O reconhecimento público da luta de Maria Amélia de Almeida Teles, a Amelinha, pela defesa e promoção dos direitos das mulheres acontece segunda-feira, 28 de setembro, na Câmara Municipal paulista. Na sessão solene marcada para as 19h30, a feminista receberá a Medalha Anchieta e Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo. “É uma homenagem coletiva, a homens e mulheres que lutam pelos direitos humanos, pela igualdade salarial entre homens e mulheres, pelo direito à creche, pela democracia”, diz a ativista.
Instituidora do Fundo Brasil de Direitos Humanos, Margarida Genevois concorda com a homenageada: “Hoje é difícil imaginar o clima em que vivíamos no Brasil na década de 1970. Os jornais e o governo exaltavam sem cessar o progresso do Brasil. Aqueles que ousavam denunciar mortes, torturas, desaparecimentos eram considerados esquerdistas e mentirosos. Muitas pessoas deixavam de cumprimentá-los, afastavam-se dos que ousavam criticar o regime como pessoas suspeitas e perigosas. Amelinha faz parte do grupo corajoso que lutava por um ideal de equidade, justiça e liberdade para todos. E há mais de trinta anos persiste nesta luta. Amelinha é um símbolo e uma bandeira!”
Trajetória
À frente da União de Mulheres de São Paulo, Amelinha integra diversos coletivos feministas. Ela acredita que a violência doméstica física e sexual ainda é a principal ameaça às mulheres. Na prática, é dentro de casa, diante da pessoa que ama, que a mulher sofre agressões diárias. Para Amelinha, essa realidade se reproduz na sociedade: “Se dentro da relação de amor e intimidade isso acontece, imagina como essas pessoas se relacionam com os demais.”
Para combater essa realidade, Amelinha pensa grande. Ela enxerga o movimento feminista como um movimento ideológico. A idéia não pode ser transformar só a vida das mulheres. “Antes disso é uma luta política pela construção da democracia entre mulheres e homens de todas as etnias e idades.”
Sua trajetória confirma essa visão. Desde a década de 1970, Amelinha luta em favor das mulheres e da democracia. Em 1979 foi presa por um ano por combater a ditadura. Na década de 1980, esteve na luta pela Constituinte. No início dos anos 2000 colocou em prática no Brasil o reconhecido projeto de promoção de direitos Promotoras Legais Populares.
Fundo Brasil
E ela não para. Aos 64 anos segue acreditando sempre na militância cotidiana pela defesa dos direitos humanos das mulheres. Amelinha está à frente de diversos projetos, entre eles, o “Imigrantes bolivianas no centro de São Paulo e condições de vida e trabalho com destaque para violência de gênero”, financiado pelo Fundo Brasil.
Aprovado no edital 2008 e com conclusão prevista para o mês que vem, trata-se da realização de um levantamento de informações sobre as características sócio-culturais, necessidades de saúde, inclusive sexuais e reprodutivas, condições de moradia e trabalho, relações familiares, processo migratório e aspectos de cidadania e direitos humanos das imigrantes bolivianas. Cerca de 150 mulheres participaram de oficinas e rodas de conversas realizadas em conjunto com a equipe do Centro de Saúde Escola da Barra Funda.
A partir do projeto, Amelinha afirma já sentir necessidade de um próximo trabalho: promover a educação jurídica popular do segmento. Essas jovens mulheres (as mais velhas têm entre 25 e 26 anos) são exploradas diariamente em todos os âmbitos. Chegam a costurar 560 peças de roupas e bolsas em um dia de trabalho para garantir o sustento das famílias e vivem em locais insalubres. Recebem de R$ 0,50 a R$ 1,50 por cada peça que chega a ser revendida a R$ 50 ou R$ 60.
22 anos depois
É por toda história de luta que é pertinente a homenagem oficial à feminista. A medalha foi proposta por Walter Feldman (PSDB), no final do primeiro mandato dele como vereador em 1987. Desencontros de agenda adiaram nos primeiros anos a realização da sessão solene. Depois, o então parlamentar municipal distanciou-se da Câmara, seguindo a trajetória política de ser deputado estadual, federal e secretário de governo. Atualmente ele está à frente da Secretaria Municipal de Esportes.
Foi um reencontro de Feldman e Amelinha em um evento em 2007 que trouxe à tona a possibilidade da homenagem ser concretizada. A ativista estava na Câmara para receber a Maria da Penha – mulher que sofreu agressões do marido durante seis anos, chegando a ficar paraplégica em uma tentativa de homicídio, e cujo nome identifica a lei 11.340/2006 que alterou o Código Penal Brasileiro e fez com que agressores de mulheres fossem presos em flagrante ou tivessem prisão preventiva decretada -, quando conversou com o político sobre a homenagem anunciada há duas décadas. Naquele ano e no seguinte, mais uma vez, a agenda dos dois não coincidiu. A data escolhida então foi 28 de setembro de 2009.
Na cerimônia, também entrega a medalha à Amelinha, o vereador Ítalo Cardoso (PT) que foi o autor da iniciativa de formalizar o evento.
De acordo com a Lei Orgânica do Município e o Regimento Interno da Câmara, essa homenagem é concedida a personalidades dignas da admiração e do respeito da instituição. Cada vereador pode indicar no máximo três pessoas para recebê-la, em cada exercício legislativo.
O Fundo Brasil parabeniza Amelinha pela homenagem que reconhece a sua valiosa contribuição para o respeito aos direitos humanos em nosso país.