No Julho das Pretas, as mulheres negras do Grupo Malunga realizaram o encerramento do curso “Democracia: como se faz? Mulheres negras enredam e dão a letra”.
A formação, realizada com apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos, foi voltada para ativistas e integrantes de coletivos e organizações sociais, da luta antirracista.
“A gente queria criar uma formação política e estratégica voltada para a região Centro-Oeste, marcada por desafios como violência, misoginia e conservadorismo político”, explica Weslangila Rodrigues de Souza, coordenadora de projetos do Grupo de Mulheres Negras Malunga.
O curso focou em temas como incidência e formação política, controle social, combate aos discursos de ódio, estratégias de atuação, articulações, relações de poder, controle social, comunicação digital e propostas para o bem viver. “Trouxemos esses enfoques a fim de oferecer uma base para as participantes compreenderem e atuarem efetivamente em suas áreas de interesse”.
Lidinês, de Salvador, participou do curso e entendeu o seu papel dentro do enfrentamento ao racismo. “Quando eu cheguei no curso, eu não conseguia nem me apresentar, eu não conseguia enxergar em qual parte da militância eu estava. E hoje consigo desenhar minha caminhada, me entender como mulher negra e quilombola”, explicou.
Como resultado do curso, Lidinês começou a apoiar a candidatura de mulheres negras e quilombolas em Salvador. “Hoje sei quais são os objetivos que quero alcançar dentro da militância, entendi a importância da incidência política e como podemos trabalhar para construir um mudo melhor para mim, para outras e para nós”.
Centro-Oeste ganha Rede de Mulheres Negras
Ao todo foram seis aulas e seis oficinas, realizadas quinzenalmente de forma online nas aulas do “Democracia: como se faz? Mulheres negras enredam e dão a letra”. O curso teve 86 mulheres inscritas: 42 de Goiás, 27 do Distrito Federal, 7 de Mato Grosso do Sul e 10 de Mato Grosso. Além de outras regiões como Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Tocantins, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Ao longo do curso, a ideia de criar a Rede de Mulheres Negras do Centro-Oeste tomou forma. As participantes reconheceram a necessidade de uma rede de apoio e articulação para enfrentar os desafios regionais e promover a defesa dos direitos humanos, especialmente para mulheres negras.
“É doloroso ver como se dá o peso da balança para determinados segmentos da sociedade, dentre eles nós, mulheres negras. Somos mais cobradas, violentadas e invisibilizadas. Então a gente precisa se fortalecer em rede, entender que a nossa dor nossa é a dor de muitas mulheres negras pelo Brasil. E que essa dor precisa ser enfrentada em rede, com tolerância zero para o racismo. Porque assim somos mais fortes”, diz Cristina Almeida, integrante do Instituto de Mulheres Negras do Amapá.
O lançamento da Rede ocorreu no encerramento do curso, transmitido pelo Youtube. O projeto tem como objetivo estruturar uma rede e fortalecer as organizações de mulheres negras para incidir nas políticas públicas de combate ao racismo, sexismo e outras formas de opressão.
“O evento foi um marco significativo para o fortalecimento das nossas ações e de mobilização de mulheres negras na região, proporcionando um espaço para troca de experiências e articulação de estratégias. Durante o lançamento, nós apresentamos as ações, os desafios e perspectivas que surgiram ao longo do projeto”, conta a coordenadora de projetos.
Os próximos passos para a Rede de Mulheres Negras do Centro-Oeste envolvem o engajamento das pretas do Centro-Oeste para a consolidação das ações iniciadas durante o projeto. “Já estamos pensando em fazer um planejamento estratégico com as organizações e ativistas dos três estados, para que possamos fazer a articulação, a incidência política, o enfrentamento do racismo e, assim, alcançar nossos objetivos. Para isso, estamos no processo de captar recursos. Esse é só o início”, reforça Weslangila Rodrigues.
Malunga no fortalecimento de mulheres negras
O Grupo de Mulheres Negras Malunga foi fundado em 1999 em Goiás. É uma organização dedicada a combater o racismo e o sexismo. Weslangila explica que o grupo nasceu da necessidade de mulheres negras – que participavam do Movimento Negro ligado à Igreja Católica e de outras pretas que atuavam com o movimento feminista branco do estado de Goiás – tinham de falar com sua nossa própria voz.
A missão do Grupo Malunga é contribuir para a construção de uma sociedade fundada em valores de justiça, equidade racial, pautada, primordialmente, na inclusão social das mulheres negras. “O projeto político que pauta as ações do Malunga foi construído coletivamente, objetivando a transformação das mulheres negras em sujeitos políticos engajados/as. Em suma, lutamos pela inclusão e autonomia das mulheres negras, que historicamente estão à margem da sociedade, submetidas a várias formas de discriminação”, finaliza a coordenadora.
O Grupo é apoiado pelo Fundo Brasil no edital Mobilização em Defesa dos Espaços Cívicos e da Democracia, que tem como objetivo apoiar propostas de reconstrução e inovação de espaços de participação e controle social, assim como processos de democratização da sociedade e do Estado brasileiro.
No mês de agosto, a equipe do Fundo Brasil realizou o monitoramento para conhecer de perto as atividades de iniciativas. Com as visitas, a equipe do Fundo Brasil dá continuidade à proposta de monitoramento in loco, por amostragem, das atividades realizadas e oferece apoio técnico aos grupos apoiados. Esses momentos permitem a troca de informações e vivências entre a equipe da fundação e as organizações parceiras, e geram conteúdo que dá subsídio para o planejamento de novas atividades do Fundo Brasil.
“Além do apoio para a formação, com esse recurso conseguimos nos fortalecer institucionalmente e intensificar a nossa articulação política, o fortalecimento das defensoras dos direitos humanos, das comunidades quilombolas. O Fundo Brasil deu o alicerce para o grupo, para que pudéssemos implementar e intensificar nossas ações de incidência política e controle social. A gente agradece demais por esse apoio.