Entre os dias 30 e 31 de março, indígenas, lideranças e organizações representantes das 64 etnias do Amazonas se reuniram na Chácara Abraço Verde, Zona Centro-Sul de Manaus, para discutir e rever estratégias de luta dos povos originários.
Nomeado de Retomada Coletiva do Movimento Indígena do Amazonas, o evento recebeu suporte do Fundo Brasil de Direitos Humanos por meio do Apoio Emergencial – SOS Amazônia.
Durante os dois dias, mais de 440 indígenas debateram as conquistas e os desafios do movimento, a fim de unificar as propostas de políticas públicas que integrarão as reivindicações do Amazonas no 18º Acampamento Terra Livre 2022 (ATL 2022), que começou nesta segunda-feira, dia 4 e vai até 14 de abril em Brasília.
No primeiro dia do encontro em Manaus, os participantes destacaram a importância da retomada como instrumento de construção da união para o fortalecimento da luta e para a formação de jovens que continuem a defesa dos direitos indígenas.
“Manaus também é território indígena: aqui se falam 36 línguas diferentes, temos 47 povos diferentes e isto vem sendo apagado. Esta luta é pelo resgate da história que determina o futuro que vamos construir”, reforçou Marcivana Sateré-Mawé, da Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime).
A presidente do Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena do Amazonas (Foreeia), Alva Rosa Tukano, lembrou que, somente com a unificação das lutas será possível combater o retrocesso em relação às conquistas dos direitos indígenas previstos na Constituição Federal há 33 anos.
“Hoje vivemos um genocídio dos povos indígenas em todo o território brasileiro. Temos sofrido com diversas ameaças, como a falta dos cuidados com a saúde, os garimpos e os desmatamentos em nossos territórios. Vivemos muitos retrocessos nos últimos anos”, destacou Alva Tukano. “Precisamos e vamos continuar lutando pela demarcação de terras indígenas que garantem o acesso do nosso povo à educação, à saúde e outros direitos. Nossa retomada é a união desses esforços para mostrar que não vamos desistir de lutar por nossos povos”, enfatizou.
Já no segundo dia, além das palestras e debates acerca das conquistas e desafios enfrentados pelos povos originários nas áreas de saúde, educação, sustentabilidade e organização política, o evento foi encerrado com a Marcha da Retomada Coletiva dos Povos Indígenas do Amazonas, que saiu do Parque das Laranjeiras em direção ao Sambódromo.
As principais pautas debatidas no acampamento em Manaus serão unificadas em um documento a ser entregue a autoridades do poder executivo e legislativo do Amazonas como forma de oficializar as reivindicações.
Sobre a Retomada Coletiva
O levante da Retomada Coletiva do Movimento Indígena do Amazonas vem sendo articulado e organizado por um grupo formado majoritariamente por mulheres representantes de organizações consolidadas no movimento indígena. O marco inicial foi dado com o grito da I Marcha das Mulheres Indígenas do Amazonas, realizado no dia 08 de março, em Manaus, com o tema “Mulheres Indígenas do Amazonas reescrevendo sua história”, que contou com a participação de aproximadamente 300 pessoas.
O segundo momento foi a mobilização da Retomada Coletiva, com o tema “Protagonismo e autonomia pelo bem viver dos povos indígenas”. As principais pautas e reivindicações do movimento se transformarão ainda na construção coletiva de uma plataforma unificada de luta.
A terceira ação será consolidada com a participação da representação do Amazonas no Acampamento Terra Livre 2022 (ATL 2022), a fim de garantir a abordagem das propostas do Movimento Indígena do Amazonas na plenária da capital federal.
Apoio Emergencial – SOS Amazônia
O apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos à Retomada Coletiva do Movimento Indígena do Amazonas se deu no âmbito do Apoio Emergencial – SOS Amazônia. Essa linha emergencial busca responder rapidamente a pedidos de apoio vindos de organizações indígenas na Amazônia que tenham como objetivo ações contra ameaças a indígenas na defesa de seus direitos e de seus territórios. Os pedidos são analisados por um comitê formado por lideranças indígenas da região, indicados pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), parceira do Fundo Brasil neste apoio emergencial.
O SOS Amazônia apoia iniciativas que visam proteger áreas ameaçadas pelo fogo, por desmatamento e pela atuação de garimpeiros, madeireiros e pescadores; que busquem assegurar a proteção de terras indígenas onde vivem povos isolados sob ameaça iminente; voltadas a garantir a segurança de pessoas e organizações indígenas ameaçadas e vítimas de violência.
Apoio Emergencial – Defensores Indígenas
O Fundo Brasil lançou uma segunda linha emergencial focado em direitos dos povos indígenas. O Fundo Emergencial – Defensores Indígenas é uma linha de apoio emergencial para lideranças indígenas de todo o país que estejam ameaçadas, em situação de risco em função da sua luta em defesa das terras e dos direitos indígenas.
Essa linha é uma parceria do Fundo Brasil com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Tem como foco responder rapidamente a demandas por medidas emergenciais de proteção aos indivíduos, seus familiares, seu círculo mais próximo, a atuação de suas organizações e comunidades que estejam sofrendo ameaças à sua vida e integridade.