Bim Oyoko é o nome político e cultural de Fabrício Tadeu de Paula. O ativista do Fórum das Juventudes da Grande BH utiliza o rap, o skate e a poesia para construir a mobilização e a resistência dos jovens em Minas Gerais. O coletivo é apoiado pelo Fundo Brasil por meio do projeto 8ª A Juventude Okupa a Cidade: onde as quebradas se juntam pelos direitos das juventudes.
Bim, com toda sua irreverência e direito a um rap no final do vídeo, conta sua história no décimo segundo depoimento da série #Defensorxs, realizado pelo Fundo Brasil.
Confira a seguir:
Meu nome político cultural, com a sociedade e a galera que eu colo, é Bim Oyoko, O Bim vem por causa de Fabrício, meus irmãos não conseguiam falar o Bri. Ficou Bim por essa questão de afeto familiar. Depois fui estudando algumas coisas e o Oyoko vem do Império Axante, do século 17. Foi um dos maiores impérios na África e percebi que esse “de” no meu nome é dos processos escravagistas: meus antepassados eram pertencentes à família Paula. Isso me incomoda, até no nome tentam nos colocar como posse de alguma família.
O Clã Oyoko foi um dos grandes clãs do Império Axante – são sete clãs principais. O Clã Oyoko não concordou com a cobrança de tributos e começou a montar mini clãs de resistência para combater.
Nasci na capital de Minas Gerais, Belo Horizonte. Mas desde pequeno fui para a área metropolitana, para a periferia. Nesses espaços com menos acessos a direitos a maioria da população é negra e eu tive que resistir a minha vida toda para estar vivo, para não me tornar só mais um número nas estatísticas.
Adotei esse nome entendendo que sou de resistência.
E também por entender que no século 17 o Brasil, especificamente Minas Gerais, foi o lugar que mais recebeu pessoas escravizadas no mundo.
Coincidentemente, essas pessoas vieram Império Axante, porque era um império conhecedor da arte da mineração.
Hoje eu faço parte do Fórum das Juventudes da Grande BH, a gente trabalha com as juventudes no acesso e proteção a direitos.
O Fórum das Juventudes da Grande BH é uma rede de coletivos e autônomos que trabalha na proteção dos direitos das juventudes. É um movimento social e, nessa perspectiva, começa em 2004, a partir do Observatório das Juventudes da UFMG. Em 2004 nasceu o Estatuto da Juventude, começa a se pensar a juventude como um ser, um cidadão de direitos e o Fórum de Juventudes vem para trabalhar essa perspectiva de políticas públicas.
Em 2008 ele teve um pouco de desmobilização, de desgaste com o poder público, mas ele retorna sempre nessa perspectiva das diversidades das juventudes, que quer trabalhar desde a arte, a cultura, música, mas também incidir em espaços como conferências de juventudes, promotorias de justiças, esses espaços institucionais em que se deve debater e exigir essas políticas públicas de juventude.
O Fórum vê isso através de quatro eixos principais: mobilização, comunicação, incidência política e educação popular.
A gente milita a vida toda, principalmente para quem é preto, favelado, pobre. Milita a vida toda. Só que às vezes não tem essa percepção de militância. O Fórum das Juventudes foi um espaço que me ajudou. Eu faço parte de um coletivo da região metropolitana, em Sarzedo. Chama Nosso Sarau e é um coletivo de poesia marginal. Nesse processo a gente trabalha com educação popular e social com a juventude. É um coletivo que através da poesia vai mostrando as vivências, as realidades.
Me entendi militante através do Fórum das Juventudes, que foi me mostrando esse processo de que a gente estava repassando conhecimento, lutas – essa troca que existia.
É um movimento social, então nessa questão de financeiro talvez seja mais complicado. É resistir, é incidir na cidade com os nossos corpos, os nossos saberes, os nossos fazeres. Mas buscando sempre mais parcerias, mais apoios, mesmo nesse cenário que temos vivido hoje.
A gente entende hoje que fazer para e não com é muito complicado. Temos feito processos formativos em que todo o protagonismo seja da juventude.
Centralizar é muito complicado, é melhor quando a gente consegue ir aos territórios dessas juventudes, estar nesses locais onde eles incidem e muitas vezes são invisibilizados. Esse processo é o de dar visibilidade, protagonismo a esses coletivos em seus territórios.
Muitas vezes as comunidades reclamam que não há acesso a diálogos, a debates, a incidências nesses espaços, mas que esses coletivos têm feito isso.
Então é dar visibilidade, fazer processos formativos, aprender e trocar saberes com eles também.
E esses processos formativos culminam num evento artístico e cultural que ocupa um espaço na cidade e a gente mostra tudo que conseguimos construir.
A poesia marginal, o skate e o hip hop me ajudaram a entender muito o processo de racismo, do meu território e as violências que aconteciam, muita coisa que eu não consegui debater dentro da escola, que é um local muito opressor para mim. Eu consegui dialogar e entender mais dentro dos saraus de poesia, onde as poetas e os poetas trazem essas reflexões. Expandi muito mais o meu senso crítico.
O skate é porque moro dentro da região metropolitana, em Sarzedo, uma cidade muito próxima a Belo Horizonte, mas tem um sentimento de interior. Então essas culturas urbanas, como o skate, são muito criminalizadas. Consegui construir, através do skate, um processo de resistência, de mostrar que existem outras modalidades esportivas. A cultura hip hop é pensar isso.
Sou poeta – me intitulo mais como catador de palavras, sou rapper, então faço parte dessa cultura e de pesquisar e entender como essa cultura incidiu muito na questão do genocídio da juventude negra nos Estados Unidos e vem incidindo muito, através de seus elementos artísticos, em outras quebradas. Ela se espalhou mundialmente.
Quando vou dar oficina de poesia, a primeira coisa que eu chego e pergunto para geral é se gostam de poesia. A maioria diz que não gosta. Mas aí eu mando um rap, eles dizem que gostam e falo: então, rap é poesia.
Entrevista concedida a Cristina Camargo e Simone Nascimento.