
Dia da estreia da série no Cine Odeon, na Cinelândia, Rio (Foto: Raoni N. Dias)
Em um dos episódios da série “Contagem Regressiva”, realizada pela Justiça Global para denunciar violações de direitos humanos no processo de preparação do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos, moradores removidos de suas casas cantam a marchinha carnavalesca “Cidade Maravilhosa” cercados por policiais enquanto suas antigas casas são demolidas.
“Essa é a cidade olímpica”, diz um deles.
A série foi realizada pela Justiça Global em parceria com a produtora Couro de Rato. Dividida em quatro episódios, mostra violações nas remoções de moradores, no controle urbano, na zona portuária e na mobilidade urbana.
Os vídeos foram lançados no final de julho no Cine Odeon, na Cinelândia, região central do Rio, e estão disponíveis na internet.
Episódio 1 – Remoções
Desde 2009 até 2015, 22.059 famílias foram removidas de suas casas, segundo dossiê do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro. O total foi de 77.206 pessoas.
“Estão tirando pessoas da terra onde vivem, com histórias constituídas, que lutaram para fazer suas casas. Como ficarão essas pessoas depois que acabarem as Olimpíadas?”, pergunta Irmã Fátima, líder comunitária da comunidade Estradinha, no primeiro episódio da série.
O episódio mostra que na história do Rio as remoções forçadas são políticas públicas usualmente praticadas contra a população pobre e negra.
Com a preparação para os Jogos Olímpicos, essa política foi acentuada e comunidades foram removidas para dar lugar a parques olímpicos e obras viárias.
Veja o episódio aqui.
Episódio 2 – Controle Urbano
O ativista Deley de Acari, também poeta e animador cultural, conta neste episódio que os problemas em relação ao controle urbano realizado pela polícia aumentaram nos Jogos Pan Americanos de 2007, continuaram na Copa do Mundo de 2014 e agora nas Olimpíadas de 2016.
“Quanto mais essa cidade é uma cidade-espetáculo, para megaeventos, mais ela precisa garantir uma sensação de segurança”, diz. “O Rio hoje é cidade-espetáculo o ano inteiro. E o espetáculo é esse: muitas operações policiais, muita pirotecnia”.
Desde 2009, quando o Rio foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos, até 2015, quase 2.500 pessoas foram mortas por policiais na cidade, segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio.
Uma das moradoras entrevistadas não tem muita esperança de dias melhores para a população pobre e favelada.
“O Pan Americano foi um teste, porrada. Copa, porrada. Olimpíadas, porrada. Vai continuar do mesmo jeito. A intenção é ter uma cidade-modelo, não uma cidade para pobres”, afirma.
Veja o episódio aqui.
Episódio 3 – Zona Portuária
O episódio mostra a descaracterização da zona portuária do Rio com a construção do Porto Maravilha, anunciado como grande obra de recuperação da infraestrutura urbana, dos transportes, do meio ambiente e dos patrimônios histórico e cultural da região, inclusive com a atração de novos moradores para a área de cinco milhões de metros quadrados.
“Desde 2009 a região portuária passa por um processo de elitização e expulsão de negros e pobres”, diz Glaucia Marinho, da Justiça Global.
O processo atingiu ocupações de sem teto, moradores de locais como o Morro da Providência e trabalhadores locais. Entre 2009 e 2015, foram despejadas 535 famílias na zona portuária, de acordo com dados do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio.
Veja o episódio aqui.
Episódio 4 – Mobilidade
O quarto episódio da série mostra moradores sofrendo com a precariedade do transporte público, com ônibus e metrôs lotados, por exemplo.
Segundo Renato Cosentino, do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, uma das formas usadas para propagandear os investimentos em mobilidade urbana foi a “revolução dos transportes”.
A Olimpíada serviu como grande argumento para fazer intervenções sem debate público. Isso gerou uma série de violações de direitos nas áreas de moradia e mobilidade.
A preparação para os megaeventos esportivos significou uma mudança radical nas formas de circular pela cidade, com cortes nas linhas de ônibus e grandes obras que interferiram diretamente na mobilidade.
Além disso, o vídeo mostra a intensificação das políticas de controle do acesso às praias, com jovens negros vindos das favelas sendo alvos de revistas e apreensões segregatórias.
Veja o episódio aqui.
Fundo Brasil
A Justiça Global é parceira do Fundo Brasil e desenvolve o projeto “Prisão provisória e encarceramento em massa no Rio de Janeiro“, por meio da linha de apoio Justiça Criminal / RJ e SP.