As fotógrafas Ludmila Pereira e Carol Paiva são as vencedoras do Concurso Fotográfico do Fundo Brasil 2023 – Construindo Futuros Coletivos. O concurso visa destacar a relevância das imagens para comunicar a luta por direitos humanos, e incentivar as organizações, os grupos e os coletivos da sociedade civil a melhorarem sua capacidade de comunicação nessa linguagem: a fotografia.
A votação aconteceu de 8 a 21 de novembro, foram 2.222 formulários de votação preenchidos. Cada formulário dava direito a votar em 3 imagens diferentes por categoria, 6 votos no total. Desta forma, um total de 13.332 votos foram distribuídos entre 20 imagens, contabilizados na consulta popular.
Na categoria Grupos Apoiados, o grupo Pretas de Angola ficou com o primeiro lugar, somando 1.050 votos, 43,7% do total. A organização de Goiânia (GO) é apoiada no edital Mobilização em Defesa dos Espaços Cívicos e da Democracia 2022. A foto vencedora fez parte da cobertura do grupo na III Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília, que aconteceu em setembro deste ano. “Foi uma foto tirada ao final da marcha, enquanto retornávamos para nossos alojamentos e a mãe indígena retoma uma cena muito comum na marcha, que foi a presença das crianças junto às suas mães. Entendo, então, que a luta pelo futuro é uma luta que ainda precisa ser passada de geração a geração, a luta pelo bem viver vem de estratégias ancestrais do estar em coletivo”, comenta Ludmila.
Na categoria Geral, Carol Paiva ficou com o primeiro lugar. Ela é de Macaé (RJ) e tem um projeto chamado Ojú Odara que retrata a beleza das religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda. “Luto pelo direito da liberdade religiosa, levando através do meu olhar (Oju) a beleza (Odara) que existe na minha fé e no meu caminho da espiritualidade. Lutando para que nossa religião seja vista e livre de rótulos e preconceitos”, diz. A foto foi tirada no seu Ilê, quando duas crianças brincavam no barracão. Essa foi a fotografia mais votada no concurso, recebendo 1.135 votos, 51,1% da votação.
O segundo lugar entre os Grupos Apoiados ficou com a Rede de Mulheres Indígenas do estado do Amazonas – MAKIRA ËTA, apoiada no edital Defensoras/es de direitos humanos: fortalecendo capacidades para proteção e segurança integral 2022. Emanuel Herbert é um dos integrantes da rede e conta que a fotografia premiada foi feita em coletividade, com seis comunicadores indígenas durante a cobertura da III Marcha das Mulheres Indígenas. “Desde que iniciamos a caminhada como jovens comunicadores, nosso objetivo foi justamente comunicar a nossa maneira, comunicar para os nossos por nós, e para os de fora por nós. A escrita da luz passa a ser escrita por nós”, afirma. A organização com sede em Manaus (AM) recebeu 916 votos, 41,2% do total.
Com 899 votos (40,5%), o terceiro lugar foi para Morgana Damásio, da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais na Bahia – AATR/BA. A associação é apoiada na linha de Justiça Criminal, no ano de 2019. Em entrevista para o Fundo Brasil, ela disse que se interessou pelo concurso: “por reconhecer a importância da fotografia para as lutas por equidade social e pela oportunidade de fortalecer narrativas que historicamente foram silenciadas. Ela (a fotografia) cumpre um papel estratégico na denúncia de violações, mas também na valorização da identidade, saberes e fazeres das comunidades”. A foto enviada faz parte do ensaio Mulheres das Águas que foi realizado na comunidade quilombola e pesqueira de Graciosa, em Taperoá, no Baixo Sul da Bahia.
O segundo lugar da categoria Geral foi para Leonardo Felipe Silva, com 1.052 votos (47,3%). Ele expõe seu trabalho no Toda Alma é Raiz, projeto de fotografia documental que busca registrar o cotidiano de pessoas negras. A foto premiada no concurso do Fundo Brasil foi o pontapé inicial do projeto, realizado na periferia de Poços de Caldas, sul de Minas Gerais, com um convite a uma amiga e a avó dela. A proposta foi fazer uma releitura sobre uma imagem simbólica da autora Carolina Maria de Jesus (1914-1977): um amarrar de um lenço. “Amo registrar pessoas e suas realidades; ouvir suas histórias, olhar as fotos e me recordar desses momentos. Sinto que tenho cada pessoa que fotografei guardada comigo”, relata.
A documentarista e fotojornalista Isis Medeiros ficou em terceiro lugar na categoria Geral. Ela teve apenas dois votos de diferença de Leonardo Felipe Silva. Foram 1.050 votos (47,3%) para a mineira de Belo Horizonte. A foto de um ritual de dança das mulheres indígenas Kayapó, do estado do Pará, também foi registrada durante a III Marcha das Mulheres Indígenas. “A maior parte das minhas imagens estão ligadas aos temas coletivos, vi uma oportunidade de levar meu olhar sobre as mulheres guerreiras do povo Kayapó para o concurso, por acreditar que é uma forma de valorizar e dar retorno à essas comunidades”, disse.
Em sua 4ª edição, o Concurso Fotográfico recebeu 474 fotos das cinco regiões do país. Inscreveram-se no prêmio do Fundo Brasil 123 organizações e indivíduos, 31 na categoria Grupos Apoiados e 92 inscrições na categoria Geral. As imagens passaram por uma triagem interna e depois foram analisadas por um comitê de especialistas formado pelos fotógrafos Júlio César Almeida, Richard Wera Mirim e Silia Moan.
O comitê escolheu as dez fotos finalistas para cada categoria que foram submetidas a uma votação popular. Os/As vencedores/as receberão do Fundo Brasil certificados e prêmios: 1º lugar – 01 (uma) máquina fotográfica semiprofissional; 2º e 3º lugares – 01 (um) kit de acessórios fotográficos para celular, composto por tripé, ring light e bastão de selfie. A novidade desta edição é a Menção Honrosa do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos de Campinas, Paulinia, Valinhos, Sumaré e Hortolândia – Sindtid, que também receberá o kit de acessórios fotográficos para celular. O Sindtid enviou fotos históricas em que aparece Laudelina de Campos Melo (1904-1991).
Veja como foi a votação!