Estudante de jornalismo e ativista, Mayra Wapychana, de Boa Vista, em Roraima, vive conectada. Por meio das redes sociais na internet, divulga informações sobre a defesa da causa indígena e faz contatos. É uma comunicadora encarregada de levar às comunidades indígenas de sua região as novidades relativas à busca de direitos. Virou referência.
Mayra foi uma das representantes da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) na 4ª Oficina de Redes do projeto “Fortalecendo o protagonismo de redes e articulações na promoção de direitos humanos no Brasil”, que reuniu ativistas de direitos humanos de todo país nos dias 3, 4 e 5 de novembro em São Paulo. Eles apresentaram as atividades resultantes do projeto realizado pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos, com patrocínio da Petrobras.
Apesar de já usar a tecnologia para facilitar a comunicação entre outros ativistas e também com o público em geral, a estudante de jornalismo conta que a participação no projeto foi fundamental para melhorar o trabalho de comunicação e aproveitar mais os potenciais das novas tecnologias.
Aprendeu principalmente a planejar melhor as campanhas de comunicação, consideradas importantes para os movimentos sociais.
“Saio com bagagem positiva”, disse no encerramento da oficina.
O uso das tecnologias foi um dos destaques dos três dias de aprendizado, troca de experiências e avaliações. As redes formadas por defensores dos direitos humanos mostraram campanhas de comunicação em que a internet é fundamental. Textos, vídeos, ilustrações e cartilhas são divulgados por meio de ferramentas como o Facebook, Twitter, Youtube e o Whatsapp.
Para a Conaq (Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas), a experiência no projeto proporcionou avanços como a ampliação de contatos e o fortalecimento da campanha “O Brasil também é Quilombola”. Por meio das oficinas, os integrantes da rede conseguiram, por exemplo, identificar com mais exatidão o público que querem atingir.
Formas de contato como as proporcionadas pelo WhatsApp, mensageiro gratuito utilizado nos telefones celulares, são usadas pelos moradores de comunidades quilombolas no processo de comunicação entre os ativistas e também com o público externo. Nem sempre é fácil, pois os sinais das redes de telefonia e internet não chegam em todo lugar. Mas eles persistem e conseguem fazer até reuniões usando as ferramentas.
“Recebemos os recados quando passamos em algum lugar em que o sinal funciona”, conta a ativista Isabela da Cruz, da comunidade quilombola Paiol de Telha, no Paraná. De acordo com a avaliação dela, o compartilhamento de informações por meio do uso das novas tecnologias faz com que as informações circulem rapidamente e de forma mais eficiente.
Interação
A internet também é um veículo importante para a campanha “Racismo Mata”, desenvolvida pela rede Enfrentamento ao Genocídio da Juventude Negra.
O site racismomata.org divulga números impressionantes. No Brasil, mais da metade dos homicídios (53%) atinge pessoas jovens. Dentro desse grupo, 75% são jovens negros.
De acordo com a campanha, grande parte dessa violência é promovida pelo poder público. Para a rede, isso e a negação de direitos básicos que atinge a população negra provoca uma situação de genocídio contra a juventude negra.
A plataforma criada na internet reúne subsídios sobre o assunto e é também um espaço para a mobilização e interação. Os ativistas da rede perceberam que informações divulgadas nas redes sociais serviram como fonte para outros movimentos organizados.
O uso de blogs, canal de vídeos e das redes sociais também faz parte da campanha de comunicação divulgada pelo grupo Somos Todos Defensores, formado por militantes da causa dos direitos humanos.
Na campanha desenvolvida pela Ancop (Articulação Nacional dos Comitês da Copa e Olimpíada), uma curiosidade típica desses tempos de comunicação compartilhada: vídeo postado no Youtube conquistou 50 mil visualizações ao ser divulgado pela rede. Em seguida, foi compartilhado por um internauta com uma chamada que incluía as palavras “cenas fortes”, o que proporcionou mais de 300 mil visualizações.
Com a hashtag “Copa para quem?”, os comunicadores divulgaram nas redes sociais as violações a direitos trabalhistas, remoções de moradores e “limpeza” urbana ocorridas por causa da competição esportiva.
A rede de ativistas reunida na causa Enfrentamento às Violências de Gênero também tem uma história interessante para contar sobre o uso das redes sociais. A campanha desenvolvida por eles foi curtida e compartilhada pela presidenta Dilma Rousseff durante o período eleitoral, o que aumentou o alcance do material. Isso ocorreu de forma espontânea, sem significar nenhum engajamento político do grupo.
De forma geral, os ativistas reunidos em grupos temáticos foram para a rua, no corpo a corpo, com suas campanhas de comunicação. Mas também souberam aproveitar o grande potencial da tecnologia e das redes sociais para alcançar o público e mostrar informações importantes sobre as causas que defendem.