Comemorado em 8 de março desde a década de 1970, o Dia Internacional da Mulher tem importância que vai muito além da distribuição comercial de itens considerados “femininos”, como flores, bombons e produtos de maquiagem. É uma forma de lembrar a luta feminista e mobilizar grupos e coletivos que defendem os direitos das mulheres e brigam por conquistas ainda distantes.
“Não conseguimos nem a metade do que gostaríamos. Tivemos algumas mudanças, mas não uma modificação radical. E surgem novas questões”, afirma Taciana Gouveia, coordenadora de projetos do Fundo Brasil de Direitos Humanos.
Como exemplo, é possível citar os salários desiguais e a falta de preparo de muitas empresas, públicas ou privadas, para lidar com o impacto de situações como a maternidade e a amamentação na carreira das trabalhadoras.
“A dinâmica do trabalho discrimina”, reforça Taciana.
Temas como a liberdade sexual também ainda merecem reflexão.
Homens e mulheres têm a mesma liberdade sexual?
“Desculpe, mas não têm”, opina a coordenadora de projetos. Ela cita como exemplo a forma diferente com que a grande parte das pessoas encara o namoro entre um homem mais velho e uma mulher mais nova e uma mulher mais velha com um homem mais novo.
Além disso, as mulheres seguem sofrendo violência sexual, inclusive em momentos festivos, quando são comuns os relatos de intimidação.
No Carnaval, a ONU Mulheres usou o bom humor para abordar o assunto e prevenir os abusos. Distribuiu “fluxogramas” de paquera em forma de ventarolas para que as mulheres tivessem acesso ao disque-denúncia da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (Ligue 180) nos casos de intimidação.
Os números confirmam a discriminação por gênero e mostram a necessidade de mobilização. O Brasil ocupa o 121º lugar no ranking de participação das mulheres na política. A taxa de desemprego das mulheres é cerca de duas vezes a dos homens. O salário médio para os homens é 30% maior. Os casos de violência sexual chegam a 50 mil por ano.
Fundo Brasil
O direito das mulheres está entre as prioridades do Fundo Brasil de Direitos Humanos, fundação privada e sem fins lucrativos que tem a proposta inovadora de construir mecanismos sustentáveis de apoio a defensores de direitos humanos no país.
A violência doméstica está entre os principais problemas enfrentados por organizações feministas em todo o Brasil.
O Fundo Brasil já apoiou, por exemplo, o projeto Apitaço – Mulheres Enfrentando a Violência, idealizado pelo Grupo de Mulheres Cidadania Feminina, de Recife (PE). Por meio do uso de apitos, mulheres vítimas da violência doméstica ou sexista denunciavam os ataques.
A fundação também sempre apoiou grupos de trabalhadoras domésticas em relação ao enfrentamento das violações de direitos e organização. Um exemplo é a Associação das Trabalhadoras Domésticas de Campina Grande, na Paraíba, formada por mulheres em busca de direitos humanos no trabalho.
Trabalhadoras rurais como as integrantes do Coletivo de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Estado do Maranhão também estão entre os coletivos apoiados pelo Fundo Brasil nos últimos anos.
Outra categoria que merece a atenção da fundação são as trabalhadoras do sexo como as que fazem parte do Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará, cujo projeto apoiado criou um núcleo de comunicação como instrumento de enfrentamento às violações de direitos humanos sofridas na região metropolitana de Belém.
A Associação das Mulheres Indígenas do Município de Tapauá, no Amazonas, foi uma das organizações selecionadas para receber o apoio do Fundo Brasil em 2014. A proposta é valorizar e revitalizar a cultura das mulheres indígenas.
“Procuramos espaço para as mulheres, que não tinham voz no movimento indígena. Começamos sem o apoio governamental e, por meio de um projeto, conseguimos o apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos. O apoio é importante para trabalhar nas questões da sustentabilidade da mulher, saúde, direitos, crianças e adolescentes”, diz Joabe Pereira, uma das líderes da organização.
Campanha
O combate às violações aos direitos da mulher é um dos temas de campanha preparada pelo Fundo Brasil e que será lançada em breve. A campanha conta com a participação dos atores Letícia Sabatella, Jéssica Ellen e Vinícius Romão.
“A cada cinco minutos uma mulher é agredida e a cada duas horas uma mulher é assassinada no nosso país. Há 30 anos esses números só crescem”, afirma Letícia num dos vídeos da campanha.
Para a atriz, esse é um problema de todo mundo e, portanto, homens e mulheres devem atuar para combatê-lo.