Um ato político e cultural marca hoje, em São Paulo, os dez anos dos Crimes de Maio, episódio em que mais de 500 civis foram assassinados no estado de São Paulo após as mortes de policiais provocadas pelo PCC. Familiares, amigos e ativistas vão participar, às 14h, no Centro Cultural Jabaquara, da inauguração da pedra fundamental do Memorial dos Crimes de Maio e das Vítimas do Genocídio Democrático.
A inauguração terá a presença das Mães de Maio e da Rede Nacional de Mães e Familiares, além de participações de grupos como o bloco Ilú Obá De Min, formado por mulheres negras, e o coletivo feminista Fala Guerreira, que atua na periferia de São Paulo.
Os crimes ocorreram entre 12 e 20 de maio de 2006. Em busca de justiça, memória e reparação, um grupo de mães e familiares se reuniu após a matança e fundou o movimento Mães de Maio, hoje reconhecido internacionalmente.
Segundo palavras de Débora Maria da Silva, fundadora e líder do Mães de Maio, o Fundo Brasil de Direitos Humanos foi fundamental para alavancar o movimento. A fundação apoiou a organização em 2010, 2011 e em 2015, neste último ano de forma emergencial para colaborar com o projeto “10 anos dos crimes de maio de 2006: relembrar para que não siga acontecendo”.
Além da pedra fundamental do memorial, os dez anos dos Crimes de Maio serão lembrados nesta quinta-feira (12) por meio do documentário “Não saia hoje”, que estreia no Canal Futura, às 21h.
“Não saia hoje” foi um conselho dado por várias mães aos filhos no auge da “guerra” entre o PCC e a polícia. O filho de Débora, o gari Edson Rogério Silva, foi um dos aconselhados. A líder do Mães de Maio soubera por um familiar sobre os riscos de ficar na rua. Pediu para o filho tomar cuidado, mas ele foi morto no dia 15 de maio, aos 29 anos, no caminho de casa.
“Quando mexem com o seu filho, sua cria, você se transforma numa leoa”, diz Débora em uma das cenas do documentário. “Eu me alimento dessa luta. O dia em que não saio para lutar, eu estou doente dentro de casa.”
Até hoje não houve punição para a maior parte dos assassinatos. Além de justiça, as mães ativistas lutam para que a chacina não se repita e sofrem com a sequência de matanças ocorridas no país nos últimos anos, todas parecidas com os Crimes de Maio no modus operandi.
Na quarta-feira à tarde, foi aberto o “Encontro Internacional de Mães e Familiares de Vítimas do Estado Democrático”, em São Paulo. Grupos de trabalhos temáticos discutem a pauta da violência institucional. Uma “Carta das mães em luta: pelo nascimento de uma nova sociedade igualitária justa, livre e pacífica” será divulgada no final do evento.
Os dez anos dos Crimes de Maio serão lembrados também na sexta-feira, com um desfile-escracho do Cordão da Mentira, no Largo São Francisco, Centro de São Paulo.
“O maior massacre do período democrático no Brasil jamais foi punido ou investigado. Pelo contrário. Aos mortos das periferias de São Paulo não se dá o direito de justiça e verdade”, diz o texto-convite para o Cordão da Mentira.
Federalização
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu esta semana ao Superior Tribunal de Justiça que a Polícia Federal investigue a chacina do Parque Bristol, um dos Crimes de Maio. Três homens foram assassinados por encapuzados, assim como ocorreu com outras centenas de pessoas no estado.
A federalização das investigações é uma das principais reivindicações do Mães de Maio. A decisão em relação à chacina do Parque Bristol é vista como um precedente para que o mesmo ocorra em relação a outros assassinatos da época.
Serviço
Dia 12
Inauguração da Pedra Fundamental do Memorial
Centro Cultural Jabaquara
Rua Arsênio Tavolieri, 45, Jabaquara
Exibição do documentário “Não saia hoje”
Canal Futura, às 21h
Dia 13
Cordão da Mentira
Largo São Francisco, São Paulo, às 17h