Polícia mata mais do que assassinos em três regiões
Fernanda Aranda e Felipe Werneck, RIO
O Estado de São Paulo, 11/11/2009
As mortes em supostos confrontos com a polícia já são um problema maior do que os homicídios em três regiões do Rio. Segundo os números do Instituto de Segurança Pública, em São Cristóvão/Mangueira, Grande Tijuca e em Copacabana/Leme há mais assassinatos concentrados nas mãos de policiais do que na de civis. Para o diretor do Fundo Brasil de Direitos Humanos e professor da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, Oscar Vilhena, a informação revela que a situação no Rio está totalmente fora de controle. “Não há nenhum indício, em nenhum lugar do mundo, que uma polícia violenta resulta em uma sociedade mais segura.”
O tema também foi discutido entre a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navanethem Pillay, e o governador Sérgio Cabral, na manhã de ontem. Pouco depois do encontro, em visita à Unidade de Policiamento Pacificadora (UPP) no Morro Dona Marta, ela comentou as 10.216 mortes registradas como “autos de resistência” no Estado em 11 anos e 9 meses.
“Levantei minhas preocupações com o governo sobre essas estatísticas. Acredito que sejam 50 mil assassinatos em todo o País, e isso é inaceitável.” Navanethem disse que ficou “satisfeita” com a conversa que teve com Cabral. “Ele foi categórico ao afirmar que não vai tolerar a impunidade nos crimes cometidos por agentes do Estado e está preocupado em pagar salários mais altos para a polícia.” A PM tem um dos mais baixos salários do País, cerca de R$ 900 iniciais. Sobre o fato de a maior média de mortos pela polícia ter sido registrada na atual gestão (3,3 por dia), a representante da ONU disse: “É uma das questões que vim discutir.”
Durante a visita ao morro, Navanethem disse que a polícia realizou ali “grandes avanços”. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, acompanhou a visita. “Não escondemos a questão do narcotráfico. Temos um problema diferente de qualquer outro lugar, mas não vamos ficar sem atuar.”
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