Um grupo de ativistas reúne-se nesta sexta-feira (4) e no sábado (5) na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte (MG), para homenagear as vítimas do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), e rejeitar o que definem como modelo de atraso e dependência econômica vigente. Eles também vão exigir justiça.
Com o nome de “Re jeito – o dia que já dura um ano”, a manifestação pública contará com a participação do MovSAM (Movimento pelas Serras e Águas de Minas), grupo apoiado pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos por meio do projeto “Água vale mais do que minério”.
No dia 5 de novembro de 2015, a barragem da mineradora Samarco (Vale/BHP Billiton) rompeu e deixou um rastro de destruição nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Quarenta bilhões de litros de lama causaram as mortes de 19 pessoas, destruíram vilarejos e ecossistemas e poluíram o Rio Doce.
“Não bastasse a impunidade, a mineradora trabalha para maquiar o estrago e reiniciar suas operações utilizando o mesmo sistema de rejeitos. Pior: com o apoio de autoridades do poder público”, afirmam os ativistas que organizam a manifestação.
De acordo com eles, a tragédia de Mariana não é isolada. Nas últimas décadas, a cada dois anos houve um desastre de graves proporções com barragens de rejeitos em Minas Gerais, estado que possui centenas delas.
“E o poder público continua a confiar o monitoramento ambiental às próprias empresas e a licenciar novos empreendimentos em regiões já saturadas”, acusam.
Para os ativistas, o modelo e a intensidade da mineração ameaçam as populações e os territórios de Minas Gerais.
O MovSAM, que faz parte da mobilização, defende a água como direito humano essencial à vida, em contraponto à destruição dos aquíferos pelas mineradoras no Quadrilátero Aquífero/Ferrífero de Minas Gerais.
Maria Teresa Corujo, a Teca, coordenadora do projeto “Água vale mais do que minério”, e o geólogo Paulo Rodrigues, integrante do MovSAM, são dois dos palestrantes do evento. Eles vão falar na sexta-feira, a partir das 19h30.
Dossiê
O MovSAM vai entregar nesta sexta-feira ao professor Léo Heller, relator especial da ONU sobre o Direito Humano à Água e ao Saneamento, o dossiê-denúncia “Sobre ameaças e violações ao direito humano à água no Quadrilátero Ferrífero-Aquífero, Minas Gerais”, resultado do projeto “Água vale mais do que minério”, apoiado pelo Fundo Brasil. O projeto abrangeu os municípios de Mariana, Catas Altas, Santa Bárbara, Sabará, Congonhas, Belo Vale, Raposos, Rio Acima, Sarzedo, Barão de Cocais, Nova Lima, Brumadinho e Ibirité em uma campanha de defesa da água.
A entrega do dossiê está marcada para as 9h30, na Fiocruz, em Belo Horizonte, onde o professor atua como pesquisador.
“As violações do direito humano à água derivadas de empreendimentos de mineração foram relatadas por lideranças e comunidades diretamente afetadas pelos impactos dessa atividade econômica durante os trabalhos de campo”, informa Teca.
A equipe do projeto filmou e fotografou os locais em que o direito à água é violado e, a partir dos registros e das entrevistas, além de pesquisas históricas e socioeconômicas, produziu o documento. A equipe é formada por cientista social, advogado, cineasta, jornalista, designer, geólogo e educadora ambiental.
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