A cabeleireira Vera Lúcia dos Santos tem o hábito semanal de “trocar ideias” com a filha Ana Paula, como fazem muitas mães que gostam de conversar com os filhos. A diferença é que Vera precisa ir ao cemitério para fazer isso. Ana Paula é uma das vítimas dos Crimes de Maio, como ficou conhecido o episódio em que mais de 500 civis foram assassinados no estado de São Paulo após as mortes de policiais provocadas pelo PCC, entre 12 e 20 de maio de 2006.
Aos 20 anos, Ana estava grávida quando foi morta por um homem encapuzado. No dia em que morreu, 15 de maio de 2006, havia ido à maternidade com a mãe para marcar o parto. A neta de Vera, Bianca, nasceria no dia seguinte. Caso tivesse sobrevivido, faria dez anos na próxima segunda-feira.
A jovem grávida saiu de casa para tomar uma vitamina, seu último desejo antes do jejum que faria por causa da cesárea a que seria submetida. Ao lado do marido e de dois amigos, foi abordada por quatro homens encapuzados. O casal foi baleado, Ana caiu, levantou em seguida e tirou o capuz de um dos atiradores. O marido implorou para que a mulher a e filha fossem preservadas. Mas isso não aconteceu. A jovem levou tiros na cabeça e na barriga. O casal e o bebê morreram.
“Cansei de virar número, pasta, tese. Foi isso que minha filha, meu genro e minha neta viraram”, diz Vera. Ela defende que a população “vá para a rua” para reagir contra a violência institucional. “Jovens morrem todos os dias em nosso país”, reforça.
O movimento Mães de Maio luta pela memória, a verdade e a justiça em relação às vítimas dos crimes até hoje não esclarecidos em maio de 2006. É uma rede de mães, familiares e amigos de vítimas da violência institucional.
O Fundo Brasil de Direitos Humanos apoiou o movimento em 2010, 2011 e 2015, neste último ano de forma emergencial para colaborar com o projeto “10 anos dos crimes de maio de 2006: relembrar para que não siga acontecendo”.
“O Fundo Brasil é que alavancou o Mães de Maio”, diz Débora Maria da Silva, fundadora e líder do movimento, lembrando do apoio nos primeiros anos da organização.
Débora, Vera e outras mães percorrem instituições públicas e privadas, promovem manifestações, participam de debates e rodas de conversa e cobram as autoridades sem parar. Relatam perseguições, mas também fazem questão de informar que jamais desistirão.
“Não abaixamos a cabeça para o Estado”, afirma Vera.
Ela e Débora participaram, no dia 4/5, de uma roda de conversa realizada na Matilha Cultural sobre os Crimes de Maio. Falaram para jovens atentos aos depoimentos e deram um recado duro.
“A mãe de vocês pode ser a próxima mãe de maio”.
Fundo Brasil
O Fundo Brasil trabalha para promover os direitos humanos e sensibilizar a sociedade para que apoie iniciativas capazes de gerar novos caminhos e mudanças significativas para o país.
A fundação disponibiliza recursos para o apoio institucional e para atividades de organizações da sociedade civil e de defensores de direitos humanos em todo o território nacional.
Em quase dez anos de atuação, já destinou R$ 11,7 milhões a cerca de 300 projetos em todas as regiões do país.
A garantia do estado de direito e o enfrentamento ao racismo são algumas das temáticas apoiadas pela fundação.
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