Na semana em que é comemorado o Dia das Mães, o Fundo Brasil conta histórias de mulheres lutadoras. Histórias da maternidade associada à defesa de direitos para todas e todos.
A seguir, o emocionante depoimento da assistente social Malu Genevois sobre sua mãe, Margarida Genevois, uma das instituidoras do Fundo Brasil.
‘Minha mãe sempre atuou em várias frentes. Desde criança, sempre a vi envolvida em trabalhos coletivos na comunidade onde vivia. Na fazenda onde morávamos, implantou um posto de saúde para crianças, organizou um grupo de mulheres e com elas promovia atividades conjuntas, editava e distribuía um jornalzinho, incentivava a dignidade de todas e cada uma. Compartilhava privilégios da educação e cultura, cultivava a solidariedade.
Na esfera da família também. Sempre rodeada de livros, revistas, aberta ao mundo e ao que nele acontecia. Foram marcantes as noitadas em que nos reunia, os quatro filhos, para ouvir sua leitura de um livro, o comentário das ilustrações. E junto disso a beleza de uma casa repleta de flores, a elegância pessoal que sempre a acompanhou, que apreciávamos quando vinha dar aquele “beijo de boa noite”, antes de pegar a estrada para “a cidade”, acompanhando nosso pai.
E assim foi no decorrer do tempo, essas características/atributos se ampliando: agrupar pessoas, colocar em contato, apoiar, divulgar, conhecer. Construir redes. Caminhando junto das pessoas e dos temas do seu tempo. Engajada em semear justiça e paz.
No meu tempo de faculdade, toda a família já morando em São Paulo, tempo marcante que evoca lembranças fortes, sempre tive o seu apoio na minha participação – as manifestações contra a ditadura militar eram frequentes e eu estava engajada nessa luta. Ela militava diariamente na Comissão Justiça e Paz, com D. Paulo Arns, numa pequena sala da Cúria, nas ruas, presídios e nas “europas”, buscando apoios e divulgando informação. E lembro-me do dia em foi comigo a uma passeata em Pinheiros: a polícia chegou prendendo estudantes, corremos por uma travessa, já quase sem saída, quando de uma casa nos chamaram para entrar e ficar escondidas, umas vintes pessoas sentadas no chão. Pois minha mãe pensou em agradecer essa solidariedade e no dia seguinte fomos levar flores para eles.
Olhar atento aos desamparados – de auxilio, incentivo, consolo, e de direitos – aos estrangeiros, os marginalizados, os injustiçados, e os batalhadores, todos esses mobilizam sua atuação. E os amigos sozinhos ela acolhe nos almoços de Páscoa e Natal.
É uma jovem mãe de 94 anos, que tem nome e delicadeza de flor. Falar de uma pessoa conhecida pela sua atuação e considerada uma referência na luta pelos direitos humanos é um desafio! Espero ter transmitido um pouco de seu perfume, sua força e inspiração.’
#MãesDeLuta