Desde pequena, Carolina Garcia, 26 anos, estudante de engenharia ambiental e urbana, tem uma forte ligação com a música e com as artes plásticas. Quando era criança, no entanto, eram grandes as dificuldades de acesso ao mundo artístico.
Na adolescência, começou a estudar música e precisou parar por causa das restrições financeiras. Também adorava desenhar e conseguiu uma bolsa de estudos para desenvolver a técnica, mas seis meses depois o benefício acabou e ela não pôde continuar.
Todos esses obstáculos levaram Carolina a ter vontade de contribuir com outros jovens que também têm vontade de se dedicar às artes. Como oficineira de grafite do grupo RAProativo, ela consegue a realização que só os que atuam pelos outros são capazes de sentir. Além do grafite, a estudante também ajuda a cuidar das finanças da organização.
Com a missão de garantir o direito à educação musical e o acesso à cultura no cotidiano das crianças e adolescentes de Pirituba, bairro da periferia de São Paulo, o RAProativo é apoiado pelo Fundo Brasil por meio do projeto “Juventude em Resistência”.
A iniciativa tem o objetivo de despertar a consciência crítica sobre direitos; denunciar a violência das periferias e a omissão institucional. Ocupações artísticas de praças, oficinas de rap, rodas de conversas, debates e articulações fazem parte das atividades do grupo.
“Ter a oportunidade de oferecer às crianças e aos adolescentes um contato com as artes e a música foi o caminho que encontrei para contribuir com a sociedade”, afirma Carolina.
Para ela, o trabalho junto às crianças e aos adolescentes significa amor de verdade.
“Vivo e respiro música. Quando vejo nossos oficineiros compondo, criando melodias, fico inspirada e motivada a continuar”, conta.
Uma das missões do RAProativo é enfrentar o estigma histórico e preconceituoso que marca a periferia. Os estereótipos negativos têm como consequência uma indiferença institucional em relação à violência no dia a dia dos jovens.
Segundo o Atlas da Violência 2017, cada vez mais jovens e negros morrem no Brasil. O documento, elaborado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que desde 1980 está em curso no país um processo gradativo de vitimização letal da juventude. Entre 2005 e 2015, houve um amento de 17,2% na taxa de homicídio de pessoas entre 15 e 29 anos. Mais de 318 mil jovens foram assassinados nesse período.
Nesse cenário e diante de tantas dificuldades enfrentadas no cotidiano, Carolina acha fundamental o engajamento de outras garotas e garotos nas causas sociais.
“Somos muito fortes. E temos muitas possibilidades de impactar a sociedade”, diz.
Na música, o que Carolina mais gosta de fazer é usar a voz, cantar. E a voz, como a história dela mostra, também é um instrumento que utiliza para a construção de um mundo melhor.
Fundo Brasil
Em 2016, momento histórico de protagonismo dos jovens na luta por seus direitos, o Fundo Brasil selecionou 15 projetos com foco no enfrentamento à violência pela juventude. Eles são apoiados por meio do edital específico “Juntos/as contra a violência que mata a juventude brasileira” e estão distribuídos em dez estados brasileiros.
O RAProativo é um desses projetos. Conheça todas as iniciativas aqui.
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