Ampliação do protagonismo de ativistas e movimentos sociais por todo o país, surgimento de novos coletivos, fortalecimento de pautas, formação de redes de discussão e cooperação entre organizações. Essas são conquistas que o trabalho do Fundo Brasil de Direitos Humanos ajudou a sociedade civil organizada a alcançar ao longo de 15 anos de atuação, completados em 2021.
Lançada nesta sexta-feira, 21 de dezembro, a publicação Resistindo Com Quem Resiste se propõe a fazer um balanço e apresentar alguns resultados desse trabalho. Faz isso por meio das histórias de grupos, coletivos e organizações apoiadas pelo Fundo Brasil neste período, e cujas atuações, em seus territórios e pautas, ajudaram a transformar vidas e a impulsionar a defesa dos direitos humanos no país.
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Em reportagens que trazem testemunhos e análises de cerca de 30 grupos de defesa de direitos humanos de todo o país, a revista Resistindo Com Quem Resiste aprofunda conversas sobre quatro pautas específicas. “A ampliação do debate racial” reflete sobre o percurso do enfrentamento ao racismo no país e o esforço histórico de mulheres e homens negros em conquistas como as cotas raciais em universidades – lei que, inclusive, será rediscutida em 2022.
“Durante décadas, o movimento negro foi o único a falar sobre o genocídio vivido pela população negra no Brasil” diz a ativista Lúcia Xavier, liderança histórica e coordenadora da ONG Criola. ““A sociedade mudou. Hoje, temos um cenário de antirracismo mais amplo no Brasil”, ela completa.
O fortalecimento de familiares e amigos de pessoas encarceradas e sua organização para denunciar e enfrentar as violências e torturas que o sistema prisional impõe a esta população, bem como o racismo que orienta o superencarceramento, são assuntos abordados em “Justiça a partir da base”. O momento atual é de formação de grupos estaduais dedicados à pauta do desencarceramento, reunidos na Agenda Nacional Pelo Desencarceramento. “Essa aproximação está sendo boa e gratificante porque estamos conseguindo orientar e conscientizar pessoas de seus direitos” , diz Priscila Serra, da Frente Estadual Pelo Desencarceramento do Amazonas (Desencarcera-AM).
Para a desembargadora aposentada Kenarik Boujikian, “o papel do Fundo Brasil é o de fomentar a promoção de direitos humanos para uma população vulnerável, que é a carcerária”. Conselheira do Fundo Brasil, Kenarik aponta que, diante dos desafios atuais, em que projetos de lei querem fazer o país retroceder, é ainda mais importante reconhecer e dar suporte a esse tipo de trabalho. “Essas organizações têm realizado algo de forma tão digna, tão contundente, intensa e apaixonada que acabam sendo o motor da construção dos direitos humanos”, completa.
“Defender as vidas que defendem direitos” aborda um tema grave da atualidade: as ameaças à vida e à integridade de defensoras e defensores de direitos humanos. Essa pauta vem ganhando cada vez mais centralidade no trabalho do Fundo Brasil – um edital para apoio a organizações que queriam aprimorar processos de proteção e segurança de seus ativistas está com inscrições abertas até 4 de fevereiro de 2022. A reportagem mostra, em números, como as lideranças indígenas estão especialmente ameaçadas.
Os desafios impostos ao campo dos direitos humanos pela pandemia de Covid-19 e suas decorrências são abordados em “Primeiro, sobreviver”, reportagem que fecha a publicação. Grupos que se mobilizaram para alimentar pessoas, promover alguma segurança sanitária e salvar vidas, e que foram apoiados pelo Fundo de Apoio Emergencial: Covid-19, têm seus trabalhos apresentados na publicação. Alguns deles, como a Casa Nem, do Rio de Janeiro, e a Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro, no Amazonas, conseguiram até mesmo fomentar alternativas de geração de renda para suas comunidades a partir de pequenos recursos recebidos para o enfrentamento à Covid.
A publicação traz, ainda, uma reflexão ampla de Ana Valéria Araújo, superintendente do Fundo Brasil, sobre a trajetória da fundação em 15 anos. E um ensaio sobre direitos humanos no Brasil de hoje e no futuro, a partir de conversas com os cinco integrantes do Conselho de Administração do Fundo Brasil: Darci Frigo, Jurema Wrneck, Mafoane Odara, Rafale Lins Bezze e Susy Yoshimura.
“Há um movimento qualificado e disposto a construir um futuro alicerçado nos direitos humanos, é o que temos visto nos perfis dos grupos apoiados pelo Fundo Brasil”, reflete Rafael Linz Bezze.
A revista Resistindo Com Quem Resiste tem coordenação editorial de Maitê Freitas, e reportagens de Aline Rodrigues, Camila Lima, Laís Diogo e Thiago Borges, da Periferia em Movimento; Helena Indiara e Naine Terena; Sanara Santos; e Vanessa Cancian.
Direitos humanos em vídeo
As causas abordadas na revista Resistindo Com Quem Resiste foram também tema do Festival Eu Sou Você, um ciclo de debates realizado pelo Fundo Brasil em parceria com o Sesc São Paulo entre os dias 8 e 10 de dezembro.
Em três mesas de debates, com presenças da equipe do Fundo Brasil e de ativistas representando grupos fundamentais para cada uma das pautas, foram abordados os temas “Racismo no Brasil: quem combate no dia a dia?”, “Justiça no Brasil: um sistema que viola direitos?” e “Defensores de Direitos Humanos no Brasil: desafios de lutar pela democracia”.
Assista aos debates:
Racismo no Brasil: quem combate no dia a dia?
Justiça no Brasil: um sistema que viola direitos?
Defensores de Direitos Humanos no Brasil: desafios de lutar pela democracia