Lideranças da comunidade quilombola São Benedito dos Colocados, em Codó, Maranhão, são ameaçadas de morte desde o dia 21 de julho em uma situação de conflito agrário com um latifundiário local. De acordo com o depoimento de uma dessas lideranças, Valdivino Silva, há pistoleiros circulando na comunidade e intimidando os moradores.
A denúncia sobre as ameaças foi feita pela Cáritas Brasileira, parceira de vários grupos apoiados pelo Fundo Brasil. De acordo com a Cáritas, o latifundiário que teria contratado os jagunços quer expulsar as famílias para lotear e vender parte da área ocupada por quilombolas.
A comunidade ocupa uma área de 544 hectares habitada desde 1870 – antes da Lei Áurea. É certificada pela Fundação Cultural Palmares como território remanescente de quilombo.
“A nossa comunidade tem longa história de resistência e sofrimento”, diz Valdivino. “São Benedito dos Colocados sempre foi massacrado. O avô tirou terras da comunidade e agora o neto ameaça”, completa, referindo-se à família de latifundiários.
Segundo informações divulgadas pela Cáritas Brasileira, o fazendeiro quer levar as famílias para uma área de menor interesse imobiliário com a intenção de lotear pelo menos 300 hectares do território total.
As intimações e ameaças já foram denunciadas para o Ministério Público de Codó e um boletim de ocorrências foi registrado na Delegacia de Polícia de Codó.
“Aqui, quando os fazendeiros prometem matar, matam mesmo”, afirma Valdivino. “Por isso queremos divulgar o que está acontecendo”, explica.
Segundo ele, o latifundiário esteve na comunidade e disse que já havia sido tolerante demais com as famílias quilombolas. Também teria ameaçado voltar acompanhado de pistoleiros, que logo começaram a andar por ali. Jagunços também apareceram nas casas de moradores, perguntaram por lideranças e, de longe, dentro de um carro com vidros fumê, escoltado por duas motos, acompanharam uma reunião da comunidade.
“Eles passam três vezes por dia, sempre com armas pesadas”, conta Valdivino.
As 73 famílias de São Benedito produzem mandioca, arroz, milho e feijão para subsistência. São descendentes de trabalhadoras e trabalhadores submetidos à escravidão nas plantações de algodão da região.
Valdivino é agente Cáritas, faz parte do Movimento Nacional de Economia Solidária, compõe a coordenação estadual da Rede Mandioca e é o presidente do Conselho Regional da Cáritas no Maranhão.