mercado de trabalho formal.
Então, Maria Laura milita para que isso não aconteça. No GPTrans, ao lado de outras ativistas, defende a promoção da cidadania; orienta sobre as possibilidades de acesso a políticas públicas; dialoga com os governos municipal e estadual; trabalha para a criação de mecanismos de inclusão; enfrenta as questões problemáticas em relação à segurança pública; atua nas áreas da saúde, justiça e direitos humanos.
Nessa jornada, conquistou muito conhecimento, principalmente sobre a legislação e as políticas públicas. Também enfrentou – e enfrenta – resistências e dificuldades.
No Piauí, um dos grandes problemas enfrentados por travestis e transexuais é o tratamento desrespeitoso de alguns gestores e servidores públicos em relação à identidade de gênero. É comum, por exemplo, que travestis e transexuais sejam chamadas pelo nome civil e não pelo social.
Com o apoio do Fundo Brasil, o GPTrans conquistou uma representatividade maior para as travestis e transexuais junto ao poder público.
“Avançamos bastante, entrando em órgãos até então tido como conservadores”, diz Maria Laura sobre a atuação. Veja aqui vídeo com outras declarações da ativista sobre o trabalho realizado.
Fundo Brasil
O Fundo Brasil é uma fundação independente, sem fins lucrativos, que tem a proposta inovadora de construir mecanismos sustentáveis para destinar recursos a defensores e defensoras de direitos humanos em todas as regiões do pais.
A fundação atua como uma ponte entre organizações locais e potenciais doadores de recursos.
Em dez anos de atuação, a fundação já destinou R$ 12 milhões a cerca de 300 projetos em todas as regiões do país. Além da doação de recursos, os projetos selecionados são apoiados por meio de atividades de formação e visitas de monitoramento que fortalecem as organizações de direitos humanos.
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