Cerca de 800 estudantes dos cursinhos da Uneafro-Brasil – União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora participaram no sábado, dia 1º, do primeiro aulão de 2017, realizado na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco.
A escolha do local ganhou uma importância histórica e simbólica: a Faculdade de Direito acaba de aprovar a adoção de 30% de cotas para negras e negros e estudantes de escolas públicas.
O Fundo Brasil deu apoio emergencial para a realização do aulão, evento que reuniu estudantes das unidades da região metropolitana dos cursinhos.
Os participantes lotaram a sala dos estudantes e ouviram professores e convidados no que a Uneafro define como “maratona de cidadania e conscientização”.
“Esse evento é um aulão, grandão, com temas que são muito importantes. Vai nos provocar a voltar para os cursinhos e falar sobre tudo isso”, disse Douglas Belchior, fundador e professor do movimento Uneafro-Brasil, no início do dia.
Na primeira aula, Tamara Naiz, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, falou sobre o tema “O que é ciência e tecnologia?” com o mote de que a ciência não é neutra. Pode estar a serviço da humanidade ou da guerra.
Ela defendeu que mulheres, negras e negros e gays sejam cientistas e se dediquem a resolver dilemas de quem veio da periferia, de quem tem doenças não tratadas e não apenas do que interessa à indústria.
Após a aula sobre ciência e tecnologia, a cantora e compositora Preta Rara falou sobre a sua experiência de vida e cantou para os estudantes. Ela lembrou da época em que trabalhava como empregada doméstica e ouvia da empregadora que seu lugar no mundo já estava predestinado.
“Um corpo preto incomoda. E a gente está aqui para incomodar mesmo. Porque isso aqui é nosso também”, afirmou. “Já participei de vários rolês aqui, mas nunca vi essa universidade tão preta como hoje”.
Preta Rara saiu do palco muito aplaudida e chorou de emoção.
A segunda aula foi de Guilherme Boulos, do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que falou sobre a situação social do Brasil, com foco na lei de terceirização sancionada pelo governo federal, na reforma da Previdência Social que tramita no Congresso e no desmonte de políticas sociais.
“Querendo ou não, a gente está aceitando”, disse uma das alunas participantes do aulão.
Boulos defendeu manifestações nas ruas e declarou: “Amanhã pode ser tarde”.
Na quarta aula, a ativista Monique Evelle, da organização Desabafo Social, fez um depoimento sobre sua trajetória de resgate da identidade negra e anunciou que foi contratada como repórter do “Profissão Repórter”, programa jornalístico da Rede Globo.
“A gente pode ocupar e criar. Tem que ocupar espaços e criar narrativas”, defendeu.
Na parte final do aulão, o poeta Sergio Vaz e a poeta Luiza Romão fizeram apresentações engajadas, com poesias revolucionárias.
Uma intervenção teatral emocionante marcou o final do evento. O Teatro dos Segundas, grupo formado por estudantes secundaristas que participaram de ocupações de escolas públicas entre 2015 e 2016, apresentaram a performance “Só me convidem para uma revolução onde eu possa dançar”, dirigida por Martha Kiss Perrone.
Eles encenaram manifestações públicas, repressões policiais e fizeram uma homenagem à estudante Maria Eduarda, de 13 anos, atingida por tiros de fuzil durante uma aula de educação física em escola pública do Rio de Janeiro. A suspeita é que os tiros tenham sido disparados pela Polícia Militar.
“Maria Eduarda! Presente”, gritaram.
Veja o texto escrito por Douglas Belchior e vídeos sobre o evento no blog Negro Belchior.
Uneafro
A Uneafro Brasil é um movimento de ação comunitária e educação popular que há quase 10 anos ajuda a escrever histórias de superação na vida de jovens, negros e periféricos.
Como uma organização do movimento negro, enfrenta o racismo, o genocídio, o machismo e as desigualdades econômicas através da ação direta na vida real das pessoas, em nossas próprias comunidades.
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