Há 20 anos, o dia 29 de janeiro é o Dia da Visibilidade Trans. A data foi marcada pelo lançamento da campanha Travesti e Respeito, do Ministério da Saúde, em 2004. Naquela ocasião, 27 Travestis e Transexuais ocuparam o Congresso Nacional, em Brasília. Em 2024, a capital federal recebeu uma programação de quatro dias que celebrou a Visibilidade Trans no país. O Fundo Brasil de Direitos Humanos apoiou a mobilização. Organizações apoiadas nos editais da fundação estiveram em Brasília para participar das atividades. A equipe do Fundo Brasil também esteve presente nos eventos que comemoraram as duas décadas de luta pela defesa de direitos da população Trans.
Amanda Camargo, coordenadora de projetos do Labora – Fundo de Apoio ao Trabalho Digno, e Thainá Mamede, assessora de projetos do Fundo Brasil, acompanharam as atividades realizadas por grupos e coletivos apoiados pela fundação, de 27 a 30 de janeiro. A seguir, veja depoimentos e fotos de lideranças das organizações contempladas nos editais Defendendo Direitos LGBTQIA+ 2023 e Fortalecendo Trabalhadores Informais na Luta por Direitos.
Keila Simpson | Presidente da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais)
“Vocês imaginam a importância desse momento? Nós temos várias travestis que estão nesse cartaz, mas que não conseguimos trazer. Algumas morreram, ficaram pelo caminho, mas muitas resistiram e pariram outras resistências que aqui estão. Há 40 anos, eu estava entrando na maioridade e sofrendo essa violência que a gente vê ainda hoje, mas isso nos dá um norte de dizer: “ou recua ou avança”. E aqui está provado que a gente vai avançar cada vez mais, porque não nos resta outra alternativa. Nós temos uma responsabilidade tremenda a partir de agora: completar 60 anos de visibilidade, não mais reclamando de desgraças, mas celebrando vitórias, porque esse momento é vitorioso. A gente enfrentou muitas desgraças nas nossas vidas, mas elas vão ficando pra trás. Quem tá falando isso para vocês é uma senhora travesti que está na iminência de completar 60 anos.”
Wescla Vasconcelos | Fórum Estadual de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro
“O nosso projeto, a nossa organização, a nossa rede tem sido apoiada fortemente pelo Fundo Brasil. Estamos na Marsha Nacional pelos direitos Trans, a primeira edição marcando história depois de 20 anos. Estamos nas ruas lutando por justiça, dignidade e contra a transfobia.”
João Gabriel | Coletivo De Transs pra Frente
“Fazer a mobilização em Brasília na Marsha é um processo muito importante, porque traz uma unidade em nossas pautas e pressiona diretamente no local que é a representatividade do poder para pautar políticas públicas para a população trans. Estamos em um cenário em que o RG é extremamente transfóbico, garantimos um compromisso com as cotas trans em concursos públicos e isso não foi efetivado. Então, estar em Brasília e se mobilizar em unidade, com pessoas de todo o Brasil, naquele espaço extremamente representativo, traz uma pressão muito grande no poder pra gente pautar políticas públicas, mostrar que a gente existe, mostrar que a gente é forte, que a gente está unido e que a gente vai sim brigar politicamente por políticas públicas de forma integral na saúde, na educação, na segurança pública, no trabalho, em todas as esferas.”
Bruna Ravena | ONG Casa de Malhú
“É muito importante o trabalho que o Fundo Brasil vem fazendo. E nesse fortalecimento, seria muito importante que no próximo ano o Fundo Brasil pudesse dar um apoio maior para que essa Marsha crescesse e se tornasse um dos objetivos de fomento, de fortalecimento de vínculos, de conhecimento, capacitação e reparação histórica dentro do Brasil.”
Camila Portela | Distrito Drag
“A transfobia é um projeto político, portanto, fazer esse barulho, essa concentração em frente ao Congresso faz com que a construção de políticas públicas feitas por e para pessoas trans sejam celebradas, é a celebração dessas existências e de suas vitórias, é a mudança do discurso, da nova perspectiva e que essas mudanças sejam sinônimo da efetivação de direitos, viva o traviarcado. É muito importante que a nossa instituição seja apoiada pelo Fundo Brasil e que estejamos apoiando a iniciativa da Marsha e todos os compromissos oriundos desse importante marco histórico. E nos somando nessa construção coletiva com outras iniciativas, o Fundo Brasil tem viabilizado os nossos movimentos e ajudado a redesenhar essa história na defesa dos direitos humanos da população LGBTQIAPN+.”
Juma Santos | Tulipas do Cerrado
“Essa Marsha Trans foi muito importante para a gente dar visibilidade aos nossos corpos, corpos que passam por várias violências. Ter o apoio do Fundo do Brasil, o apoio do Labora é de suma importância poder contar com esses parceiros. Muitas das políticas LGBTQIAP+ não contemplam todos os corpos. Hoje nós, das Tulipas do Cerrado, trabalhamos com corpos trans 60+, que são corpos que passaram por vários tipos de sofrimentos, por vários tipos de violências, que não conseguem entrar em nenhum tipo de rede, nenhum tipo de mercado de trabalho, é uma das cores mais invisibilizadas desse arco-íris. Esses corpos que lutaram tanto, que apanharam tanto para que essas políticas existissem, estão sendo atropeladas, ignoradas pelo Estado. O Labora e o Fundo Brasil veem nos ajudando, trazendo visibilidade, dando condições para que essas mulheres se tornem empreendedoras de suas vidas, já que o mercado de trabalho, já que a sociedade não tem portas para nos aceitar, a gente vem com essa pegada do empreendedorismo, da economia, e isso tudo é uma política pública muito importante para a gente.”