Pouco dinheiro, pequenas iniciativas. A proposta do Fundo Brasil de Direitos Humanos (FBDH) de fomentar processos de construção de justiça social no Brasil com um recurso minguado, distribuído em pequenas parcelas de 10 mil a 25 mil reais para organizações de base nas cinco regiões do país, é no mínimo ousada. Mais ainda porque o foco dos financiamentos – o combate às violações de Direitos Humanos -, ainda constitui um problema endêmico que necessitaria uma atenção infinitamente maior do que lhe é dispensada hoje pelo poder público.
A aposta do FBDH numa estratégia que vai na contramão do senso comum “grandes problemas se resolvem com grandes projetos e grandes investimentos” ainda está sendo colocada à prova, mas, a se concluir pelos resultados preliminares do seu primeiro ano de funcionamento, quando foram apoiadas 24 iniciativas em 13 estados e no Distrito Federal (Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Maranhão, Pernambuco, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo, Tocantins e Brasília), o potencial é enorme, afirmaram os coordenadores do Fundo.
Em encontro, nesta quarta (12), com representantes das organizações financiadas, o FBDH recebeu um retorno bastante positivo das atividades realizadas no segundo semestre de 2007, período em que os recursos foram efetivamente disponibilizados. Devido à grande diversidade dos objetos, às peculiaridades das realidades locais e ao fato de que várias iniciativas foram agraciadas, pela primeira vez, por algum recurso financeiro, não houve uma homogeneidade total na execução das propostas e nem todos os cronogramas originais foram mantidos. Por outro lado, porém, a grata surpresa foi a ampliação, em alguns casos, do atendimento e do público-alvo proposto inicialmente. No cômputo final, avaliaram os realizadores, a totalidade dos projetos alcançou ou está alcançando seus objetivos de maneira muito satisfatória para os envolvidos.
Pequeno investimento, grande diferença
À parte do aspecto concreto da eficácia dos projetos e do cumprimento das metas propostas, a intensidade dos relatos dos representantes das organizações de base sobre suas lutas cotidianas, sejam elas junto a comunidades quilombolas, indígenas, de pequenos agricultores, moradores de favelas e das periferias dos grandes centros urbanos, sejam na busca por justiça e na defesa de vítimas de violações como crianças, adolescentes, trabalhadores escravos, mulheres, negros e lideranças sociais, sejam na construção de alternativas sociais, econômicas e culturais, revelou a real dimensão do que, num país onde a maioria das ações sociais é vinculada a enormes dispêndios de dinheiro, poucos recursos bem aplicados podem realizar.
A viabilização de uma estrutura física para acolher dignamente e prestar atendimentos a vítimas de violência e violações no Tocantins, a ampliação geográfica do atendimento a crianças e jovens vítimas de violência do Estado em unidades da Fundação CASA (ex-Febem), em São Paulo, a viabilização de atividades de organização em comunidades do Rio de Janeiro, onde ter o dinheiro para a condução e um lanche faz toda a diferença no trabalho da entidade, a possibilidade de chegar aos rincões do estado no Maranhão para formar agentes multiplicadores sobre direitos e políticas públicas nas comunidades rurais e tradicionais, e até mesmo a possibilidade de produzir material informativo e didático na Bahia, em Pernambuco, na Amazônia, fez a diferença, segundo os realizadores, entre o poder fazer e o não poder.
Ainda é cedo para dimensionar o real alcance, em termos de pessoas beneficiadas, dos R$ 500 mil aplicados pelo FBDH nos projetos de 2007, principalmente porque grande parte deles objetiva efeitos multiplicadores. Ainda em processo de aprimoramento das estratégias de seleção e gerenciamento de projetos e de captação dos recursos, o Fundo teve, porém, a confirmação da eficiência do modelo de financiamento adotado nas respostas dos parceiros, avaliam os coordenadores.
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