A violência generalizada contra as mulheres, que em muitos casos chega à agressão física, é uma realidade enfrentada diariamente pela Associação Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú no sertão de Pernambuco. A organização é apoiada pelo Fundo Brasil por meio do projeto “Nem com uma flor – Mulheres Organizadas pelo Fim da Violência de Gênero”.
“Muitas vezes é uma violência velada, que acontece no seio da família. Em determinados momentos as mulheres não conseguem nem buscar ajuda”, relata a educadora social Ana Cristina Nobre dos Santos, coordenadora do projeto.
Segundo ela, em muitos casos as mulheres nem percebem a violência, que não é só física. Há pelo menos outras dez formas de agressão: humilhar, xingar e diminuir a autoestima; tirar a liberdade de crença; fazer a mulher achar que está ficando louca; controlar e oprimir; expor a vida íntima; atirar objetos, sacudir e apertar os braços; forçar atos sexuais desconfortáveis; impedir a mulher de prevenir a gravidez ou obriga-la a abortar; controlar o dinheiro ou reter documentos; quebrar objetos da mulher.
Uma realidade que não faz parte apenas do dia a dia das mulheres do sertão pernambucano. A pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, divulgada neste 8 de março pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que uma a cada três brasileiras com 16 anos ou mais foi espancada, xingada, ameaçada, agarrada, perseguida, esfaqueada, empurrada ou chutada nos últimos 12 meses. As entrevistas realizadas com mulheres de todo o país revelam que 29% delas afirmam ter sofrido violência física, verbal ou psicológica no último ano.
Nos 20 municípios em que o projeto “Nem com uma flor” atua e em muitas regiões brasileiras, no entanto, a dura realidade vem acompanhada de um grande desafio: faltam delegacias especializadas e atendimento direcionado às mulheres vítimas da violência.
De acordo com Ana Cristina, sem a abordagem especializada, muitas mulheres têm medo de ir a uma delegacia comum. O resultado é que muitos casos de violência não chegam a ser denunciados.
A formação e a educação são as estratégias utilizadas pela Associação Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, o que inclui a realização de seminários para apresentação do projeto e identificação de lideranças a serem capacitadas; capacitações; oficinas de multiplicação dos conhecimentos e divulgação de boletins informativos.
“Todas as ações são no sentido de fazer com que as mulheres se percebam como pessoas que passam por essa violência e busquem formas de sair disso”, explica a coordenadora da iniciativa. “A violência é um ciclo. As mulheres precisam estar fortalecidas na questão política, entendendo os seus direitos; na questão econômica, porque muitas mulheres não conseguem sair do ciclo da violência porque a renda da família depende muito do companheiro”.
A Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú realiza várias ações no campo da mobilização das mulheres, como atividades políticas e de ocupação de espaços na construção da democracia participativa em conselhos municipais de saúde, educação e desenvolvimento sustentável; implantação de quintais produtivos agroecológicos em comunidades rurais para segurança alimentar e para comercialização do excedente; promoção de intercâmbios e troca de experiências para construção de conhecimentos nas áreas políticas, produtiva e ambiental para as mulheres; formação política para as mulheres no exercício da participação democrática e cidadã, bem como a luta por direitos e combate às desigualdades de gênero.
Fundo Brasil
O Fundo Brasil apoia organizações, grupos e coletivos que denunciam as violações de direitos e enfrentam o sexismo. Salários desiguais, desrespeito aos direitos reprodutivos, baixa representatividade na política, opressão e repressão da liberdade sexual, exploração no trabalho, violência doméstica e sexual são problemas que fazem parte do dia a dia das mulheres brasileiras.
A fundação é independente, sem fins lucrativos, e tem a proposta inovadora de construir mecanismos sustentáveis para destinar recursos a defensores e defensoras de direitos humanos em todas as regiões do pais.
Em dez anos de atuação, o Fundo Brasil já destinou R$ 12 milhões a cerca de 300 projetos em todas as regiões do país. Além da doação de recursos, os projetos selecionados são apoiados por meio de atividades de formação e visitas de monitoramento que fortalecem as organizações de direitos humanos.
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