Logo após assistir a filha Rafaela conquistar a primeira medalha de ouro para o Brasil nos Jogos Olímpicos Rio 2016, Zenilda Silva fez um forte desabafo, entre lágrimas: “Chamaram ela de macaca. O mundo todo chorou. Agora ela fez o mundo sorrir”, disse ao referir-se a ataques racistas pelas redes sociais depois de derrota olímpica de quatro anos atrás.
A judoca carioca Rafaela Silva sofreu racismo após ser eliminada na primeira luta da Olimpíada de Londres, em 2012. Depois disso, treinou muito, como revelou, para não repetir o sofrimento. Na segunda-feira, dia 8, no Rio, venceu as cinco lutas que disputou pela categoria 57 kg e ganhou a medalha de ouro.
A vitória de Rafaela, uma mulher negra nascida na comunidade Cidade de Deus, no Rio, transformou-se rapidamente em um símbolo do enfrentamento ao racismo. Essa é uma das causas apoiadas pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos e organizações parceiras da fundação manifestaram-se nas redes sociais sobre a importância dessa vitória.
“Mulher, negra, vinda da Cidade de Deus, Rafaela Silva garante o primeiro ouro do Brasil nas Olimpíadas”, comemorou o Levante Popular da Juventude, apoiado por meio do edital “Violência contra a juventude” com o projeto Rede de Enfrentamento ao Extermínio da Juventude.
Para o Movimento Mães de Maio, o ouro conquistado pela judoca é um manifesto pelo respeito às favelas e ao fim do racismo.
“Imagina se, ao invés de remoção, repressão e racismo constante, garantissem respeito, confiança e oportunidade às favelas”, declararam as mães de maio.
No momento, o Movimento Mães de Maio é apoiado pelo Fundo Brasil por meio do projeto “10 anos dos Crimes de Maio 2006 – Relembrar para que não siga acontecendo – Direito à Memória, Verdade, Justiça e à Reparação Plena para as vítimas dos Crimes de Maio de 2006”.
“A cada 17 minutos um(a) jovem negro (a) favelado é assassinado pelo Estado. Quantos outros perdemos? Jovem Negr@ Resiste!! Valeu, Rafaela, valeu CDD (Cidade de Deus)”, disse Fransérgio Goulart, do Fórum de Juventudes, organização apoiada por meio do projeto Jovens Negros: incidência política se faz também com celulares”.
Os ataques racistas de 2012 quase fizeram Rafaela desistir do esporte. Ela precisou do apoio da família, de amigos, de uma psicóloga e do projeto social de que faz parte para continuar.
NãoTáTranquiloNãoTáFavorável
Segundo a Anistia Internacional, o número de mortes causadas pela polícia na cidade do Rio de Janeiro aumentou 103% entre abril e junho de 2016 em comparação com o mesmo período do ano passado.
Desde 2009, quando o Rio se tornou a cidade-sede dos Jogos Olímpicos, a polícia matou mais de 2.600 pessoas na cidade.
Mais da metade dos homicídios no Brasil têm como vítimas pessoas jovens. Nesse grupo, 75% são jovens negros.
Por causa de números como esse, a vitória de Rafaela, uma atleta que resiste ao machismo, ao racismo e à violência contra a juventude, ganha tanta importância.
A violência, o racismo e o machismo fazem parte de um contexto de violações de direitos humanos que levou o Fundo Brasil a lançar a campanha NãoTáTranquiloNãoTáFavorável, que busca a mobilização da sociedade a favor da luta por direitos e de seu próprio fortalecimento.
Há várias formas de participar da mobilização: enviar selfies ou vídeos; criar hashtags ou utilizar as que estão disponíveis no hotsite; baixar imagens para usar no Facebook ou compartilhar a campanha com amigos por meio das redes sociais.
Hoje, uma forma de continuar nessa luta é reconhecer a importante vitória da judoca. Parabéns, Rafaela!