Na noite de sexta-feira (6), para celebrar o centenário da mãe Hilda Jitolu, líder espiritual do Bloco Ilê Aiyê, o Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu lançou um selo comemorativo em homenagem à matriarca. O palco de celebração foi o barracão do Acé Jitolu, localizado no Curuzu, em Salvador. Mãe Hilda morreu em 2009, aos 86 anos.
O lançamento do selo, criado pelo artista plástico baiano Wilton Bernardo, contou com a presença de representantes de organizações sociais, autoridades, familiares, celebridades e lideranças de religiões de matriz africana, que foram até o espaço parabenizar a iniciativa da família da ialorixá.
Atores como Regina Cazé, Fábio Assunção e Sophie Charlotte estavam entre os presentes. Além de autoridades, como a deputada estadual reeleita, Olívia Santana, a nova secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais – Sepromi, Angela Guimarães, e Bruno Monteiro, secretário de Cultura do Estado da Bahia.
O Fundo Brasil de Direitos Humanos foi convidado a participar da homenagem, sendo representado pela assessora de projetos Mayana Nunes. A fundação oferece apoio ao Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu, no edital Enfrentando o Racismo a partir da Base 2022, para o fortalecimento institucional da organização.
“O Fundo Brasil já atua no país há 16 anos pela defesa dos direitos humanos. E, ao longo dessa história, estamos fortalecendo e aperfeiçoando ações para o enfrentamento ao racismo junto às organizações do campo. O Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolú desenvolve ações dentro de duas temáticas prioritárias para o Fundo Brasil: o enfrentamento ao racismo religioso e os direitos das mulheres negras”, disse Mayana Nunes durante a abertura da homenagem.
“Além disso, não podemos nos esquecer de que o direito à memória foi retirado da população negra, como um dos vários mecanismos no racismo. Por isso, precisamos exaltar figuras importantes para nossa história, como a mãe Hilda da Jitolu, que tanto fez e que ainda pelo nosso povo negro”, enfatizou a assessora de projetos.
Legado de luta e resistência
Mãe Hilda nasceu em Salvador, no dia 06 de janeiro de 1923, e em 1952 fundou o Terreiro Acé Jitolu, em um dos bairros mais negros da capital baiana, o Curuzu. Foi neste espaço sagrado que ela lutou pelo povo negro. O mesmo local onde nasceu o primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê, com sua grande contribuição. Mãe Hilda é Matriarca do bloco, e foi homenageada diversas vezes pela instituição.
A líder religiosa também é reconhecida pelo importante trabalho social que desenvolveu na comunidade. No mesmo local onde ergueu o seu terreiro, Mãe Hilda fundou uma escola em 1988, que levava seu nome. Assim foi responsável pela formação básica de milhares de crianças do bairro do Curuzu e adjacências, que naquela época não tinham acesso às séries iniciais. Apesar da escola funcionar em um templo religioso, sempre foi aberta à população de forma ampla, independente do credo.
“Celebrar o centenário de Mãe Hilda é fundamental pela importância que ela tem para a cultura baiana e para a religiosidade afro-brasileira. O trabalho dela contribuiu para a formação de crianças da comunidade do Curuzu e Liberdade. Sem ela o Ilê Aiyê não existiria. Ela deu a base para a criação do Ilê. Foi ela quem incentivou os filhos a criarem o primeiro bloco afro do Brasil”, lembra Valéria Lima, neta da religiosa e diretora-executiva do Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu.
Valéria é uma das responsáveis pela fundação, em 2022, do Instituto Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu. A organização feminista negra que tem como pilar a busca pelo acesso a direitos para meninas e mulheres cis e transexuais negras, e cujo objetivo é promover ações integrais, dentro dos princípios do Bem Viver, voltadas para a educação, direitos sociais e direitos humanos.
“A criação do Instituto significa dar continuidade ao trabalho desenvolvido por ela. Estamos aqui para continuar esse legado, para que mais meninas e mulheres tenham autoestima, sejam valorizadas e se sintam pertencentes a esta sociedade tão excludente”, explica Valéria Lima.
A homenagem à mãe Hilda Jitolu contou com o apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos e da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado da Bahia.
“O Fundo Brasil foi determinante para que a gente conseguisse nascer de forma organizada e estruturada enquanto organização social. A gente não tinha nem CNPJ quando o projeto foi aprovado. Então vocês foram determinantes para que a gente conseguisse dar os primeiros passos. O que temos pelo Fundo Brasil são gratidão e um respeito muito grande por terem acreditado e nos ajudado a estruturar este trabalho”, finalizou Valéria.