Na última terça-feira, 30, o Fundo Brasil de Direitos Humanos participou do encontro “Filantropia e Equidade Racial: desafios e modos de fazer”. Especialistas, institutos e fundações que se destacam no debate sobre equidade racial foram convidados pela Rede Temática de Equidade Racial, sob a coordenação do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) para refletir sobre a importância da filantropia e do investimento social privado para fomentar e promover iniciativas de equidade racial.
Mayana Nunes, assessora de projetos do Fundo Brasil de Direitos Humanos, participou do encontro, levando a experiência de 15 anos da fundação no campo da filantropia para justiça social e enfrentamento ao racismo.
“Nesses mais de 15 anos de atuação, a justiça racial sempre foi uma questão trabalhada pelo Fundo Brasil em seus apoios. Mas nos últimos seis anos a gente tem conseguido apoiar mais especificamente o campo antirracista a partir do edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base, que é um edital de apoio a organizações lideradas por pessoas negras. E essa é uma estratégia fundamental para ouvir e atender às demandas dos grupos de base liderados por pessoas negras”.
O evento, que integra as ações do Mês da Filantropia Negra/Black Philanthropy Month (BPM), aconteceu no auditório do Instituto Unibanco, em São Paulo, e foi transmitido pela plataforma Zoom. Esta é a segunda edição brasileira do BPM que, neste ano, trouxe como tema “Força — A urgência do agora! Do sonho à ação”.
Os debates foram divididos em três painéis: Práticas filantrópicas para a equidade racial; Ações afirmativas no ensino superior e empregabilidade e Democracia e equidade racial e as intersecções com economia, desigualdade e desenvolvimento.
O espaço foi dedicado à troca de conhecimentos, saberes, modos de fazer e práticas que levem a caminhos possíveis para a filantropia negra no país.
Práticas filantrópicas para a equidade racial
No primeiro painel, ao lado de representantes da Fundação Ford e do Instituto Ibirapitanga, Mayana Nunes apresentou as boas práticas do grantmaking, estratégia de atuação usada pelo Fundo Brasil que consiste no repasse de recursos financeiros a organizações da sociedade civil, em apoio, para que possam desenvolver o trabalho na defesa dos direitos em suas diversas pautas.
“A gente entende que o grantmaking é a nossa estratégia principal para fortalecer as organizações no campo dos direitos humanos e com foco na questão racial, a partir da necessidade de cada território”, explica Mayana. “Então a gente tem apoiado organizações de mulheres negras, terreiros, casas de matrizes africanas, a discussão sobre o encarceramento em massa no Brasil, também entendendo que a população negra periférica é o principal alvo da violência do Estado e do encarceramento em massa. A gente também tem apoiado a juventude negra, os trabalhadores precarizados, os territórios quilombolas. São programas e projetos desenvolvidos por essas pessoas e esses grupos que garantem a resistência na luta contra o racismo”, detalhou.
As debatedoras convidadas também foram indagadas sobre o papel das fundações no apoio a grupos antirracistas durante a pandemia de Covid-19. “Nesse período, voltamos o nosso olhar para o fortalecimento institucional das organizações e dos ativistas de direitos humanos, entendendo que havia o risco de que as organizações não conseguissem garantir a sua continuidade. Por isso, no pico da pandemia, através de fundos emergenciais para o enfrentamento à pandemia, a gente conseguiu o aporte de R$ 2,5 milhões para defensores e coletivos apoiados. Mas a pandemia ainda não acabou e o nosso apoio continua”.
Mês da Filantropia Negra
Coordenado pelo GIFE, o Black Philanthropy Month é realizado, no Brasil, em parceria com a The WISE Fund. O movimento iniciou nos Estado Unidos, em 2011. Fundado por Jacqueline Copeland, da The WISE Fund, o BPM tem o principal objetivo de investir em ações concretas para a inclusão social de pessoas negras.
Na abertura do evento, Cássio França, secretário-geral do GIFE, falou sobre a necessidade de as organizações estarem unidas — de dentro dos escritórios para fora—, em todo o país, para que a equidade racial seja efetivada em todos os setores da sociedade.
“A gente precisa dizer, com toda a obviedade que transparece, de que não é possível mais as organizações não terem equilíbrio social. Precisa ter diversidade nesse campo. Então, eu convido vocês a continuarem com esse ativismo, mas também a empurrar o investimento social privado. Essa é uma tarefa que o Gife se colocou para ele, mas a gente tem certeza de que a atuação de vocês é fundamental. Por isso, agradeço a presença de vocês no dia de hoje”, destacou Cláudio.
Além do GIFE, a Rede Temática de Equidade Racial é composta por Instituto Unibanco, Instituto Ibirapitanga, Fundação Tide Setubal, Itaú Social, Fundação Roberto Marinho, Open Society Foundation e Ford Foundation.
Edital Enfrentando o racismo a partir da base
Com o objetivo de garantir recursos para grupos e coletivos populares antirracistas liderados por pessoas negras, o Fundo Brasil de Direitos Humanos lançou o edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base 2022
Será doado o valor total de R$ 1 milhão para pelo menos 20 iniciativas de base focadas em defesa de direitos da população negra. Cada grupo pode receber até R$ 50 mil. O edital é realizado com apoio da Warner/Blavatinik Social Justice Fund.
Desde o início da pandemia, o Fundo Brasil tem entendido a necessidade de fortalecer a existência e a sustentabilidade dos grupos apoiados, que enfrentam diversas emergências. Por isso, os recursos deste edital são de natureza flexível, o que significa que podem ser usados da forma como o grupo proponente considerar adequado para garantir a sustentabilidade de suas atividades de promoção e defesa de direitos humanos dentro da pauta do enfrentamento ao racismo.
O resultado do processo de seleção será informado por meio do site do Fundo Brasil a partir de 6 de setembro de 2022.
“Eu tenho um carinho muito grande por esse edital. Mas, para além do trabalho no campo, o Fundo Brasil tem se comprometido, cada vez mais, a trazer a diversidade racial dentro da nossa equipe, que é formada, por exemplo por 70% de mulheres e 50% de pessoas negras. A gente entende que trazer o clima da diversidade na composição da nossa organização, é um primeiro passo fundamental, para a luta antirracista, para a equidade racial. A gente não pode querer apoiar os grupos na luta antirracista se essas pessoas não fizerem parte também das nossas decisões na fundação”, enfatiza Mayana Nunes.